O Espelho da Verdade-Parte I
O Espelho da Verdade
Algum lugar do interior do Japão,durante o final da Era Edo(Medieval),mais particularmente no ano de 1866, um ano antes da Era Meiji japonesa(Era Moderna) começar,numa pequena aldeia rural:
Narumeshi , em seus dezoito anos de idade, era um adolescente terrível: irresponsável, inconsequente,infantil, extremamente machista, convencido, autoconfiante, e que vivia zombando de tudo e de todos, especialmente das meninas de sua aldeia. Gostava de ridiculariza-las e humilhá-las ,com brincadeiras de mau gosto. Também era extremamente narcisista, se achava lindíssimo, algo com o qual as meninas, a maior parte delas , não concordava neste grau.
Mas tinha lá seus bons atributos: era apesar de tudo, muito inteligente,e tinha uma grande habilidade com a espada, muita agilidade e força física para a luta.
Um belo dia estava indo ele encontrar seus amigos, quando encontrou um grupo de meninas conversando:
-Lá vem aquele chato! Disse uma delas.
-Eu não sei como a Kogyo foi gostar dele, Namya! Ela vive querendo namorá-lo , mas ele a trata com se fosse o cachorro dele!
-Shhhh...vocês duas, ele vem vindo, se ele souber que a Kogyo ama ele, ela está perdida! Fiquem quietas !
-Namya, Kareni, Fushiko! Qual a conversa de comadre de voces três hoje? Parecem galinhas cacarejando uma para a outra! Ahahahahahahahah!
-Vai se catar, moleque, você não cresce não? Gritou, irada, Kareni.
-Haaaaaaaaaaaaan! Olha quanto sangue saido debaixo da Kareni! Ela está naqueles dias !Olha só, gente, ela está naqueles dias!
-Cala essa boca, moleque! Eu nem estou mens...
-Kareni! Não fala! Gritaram as duas em uníssono. Todas as pessoas que por ali passavam ouviram e caíram na risada, e Narumeshi também.
-Você vai nos pagar caro por essa um dia, moleque idiota! Disse Namya.
Uma velhinha, como que aparecida do nada, aproximou-se. Não era da aldeia.
-Deixem ele comigo, crianças! Entao é voce quem vive atormentando as meninas aqui na aldeia, não é? Eu mal acabei de chegar, e todas já me contaram sua história, seu vagabundo!
-Olha! Não é que a múmia fala mesmo? De onde voce veio, peça rara?
-Muito bem, eu vou acabar com seu desprêzo pelas mulheres agora mesmo !
Agora mesmoentendeu ?
-Que vai fazer, vovózinha? Me bater com sua bengala? Ahahahahah! Acho meio difícil, olha como eu sou forte, como sou lindo, maravilhoso, ah, gente, fala a verdade, eu sou o máximo, não é? E voce é uma múmia encarquilhada que esqueceu de morrer, de tão gagá, deve ter namorado pela última vez há uns trezentos anos, mas a uma hora desta já apodreceu tudo! Coisa horrorosa!Ô,bicho feio !
-Não é não! Gritaram as três meninas em uníssono.
-Deixem ele comigo, meninas, ele merece uma lição!
-Mas ele está acabando com a senhora! Disse Fushiko.
-Calma, ele mexeu com a pessoa errada desta vez!
-Como é que é, velhinha? Mexi com a múmia errada?
-Mexeu com a mulher errada, idiota!
-Mulher? Isso aí na minha frente é uma mulher? Só vejo uma caveira!Você já estragou,só serve para lavar roupas agora e olhe lá! Aliás, mulher só serve para as tarefas caseiras,não é mesmo?Mulheres nasceram para serem escravas, e nós ,os Homens,nascemos para sermos os Nobres e sermos servidos por vocês!Ahahahahahah!
-Agora já é demais! Escuta, idiota, voce mexeu com a mulher errada, por que eu sou uma Bruxa!
As três arregalaram os olhos de espanto,e se abraçaram, tremendo de mêdo, mas a velhinha continuou.
-Ah, horrorosa assim, só podia ser uma bruxa velha mesma! Onde está sua vassoura, bruxa feia, enfiou você sabe onde?
-Eu sou Furyoshi Nakasaka, a Bruxa, sou uma bruxa de verdade! Seu grosso, eu já fui jovem e linda como estas três meninas um dia, fique sabendo! Mas pelo seu atrevimento, impertinência, grosseria,e desprêzo, eu vou amaldicoá-lo com a maldicao do Espelho da Verdade!
-Deixa de brincadeira, sua velha, acha que vou acreditar em suas mentiras?Que o quê, você não tem poderes mágicos nem nada!
-Vai, ah, se vai! E como vai ! Vou transformá-lo em uma mulher! Mas a maior crueldade que farei com você não será essa: seu cérebro, sua mente, permanecerão masculinos, e aí você vai sofrer na pele, literalmente tudo o que faz as meninas sofrerem! Akazumberatirarakorera Miretaraturatirakakara Tetei! Estejam ditas as palavras mágicas, e que para sempre voce seja de agora em diante mulher! Com o consentimento do meu Lorde, O Demônio, eu o amaldiçôo para sempre! Que assim seja!
Num primeiro momento, Narumeshi não sentiu nada.
-Eu sabia que era lorota, sua velha!
-Lorota, é? Você logo vai desejar que fosse, e vai ser agora!
Ele entao se sentiu leve, e quando notou, estava flutuando no ar. E suas roupas comecaram a esfarelar-se diante de seus olhos, em instantes estava completamente nú. As meninas caíram na risada,depois de corarem de vergonha. Isto porque na verdade era ele que passava vergonha agora! Mas não foi só isto, seu corpo inteiro começou a doer,um calor percorreu seu corpo, seus pêlos , com excessão do cabelo e pêlos pubianos, caíram todos, sua pele começou a borbulhar, sua genitália secou e esfarelou-se.
Ele berrava de dor a plenos pulmões. A conformação de seu corpo mudou, sua bacia aumentou e mudou de forma, os seios comecaram a despontar, abriu-se uma cavidade entre as pernas, novos orgãos estavam nascendo, outros desapareciam, novos músculos foram criados, outros afinaram, sua estatura diminuiu, suas nádegas cresceram e mudaram de forma, seus cabelos cresceram .A boca, o nariz, as orelhas, tudo mudava de forma e tamanho, ficavam mais delicadas.Os cabelos cresceram, se alongaram e ficaram ainda mais alongados.Toda a genitália masculina foi substituída pela feminina completa, e outros órgãos, como útero,trompa de falópio e ovários, nasceram. A transformação terminou finalmente, e o que flutuava agora era um belíssimo corpo de mulher, morena, com seios grandes, e nádegas esculturais.
-Que nome damos à ela, garotas?Disse a bruxa, orgulhosa de si mesma com seu feito.
As meninas ainda estavam espantadas, e assim que a nova “mulher” parou de flutuar e voltou ao chão, riram desbragadamente,depois bateram palmas, entusiasmadamente. Depois que recuperou o fôlego, Namya disse:
-Vamos chamá-la de Minoko, senhora Nakasaka.
-Que assim seja, agora o feitiço está selado. Ah, ele é irreversivel, uma vez feito não tem mais volta!
Minoko, ex-Narumeshi, olhou para si mesma, e viu seios pendendo firmes de seu peito, e passou a mão por todo corpo, constatando o corpo de mulher. Mal podia acreditar,estava completamente aturdida e surprêsa, e revoltada. Só entao notou que estava nua e todos na rua, homens e mulheres, a viam, ficou envergonhada e corou, tinha vontade de chorar, colocando as mãos sobre a virilha e tentando esconder os seios, e sua angústia era não ter mais mãos para poder esconder também as nádegas generosas.
-Olha só o que você fez comigo, sua idiota!
O tom arrogante de sua voz mostrava que sem dúvidas sua mente, sua psiquê,sua personalidade, continuavam masculinas e machistas.
-Ah, mas você se saiu uma mulher linda, Minoko !Não é mesmo, meninas?
-Eu sou o Narumeshi! Pare com a gozação! Minoko disse, enquanto continuava a tentar se cobrir desesperadamente com as mãos.
-Preciso ir agora, crianças, mas, Minoko, só tem mais umas coisinhas que preciso te dizer antes de ir: a maldicao não tem volta, mas se você se reconhecer à si mesma como mulher, e se aceitar como mulher, sua mente passará a ser feminina também ,e você será uma mulher completa. Por enquanto, e até lá, não menstruará, nem poderá engravidar,está vendo como fui boazinha com você? E em segundo lugar, vou te dar de presente este pequeno espelho mágico de mão, o Espelho da Verdade. Ele a mostrará como mulher ou homem, conforme a vontade do próprio espelho, suas necessidades, e como estiver se sentindo, não necessariamente nesta ordem. Mostrará a você não necessáriamente a verdade, as vezes lhe mostrará a verdade como você gostaria que ela fosse, outras vezes, a verdade que você imagina das coisas e de si mesma, e outras vezes ainda ,a pura e real verdade,só que você nunca vai saber qual a verdade que ele estará te mostrando, caberá a você advinhar! Mas voce podera usá-lo para tentar provar ser quem você é, ou quem pensa que é, embora seja arriscado, pois nem sempre o espelho da verdade revelará aos outros e a você a verdade que você quer, ou mesmo a verdade real,mas a verdade que ele quiser. Tome. Agora, crianças, levem-na para suas casas, e dêem roupas para esta pobre alma para sempre amaldiçoada não ficar pelada por aí. Tome , Minoko, use meu xale por enquanto.
Minoko jogou o xale dela no chão, furiosa:
-Eu não quero nem preciso de seus andrajos, velha nojenta,nem de sua piedade,urubu agourento!
-Ah, não precisa?Seja estuprada então, a rua está cheia de homens que adorariam fazer isto com você agora!E eu adoraria poder ver esta cena!Você não achava que mulheres nasceram para serem escravas e fazer as tarefas domésticas?Agora você é mulher, então vá ser uma escrava e trabalhar, ou se prostitua então, vou gostar de ver você sentir na pele a dureza de ser mulher! Pensa que é fácil?Pensa que é mole?Você ainda não viu nada, garota!Ahahahahahahahahah!É doce a dose do seu próprio remédio?Ahahahahahahahahah!Agora vou continuar minha viagem, adeus à todas!
Tão de repente quanto apareceu, a bruxa desapareceu.
-Espere, espere, velha estúpida! Desfaça o que fez! Eu vou matá-la, desgraçada!Desgraçada, desgra....buáaaaaaaaaaaaa!
E Minoko sentou-se no chão, com as mãos no rosto, chorando profusamente, humilhada até o âmago de sua alma!
As meninas acabaram se condoendo dela e a abraçaram.
-Deixa para lá, Minoko, venha conosco!Você não deveria ter mexido com a bruxa, olhe o que te aconteceu! Mas nós vamos ser suas amigas de agora em diante e vamos apoiá-la,viu?
-O que você está dizendo, Fushiko? Eu ir com vocês?Está louca? Eu preciso ir ver meus amigos!
-Mas agora voce é mulher, sua boba! Você quer ir encontra-los lá , pelada?Você ainda não entendeu que agora você é mulher?Agora ir atrás deles pode ser perigoso, muito perigoso,eles não vão te aceitar e vão te tratar como uma prostituta!Disse divertida, Namya.
-Brinca, brinca com a minha desgraça, viu?Eu estou morto, minha vida acabou, isto aqui é o inferno, eu...eu só posso estar sonhando, tendo um pesadelo, sei lá...
-E não quer gozações , agora que está do outro lado? Viu como dói?Acorda, você agora não é mais Narumeshi, é Minoko,isto aqui é a realidade, é real,entenda, aceite!
-Que droga! Que droga, ela não podia fazer isto comigo! Mas porquê vocês querem me ajudar,Kareni?
-Eu sei que você não merece, mas você vai descobrir que nós mulheres somos muito solidárias entre nós, e depois a Senhora Nakasaka pediu também. Venha, Minoko, nós vamos te ensinar a se comportar como mulher, não vai ser difícil! E pare de ficar se lamentando, até que ela foi muito boazinha com você, pois voce ficou um mulherão, não é , meninas?
As duas outras concordaram , dando risadinhas.
Enfim chegaram a casa de Fushiko, que tinha pais desaparecidos e morava sózinha. No quarto dela, Minoko se olhou no espelho.
-Você veio o tempo todo dizendo que estavámos zombando de você quando dissemos que você ficou linda, olhe agora, veja você mesma!
Minoko tinha de concordar com Kareni, agora ela estava linda, e tinha um corpo de mulher absolutamente escultural. Lágrimas correram de seus olhos.
Sentia-se uma prisioneira, uma mente masculina presa a um corpo feminino, enjaulada, indefesa, impotente, escrava do próprio corpo, e a consciência de que ficaria assim para sempre a deprimia mais ainda,a angústia lhe vinha em ondas poderosas e tomava conta de sua mente. Agora ela entendia o tamanho da crueldade da bruxa, cuja condenação ela sentia como pior que a morte, a humilhação total!
Ver no espelho aquele corpo feminino escultural,maravilhoso,jovem,de uma moça de dezoito anos,era-lhe uma tortura, era cruel demais, lhe doía demais o coração!
As três a ampararam, e ela chorou tudo o que pôde, e depois de controlar-se, elas escolheram roupas para ela.
-Tome , vista esta roupa de baixo, e este kimono. Use estes tamancos de madeira também.
-Você está brincando, Namya! Eu, vestir estas coisas? De jeito nenhum!
-Ah, você vai sim, nem que for à força, sua idiota! Deixe de ser machista! Você ainda não se aceita como mulher até agora, não é?
-Eu não vou nãaaaaaaaaaaao! Droga!
-Segurem-na, meninas. Vamos ter de pôr as roupas na boneca à forca!
-Nãaaaaaaaaaaaaaaooooo!
As duas riram muito do que Namya disse, e a seguraram firme, enquanto ela colocava as roupas nela.
-Pronto, agora sim! Agora olhe-se no espelho, não está bonita?
-Fushiko,eu não consigo deixar de estranhar este pêso na altura do peito...
-Não é nada, logo voce acostuma , são seus seios.
-Preciso ir ver meus amigos! Estou atrasado!
-Eu não iria se fosse você, eles vão estranhar!Eu estou falando, deixa de ser teimosa, estou dizendo que eles não vão acreditar em você!
-Pois é, Namya, a aldeia toda já deve estar sabendo agora! Quem mandou mexer com quem não devia?Ouça o que a gente está dizendo, Minoko, nós é que somos suas amigas agora,é para o seu bem!Não vá atrás deles,ou você irá se arrepender!Você vai se dar mal se for encontrá-los!Enfatizou Fushiko.
-O quê que eu dizer para os meus pais? Oh,não! E agora, se meus amigos estiverem mesmo sabendo? Eles vão cair na risada! Eu preciso fugir! Fugir daqui!
-Isto não é nada, e a Kogyo, quando souber? Ela ficou de chegar de viagem amanhã, nem está sabendo de nada...
-Fushiko! Você falou demais !Disseram as outras duas.
-Ah,aí tem coisa! O que que tem a Kogyo? Digam agora!
-Ela te ama, ou melhor, ama o Narumeshi, vivia querendo te namorar, mas você nem dava bola para ela!
-Ah, não ! Ficou pior ainda...eu vivia querendo fazer amor com ela..ops, quer dizer, ih, falei demais também !
-Ah, confessou, heim? Só que agora, queridinha, você é quem vai ser a parte passiva da coisa,e vai ter de receber os homens dentro de você, no seu íntimo mais íntimo, vai ver o que é bom para a tosse! Disse Kareni.
-Eu não ! Ninguém vai fazer isto comigo, não ! Eu não vou para a cama com homem nenhum ! Nenhum, ouviu?Não farei sexo com mais ninguém , nunca mais na minha vida!
-Vai ser muito engraçado quando o corpo dela ficar excitado e sentir atração sexual por algum cara por aí, aquela bruxa foi muito inteligente, não poderia ter dado um castigo pior!
-Não seja cruel, Fushiko, deixe ela em paz!
-Obrigado, Namya.Que droga, agora que eu poderia levar a Kogyo para a cama, me transformam em mulher, que droga! E o pior é que eu também gosto dela!
-Como é que é? Você gosta dela?
-Sempre amei ela, Kareni, eu estou apaixonado por ela, já faz um tempo,é que eu não podia demonstrar públicamente, ou meus amigos iriam cair na gozação comigo,eu tinha de manter minha imagem, meu orgulho...
As três abanaram as cabeças, agora a situação era grave!
-Mas agora voce é mulher, não pode se apaixonar por ela! Mas porque você a tratava tão mal?
-Porque, além do que eu já disse, eu não sabia como conquistá-la,e tinha mêdo de ser rejeitado, Fushiko. Agora é que não sei mesmo...
-Então só vejo uma solução possível:você tornar-se lésbica!Bom,por ora você dorme aqui em casa, teremos muito para resolver. Vou pegar um futon para você dormir na sala.
-Nem pensar! Não, o que eu estou dizendo?Xii,e agora? Nem sei...Não posso dormir na sua cama, Fushiko?
-Claro que não, sua mente ainda é masculina, esqueceu? Agora dê licença que nós temos que tomar banho e nos trocar.
-Aaaaah...A decepção de Minoko era expressiva.
-Ah, o quê?Não te falei que sua mente é masculina, sua pervertida?Você quer é agarrar a gente no banho!Não mesmo !Pensa que só porque agora você tem corpo de mulher você pode ficar tomando banho com a gente, vendo a gente pelada,se trocar com a gente, dormir na mesma cama com a gente, é?Pode esquecer, está bom?E se reclamar, vai apanhar !
Fushiko estava bem brava agora, e um pouco envergonhada também.
Batidas na porta da frente, Namya atendeu:
-Esqueceram esta espada no meio da rua.
-Ah, Obrigada, Senhora Tsukara.
-Eu vi o que aconteceu, estou horrorizada, nem quero ver o que os pais do Narumeshi vão dizer...
-O pior é que eles vão acabar sabendo, esta aldeia é muito pequenininha, aqui a senhora sabe, os boatos correm à boca larga,nem eu sei o que será dela agora...Mas muito obrigada pela lembrança, Sra. Tsukara. Tenha uma boa noite, até logo!
Minoko apareceu:
-Minha espada! Que bom ! Eu adoro minha espada! Eeei, eu ainda sei manejá-la como antes! Ao menos posso me defender!
-Mulheres não usam espadas, pega mal, vai ter de esquecê-la, minha amiga.
-De jeito nenhum! Mas eu não tinha idéia que ela fosse tão pesada!
Mas enquanto isto, a notícia correu solta na aldeia.
Os amigos de Narumeshi/Minoko souberam e caíram na risada. Resolveram ir à casa de Fushiko agitar as coisas e ver se o boato era verdadeiro. Não eram verdadeiros amigos, pois iriam abandonar a amizade dele, agora que a sorte dele tinha mudado.
Logo batidas na porta estavam sendo ouvidas novamente. Mas Fushiko já estava no banho, e as outras meninas também.
Minoko atendeu:
-Aaaaaaaaaaaahn!
-Ai, a boneca levou susto, é? Que vergonha, heim, Narumeshi? E olha só que corpinho que você tem agora!
Os outros amigos assoviaram com desprêzo, todos ao mesmo tempo.
-Ora, Futuma, cale a boca, e vocês também! Vão me abandonar agora, que caí em desgraça?
-Olha o kimono dela! Mostra o que tem por baixo, mostra! Gente, vamos passar a mão nela!
-Pára com isto, Yegashi! Ninguém vai me tocar! Eu posso estar com corpo de mulher, mas ainda sei me defender muito bem, e todos vocês sabem bem que sou muito melhor espadachim do que vocês, seus incompetentes!
-Ah, é assim,não é? Eu já te toquei, e aí?Respondeu Futuma,passando a mão e apertando os seios dela.
-Tira a mão daí! Gritou Minoko,envergonhada, cruzando os braços na frente dos seios.
Outro se aproximou e afundou os dedos na virilha dela.
Uma rápida reação desencadeou-se, sem controle no corpo de Minoko,onde a virilha imediatamente se umedeceu,os mamilos endureceram a ponto de doer e ela soltou um gritinho de prazer:
-Aaaiiiiiiiiiiiiiihhh!
E o rubor da vergonha imediatamente tomou conta de seu rosto, ela estava a ponto de perder o controle, mas com muito esfôrço se conteve e a fúria lhe subiu a cabeça.
Minoko desembainhou a espada.
-Huuum, a gatinha manhosa quer fazer amor com todos nós...wooow!Disse outro rapaz, irônico e pervertido.
Minoko ficou com ainda mais raiva e vergonha!Colocou-se em posição de ataque, olhar de águia e cerrou os dentes, rosnando alto.
-Ai, ai, ai, a gatinha está mostrando suas garras! Vamos dar uma surra nela!
Disse Futuma.
Minoko nem respondeu, avançou com a espada, em golpes velocícimos, e desarmou Futuma, cortando o porrete que ele tinha na mão em dois.
Todos sacaram suas espadas, mas a agilidade e leveza de Minoko a tornava ainda mais ágil com a espada, desarmando fácilmente todos os seus adversários,mas, aproveitando um lapso de distração, Yegashi a agarrou por trás e encoxou nela com força, agarrando os seios dela até doerem.
-Me larga! Desgraçado! Minoko pisou forte no pé dele, que a largou, a espada rebrilhou veloz e fez um corte feio no peito dele, mas que só rasgou músculos. Mas, ainda assim, o sangue correu, vermelho.
Assustados com a ferocidade dela, que por pouco não mata um deles, eles todos fugiram.
Minoko caiu sentada na soleira da porta, exausta. Seu kimono agora estava arruinado, todo rasgado.
Começou a chorar. Já não tinha mais a fôrça física e a resistência de antigamente, e perdera seus amigos, sentia que a aldeia toda estava contra ela!
Fushiko saiu do quarto, já vestida, e socorreu Minoko, que contou o ocorrido.
-Aqueles desgraçados! Ainda bem que você se defendeu,amiga, mas agora pode ter arranjado mais encrencas. Mas bem que o Yegashi teve o que merecia! Venha para dentro, eu arranjo outra roupa para você.E você, querendo ir encontrar os seus amigos...nós não te falamos, não te avisamos que isto poderia ter graves consequencias?
Minoko estava desolada, e o pior é que se sentia aterrada ao lembrar que sentiu desejo quando Yegashi a agarrou. Estava absolutamente confusa e traumatizada!
Ela chorava tanto que Fushiko deve dó de deixa-la dormir sozinha na sala.As outras meninas também se compadeceram dela e a abraçaram forte e Minoko sofria, ainda que amparada,chorando desatinadamente.Depois que finalmente conseguiu se recompor, as outras meninas foram embora para casa.
-Você vai dormir comigo. Mas não quero saber de mão boba, entendeu? Se você me tocar um fio de cabelo eu te expulso aqui de casa, entendeu? Coloque este roupão, vamos dormir. Mas é dormir mesmo, entendeu?
Deitaram-se na cama e cada uma ficou de costas uma para a outra. Mas Minoko não conseguia dormir sua primeira noite feminina.
Mas não tinha cabeça para mão boba,já que fora vítima de uma, e estava confusa e preocupada demais e o sono não lhe vinha. Não sabia o que esperar dos pais, nem de seus irmãos, nem muito menos de Kogyo. Não conseguia identificar-se, saber se era homem ou mulher, como deveria se comportar. Mas sabia que precisava fugir, pois ali todos sabiam a sua condição, e ela temia que a intolerância do povo ignaro mais cedo ou mais tarde ocorreria.
Finalmente adormeceu,vencida pelo cansaço.E sonhou.
Em seu sonho, estava num espaço vazio e negro como a noite, e estava como Narumeshi, com seu corpo masculino, e ele chorava copiosamente.Então sentiu uma mão macia e carinhosa acariciar-lhe o cabelo, olhou para cima, ajoelhado que estava,e deparou-se com Minoko.Sua primeira reação foi de admiração ,a segunda , de desejo e atração sexual.
-Não é só você que está triste assim,Narumeshi...eu..eu também!Eu apareci na sua vida,não, na verdade sempre estive com você, pequenininha, fraca, indefesa,mas a bruxa me resgatou, e cresci em sua mente, doei meu corpo para você,mas vejo que está infeliz, lutando contra mim...
-Minoko, aquela bruxa, ela...ela acabou comigo,eu estou me sentindo um lixo,eu já não sei mais quem sou,eu...eu quero voltar a ser quem eu era, eu não sou feliz assim,minha vida acabou,sou menos do que nada,que droga...
Minoko começou a chorar:
-Você não gosta de mim! Você me rejeita!Eu sou menos que lixo, menos que nada para você,eu só consigo te fazer infeliz, eu ...eu sou culpada por você ser infeliz!Você não me queeeer...buaaaá!
E chorou copiosamente.
Narumeshi então a abraçou.
-Desculpe, Minoko, eu...eu sempre fui muito injusto com você, sempre a maltratei, rejeitei, ignorei, eu sei que a culpa não é sua...eu a quero sim, nós agora fazemos parte um do outro...é que achei que você estivesse querendo ocupar o meu lugar...
-Não, não é isto, podemos..podemos nos dar bem, cooperar..semos amigos..por favor..
-Eu aceito!Amigos,Minoko, está bem?
-Obrigada, você é um amor, agora estou feliz!
E Minoko lhe beijou a face.Então ela acordou de seu sonho.
Embora a noite estivesse fresca, estava suando. Resolveu tomar um banho.
Despiu-se inteiramente e sentou-se na banheira. Comecou a ensaboar-se.
Então notou que suas mãos percorriam um delicado corpo feminino e tomou consciência de há muito não sentia a maciêz e suavidade de um seio, o toque sensual da pele feminina, a sensação gostosa de acariciar os pêlo pubianos, a sensação única de sentir a maciêz firme de nádegas femininas. Logo se tocou que aquelas eram sensações de um ponto de vista masculino, que tivesse um corpo feminino à sua disposição para explorar à vontade. E começou com a mão boba em si mesma!
Dali há pouco começou a soltar gritinhos de prazer!
Acordada pelos gritos e barulho da água, Fushiko acordou e foi ao banheiro ver o que estava acontecendo..
-Mas que nojo! Que bagunça, Minoko! Droga, voce sujou toda a escova! Você não a colocou dentro da..ah, não, pelo cheiro, colocou mesmo, voccê é louca, sua pervertida!Vou ter de comprar outra para mim agora! Limpe toda esta bagunça!
Minoko encolheu-se toda, envergonhada. Não podia acreditar no que tinha acontecido. Levantou-se, enxugou-se, e limpou o banheiro. Voltou para a cama. No dia seguinte, contou o ocorrido à Fushiko, que ficou espantada.
Logo apos o café da manhã, as outras meninas chegaram, com novidades:
-A Kogyo chegou agora há pouco de viagem, gente! Minoko, acho melhor voce ir lá e contar tudo à ela, ela ainda não sabe de nada, pois ninguém teve coragem de contar.
-Entao é o jeito,Karemi. Terei de ir lá, enfrentá-la.
-Nós a acompanharemos.
-Eu colocarei minha espada por baixo do kimono feminino, o povo pode ser agressivo comigo.
-Huuum, já está aceitando colocar kimono feminino... muito bem!
-Não faça gozacões comigo, Namya ! É sério! Acho que logo terei de fugir daqui.
Alguem bateu na porta. Fushiko atendeu:
-Onde está Narumeshi, Minoko, sei lá.. meu irmão, quer dizer , minha irmã, nem sei mais agora...
-Susumi ! Minha irmã!
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah! E Susumi ,depois do enorme susto e espanto, e arregalar os olhos até cansar, mal acreditando no que estava vendo,desandou a chorar e abraçou Minoko.
-Sentiu minha falta, irmãzinha?
-Senti sim, fiquei muito triste ao saber o que aquela bruxa malvada fez com você!Puxa, você nunca foi gentil assim comigo antes, nunca me chamou de irmãzinha,onii-chan!Ou oneee-chan?Ai, nem sei mais !Só me dava patadas, você mudou mesmo !
-Tudo bem, Susumi-neee-chan, não precisa chorar. Não tem mais jeito, serei assim para sempre, não há o que fazer, mas continuarei seu irmão. Meu cerebro ainda é masculino, ok? E o Tamei, o papai e a mamãe?
-O Tamei ainda é muito pequeno para entender estas coisas, tem só três anos, lembra? Mas ele diz que você é irmao dele e acabou. A mamãe chorou muito, mas disse que a receberá de braços abertos. O papai não aceita de jeito nenhum, dizendo que voce não é mais filho dele, e que ele acaba de perder um filho, aí a mamae diz que em compensação, eles acabam de ganhar uma filha. Mas acho bom você não aparecer em casa por enquanto, o papai não perdoa , e diz que quer te dar uma surra! As coisas andam muito tensas em casa,onii-chan!
A tristeza estava estampada no rosto da menina de quatorze anos. Minoko a abraçou com força, e ambas choraram juntas. Depois de se recompor, Minoko disse:
-Olha, onee-chan, eu sei que as coisas estão um bocado confusas para você, mas por enquanto, na frente de todo mundo, me chame de Minoko-onee-chan, só me trate como Narumeshi quando estivermos a sós e ninguém estiver olhando. Agora vou à casa da Kogyo, pois ela me ama, e eu a amo também, embora eu nunca tenha confessado à ela,mas ela ainda não sabe de nada do que me aconteceu. Vou ter de enfrentá-la.As meninas vão me acompanhar até a porta, quer vir conosco também?
-Eu quero!Eu sabia que você tinha uma quedinha pela Kogyo,oniii,quer dizer, oneee-chan! Ah, gostei da surra que você deu naqueles meninos! Você continua forte e valente como sempre!E,por favor não fique brava comigo, mas você ficou linda como mulher!Já era um rapaz lindo, agora está deslumbrante!
-Ahaaam!Obrigado, quero dizer, obrigada,Susumi-nee-chan.Ainda não acostumei com estas coisas ! Pois bem, vamos lá?
Todas se reuniram e foram à casa de Kogyo.
-Oi, Kogyo !
-Oi, Susumi ! Oi, Fushiko, nossa, quanta gente veio me visitar! Ah, mas e você? Você é nova aqui? Eu não a conheço ainda!É amiga de vocês?
-Sim, e sua também. Ela se chama Minoko. E precisa ter uma conversa a sós com você.
-Minhaamiga? Mas..bom, mas porquê uma conversa particular,Fushiko?
-É por que é um assunto meio embaraçoso, sabe...
-Huuuum...ei, espere aí... vai me dizer que esta grávida do Narumeshi? Se eu pego ele....
-Não, não, nada à ver com isto!
-Tudo bem, Minoko, vamos entrar então. Tem alguma coisa errada aqui e quero saber já, e aposto como o Narumeshi está envolvido!Ei, será...vai dizer que vocês estão namorando?
-Não, nada disto!Tem a ver com o Narumeshi sim, mas não tem nada a ver com isto!
-Bom, nós já vamos indo! Disfarçou Susumi, e todas foram embora. Uma vez no quarto, Kogyo, nervosa, falou:
-Vai, desembucha!
Minoko contou tudo.
-EEEEEEEEÊ?O quê? Voce é o Narumeshi? Você diz que foi transformado em mulher por uma bruxa velha? Deixe de ser mentirosa, de onde tirou esta fantasia? Quem é você , afinal?
-Kogyo, você tem que acreditar em mim !As meninas todas são testemunhas, pergunte à elas! Eu te amo !
-Ahaaan? Voce é lésbica? Sai fora daqui já !
-Não, sou eu o Narumeshi! Olhe, tome aqui o espelho da verdade, ele vai te mostrar quem eu realmente sou!
Kogyo olhou no espelho. Minoko torceu para que a imagem dela como homem aparecesse, mas só apareceu Minoko mulher.
-Se este é o espelho da verdade, então você está mentindo, só apareceu a imagem de uma mulher, você! Caia fora daqui, você veio para me seduzir, sua vagabunda!
Minoko ficou desesperada, o espelho não mostrou a verdade real, em a que ele queria, só a em que Kogyo queria acreditar. Então sacou da espada.
-Ei, o que você está fazendo com isto aí? Isto machuca, entendeu? Você quer me matar, é isto,sua bandida?
-Eu jamais a machucaria, minha amada. Mas você se lembra de o quanto Narumeshi era hábil na espada, não é? E que havia um truqiue que só ele conseguia fazer com a espada, mais ninguém, não é?
-Sim.
-Então...
Minoko jogou a espada girando no ar, e a pegou de novo no ar, ainda girando e com as duas mãos a fêz girar velozmente em torno de seu próprio eixo, verticalmente, sem se ferir, e a colocou na bainha.
-Ahá! Isto não prova nada, Minoko!Você pode ter aprendido este truque com ele! Fora daqui ! Fora daqui !Gritou Kogyo, histérica.
As meninas, no entanto, escutaram os gritos e voltaram correndo, e adentraram no quarto ,esbaforidas, e seguraram a Kogyo, que estava a ponto de bater na Minoko.
-Kogyo,o que ela está dizendo é verdade, nós vimos tudo, ela é o Narumeshi, mas agora se chama Minoko, mas a mente dela é masculina,a mente do Narumeshi está no corpo dela, entendeu agora?Disse Kareni.Todas as outras garotas fizeram que sim com a cabeça.
Kogyo caiu dura,desmaiou para valer! Mas logo acordou, nos braços de Minoko.
-Na...Na...Na...Narumeshi ! O que fizeram com você ?Oh, pelos deuses,eu estou muito confusa, é muito complicado para a minha cabeça,tem certeza de que isto não é um pesadêlo que estou sonhando? Ah, não, e agora?
-Não é um sonho, Kogyo-kun, não é, é realidade!Assim como meus sentimentos por você!
-Mas você diz que me ama, mas sempre me humilhou, espezinhou, nunca quis saber de mim...e agora se declara para mim, na forma de uma mulher, céus, isto é muito injusto!Estas coisas só acontecem comigo!Por que isto foi acontecer logo comigo?Por que sou tão azarada deste jeito?Como eu vou namorar outra mulher?Eu amava o Narumeshi, não esta mulher que está na minha frente,Narumeshi, Minoko, ah, sei lá, não sei nem como te tratar, por favor me dá um tempo para eu entender estas coisas, entender o que está acontecendo comigo!
-Só não me confessei antes porque no fundo, nas coisas do amor eu sou tímido, e não sabia como conseguiria conquista-la, achava que nem conseguiria...
-Me tratando daquele jeito, é claro que não, mesmo! Mas voce agora é mulher!Você se confessou tarde demais !Tarde demais ! Não posso me apaixonar mais por você, nem você por mim, ainda que sua mente seja a do Narumeshi...
-Não fale assim, por favor, isto machuca...não fale mais nada, vem cá!
E Minoko agarrou Kogyo com força e arrebatou um beijo na boca, profundo, molhado, quente, apaixonado, com tanta rapidez que ela foi pega de surprêsa e não teve tempo de reagir. Em um primeiro momento, ela tentou se desvencilhar, mas o abraço estava apertado demais, ela a estava segurando com muita força ! Depois, sentindo-se segura, e sentindo que ela o beijava como um homem beija uma mulher,e também percebendo a intensidade do sentimento envolvido naquele beijo,entregou-se ao beijo, e a abraçou forte também, e ambas rolaram pela cama,e começaram a se amassar.As meninas resolveram se retirar, e estavam boquiabertas com a ação de Minoko,tanto assim apaixonada!
Então,antes que as meninas pudessem sair, a porta se abriu, a mãe de Kogyo viu a cena , estupefata, sem conseguir acreditar que as duas estavam se beijando, já seminuas, com uma intimidade assustadora.
-Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhn? Kogyo !
As duas levaram o maior susto, e se afastaram.
-Como você me explica isto, minha filha? E quem é esta vagabunda?
-Mãe, olhe, eu posso explicar, eu, eu...
-Não há explicação! Keishi! Venha aqui ver o que a nossa filha está fazendo! Berrou a plenos pulmões a mãe de Kogyo.
-Por favor, não, mãe, não chame o papai!
-Keishiiiiiiiii!
-Venha, Minoko, vamos fugir daqui! Depressa!
-Minoko? Entao você é o rapaz que toda a aldeia esta dizendo que foi transformado em mulher? Olha aqui, seu, sua, sei lá o quê! O meu marido vai te matar,viu!?
Minoko sacou da espada.
-Nos deixe sair agora! Senão...
-Senão o quê? Vai me matar? Além de bruxo, voce tambem é assassino?
-Não, Senhora. Furutawa, vou matar à ela! E Minoko colocou o fio da espada na garganta de Kogyo, que se assustou e soltou um grito de pavor.
A Senhora Furukawa recuou, e bateu de costas com o marido, que disse:
-O que está acontecendo aqui, querida?
-É melhor se afastar também, Sr. Furutawa, ou eu mato sua filha!
Assustado, ele se afastou.
-Você não vai escapar tão fácilmente assim! Vou convocar a aldeia inteira para uma caçada humana! Você vai morrer,menina!
-Eu sou Narumeshi, e sou o melhor espadachim que existe, não sou tao fácil de ser pêgo assim não!
E Minoko conseguiu passar pela porta de entrada da casa, colocou a espada de volta na bainha, agarrou a mão de Kogyo com força e disse : -Vamos fugir!
Mas a vizinhanca já tinha ouvido os gritos, e a aldeia inteira muito rápidamente já estava sabendo. Namya, Fushiko e Karemi correram igualmente, e logo todos se encontraram, e entraram correndo na floresta que ficava ao lado da aldeia. Ali seria muito difícil de elas serem encontradas.
-Uff! Dessa eu pensei que não escaparíamos!
-Ainda não escapamos, não comemore nada, ainda, Minoko!
-Como você pode ficar tão calma numa hora destas, Namya? Eles vão nos caçar, não vão descansar enquanto não nos matarem! E você, seu, sua, ah, sei lá, idiota! Quase me matou de susto com aquela espada no meu pescoço! Olha a confusão em me meteu!
-Calma, Kogyo, calma! Você acha que eu iria mesmo te matar? Era só um blefe! Se não, eu teria tido que matar seus pais também!
-Você não se atreveria!
-Se não houvesse outro jeito...
Splaaaaaaaaaat! O rosto de Minoko ficou vermelho com o tapa que Kogyo deu.
-Como ousa dizer uma coisa destas para mim? Só um homem mesmo para dizer uma bobagem, uma estupidez destas! Não pense que você me engana com este corpo de mulher, não, viu?
-Parem de brigar , vocês dois! Estou escutando barulho de latidos, eles devem estar atrás de nós agora, temos de continuar fugindo !
Disse, nervosa, Fushiko.
-Ok, todas juntas, vamos nos embrenhar na floresta e fugir agora! Disse Minoko.
De fato, a multidão enfurecida já estava no encalço deles, e não estavam longe. Mas as meninas , ao se aprofundarem na floresta densa , tornaram as coisas mais difíceis para seus perseguidores, pois era um verdadeiro labirinto.
Minoko era esperta, e conseguia encobrir suas pistas fazendo todas corressem sobre as folhas mortas e úmidas, sem pisar na terra ou barro, de um modo a não deixar pegadas. Os aldeões não eram tão leves, ágeis quanto as meninas, e muito menos como os cães, então, avançavam em um ritmo bem mais lento, e os cães, presos por correias, ficavam limitados à velocidade de seus donos.
Os latidos comecaram a ficar distantes, e a vantagem das meninas comecou a ficar evidente.
-Minoko, por favor, eu não aguento mais, vamos parar para descansar !
-Eu te carrego, então, Kogyo!
-Você não vai aguentar o meu pêso, seu corpo agora é feminino, esqueceu?
-É, é mesmo, droga! Vamos descansar, então. Acho que eles perderam nossa pista, finalmente!
-Olha, um riacho ! Vamos tomar um banho !
-Fushiko, acho que não é uma boa idéia! Podem haver ursos e lobos à espreita...
-Não, acho que a única que vai ficar à nossa espreita é a Minoko!
- Como voce é má, Namya! Ele é mulher, agora, não pode mais nos fazer nada! Disse Kareni, desnudando-se inteiramente. Os olhos de Minoko arregalaram-se e ela comecou a babar diante do corpo escultural e altamente sensual da menina.
- Pare de olhar para ela, seu , sua, idiota!
- Ahahahahahahah! A Kogyo está com ciumes da Minoko!
- Não é nada disso, Fushiko, você sabe, que existe uma mente masculina naquele corpo. Ele, ela, eu nunca sei, me beijou no quarto, e se agarrou comigo, e beijou como homem, como um homem faz, não era beijo de mulher, embora o sabor fosse meio estranho...
- Iiiih, estou te estranhando, minha amiga, será que voce virou lésbica? Não vem para cima de mim não, heim?
- Eu não sou lésbica, Namya! Aquilo ali não é bem uma mulher, todas vocês sabem disto. Para mim, continua sendo o Narumeshi, só mudou de corpo, o comportamento continua o mesmo!
- Ah, deixa para lá esta conversa, a água está uma delícia! E Kareni saiu da água e puxou Minoko pelo braço,que teve de tirar suas roupas molhadas correndo. Todas já estavam completamente nuas agora.
- Larga ele ! Disse Kogyo.
Minoko só babava, nunca tinha visto mulheres tão lindas completamente nuas na vida. Mirava diretamente para os seios enormes de Kogyo, que percebeu e desferiu-lhe um forte tapa no rosto que a fez cair sentada no fundo do riacho, que era raso.
- Pára com isto, imbecil! Porque não fica olhando para seus próprios seios, heim? Lembre-se, mão boba, só em mim, se você me trair com uma das meninas, eu te mato!
- Ichh, como voce é ciumentaKogyo!
- É que você é minha,meu, sei lá, não consigo me acostumar!E não quero perder você para outra !
- Deixa de ser besta, Kogyo!O quê iríamos querer com outra mulher?Se você a quer tanto, pode ficar com ela para você!Respondeu Namya.
Minoko levantou-se da água, revelando os seios bastante grandes, ainda que menores do que os da namorada, e os pêlos pubianos negros e abundantes, do colo largo, e as nádegas generosas e redondas, maiores que as de Kogyo.
-Que inveja,Minoko... quem diria...você deu uma bela mulher, está com mais corpo do que eu, suas pernas são bem mais grossas, e não tem uma celulite, uma estria...
Foi o comentário de Kareni.
Minoko corou de vergonha, e procurou afundar na água outra vez.
Mas ninguém sabia que havia um homem por perto, e ele as estava observando, e também não sabiam que logo depois do riacho havia uma estrada.
Elas estavam se divertindo, quando Minoko percebeu, ao olhar para a copa de uma árvore, e gritou:
-Tarado !Tem um tarado ali naquela árvore olhando a gente !
As meninas entraram em pânico,e o homem misterioso, também assustado com os gritos, perdeu o equilíbrio e caiu da árvore.
Mais do que depressa, ainda nua, Minoko saiu da água, pegou sua espada, e imobilizou o homem , com a sua arma encostada no pescoço dele.
-Calma, calma, moça! Aaaai, acho que machuquei as costas!
-Quem é voce, seu tarado?
-Eu não sou tarado, voce é que deve ser tarada, está sentada em meu colo, nua!
Minoko notou então que tinha colocado seu pêso em cima da virilha do homem, e a sentiu se avolumar.Corou de vergonha !
E levantou-se imediatamente,não sem dar-lhe um sonoro tapa na cara.
-Feche os olhos , você não viu nada! Disse Minoko, acertando um chute na virilha do homem, que gritou e se encolheu todo de dor.
As meninas se esconderam atrás de uma pedra.
Depois que o homem parou de gemer, Minoko continuou:
-Muito bem, quem é você, o que faz aqui, trabalha para quem?
-Kinji Korokokawa, sou um emissário especial do Xogum de Nagoya ,um dos vassalos dele, trabalho para o governo. Estou em uma missão confidencial, não posso dizer qual.
De verdade ali, só existia o nome,mas ninguém sabia disto.
-Eu vou arrancar esta coisa feia que você tem entre as pernas agora mesmo se não me contar tudo!
-Não, não, por favor! Eu jurei ao Xogum que não revelaria minha missão a ninguém, eu preciso continuar minha viagem para Osaka , por favor! Você não quer que ocorra uma guerra, quer?
-Porquê está aqui? Porquê estava nos observando?
-Eu fui assaltado por Ninjas de Kyoto, eles roubaram o documento secreto que eu estava levando ao Xogum de Osaka, depois quiseram me matar, eu consegui fugir, e me refugiei na árvore, aí voces chegaram e tiraram suas roupas e...
-Quer dizer que voce já nos tinha visto desde o começo? Seu tarado!Eu não vejo ninja nenhum aqui,, você está inventando !E depois, o seu sotaque é de Edo!Não é de Nagoya!
-Não, foi sem querer, eu juro, eu olhei para baixo só para ver se os ninjas já tinham ido embora! Eu nasci em Edo e depois me mudei para Nagoya!Aliás, eu, se fosse vocês, me trocava rapidinho, pois os Ninjas podem ainda estar por perto, e eles são famosos por sua crueldade, inclusive por estuprar e matar mulheres...
-Tudo bem. Se você estiver nos enganando, eu te mato, desgraçado!
E Minoko rasgou um pedaco da roupa de Kinji, e fez uma venda, e cobriu os olhos dele. Mandou que ele se levantasse, e se sentasse embaixo de uma árvore. Amarrou seus bracos com força.
-Aguarde aí. Nem pense em tirar esta venda. Pronto, meninas, vamos nos trocar, agora está seguro.
Todas se trocaram, e então o desamarraram e tiraram a venda dele.
-Como você se chama, senhorita?
-Pode me chamar de Minoko, mas eu não sou senhorita.
-Você é muito bonita, Senhora Minoko!Mas não entendi porque não quer que a chame de senhorita.Você é casada?Devo lhe chamar de Senhor!
-Não sou casada, nem muito menos Senhora! Está me chamando de velha, por acaso? Eu não sou mulher!
Kinji ficou atônito, não estava entendendo nada.
-Como assim? Eu a vi nua, você tem seios, e...
Splat!
Minoko desferiu-lhe um soco certeiro na boca do estômago que derrubou Kinji no chão!
-Mais respeito, ouviu? Eu não quero falar sobre estas coisas, tenho vergonha! Me chame só de Minoko-san, pronto!
-É que a Minoko, ela...
-Fushiko, não conte nada a ele! Ninguém fala nada, nada !
-Ih, como você está mal humorada , Minoko! Disse Kogyo.
Então, os latidos começaram a serem ouvidos ao longe
-Precisamos fugir !
-Tem razão, Kareni! Vamos, vamos andando! Disse Minoko, que num ato reflexo, sem pensar , nem perceber, agarrou a mão de Kinji, levando -o consigo.
Eles atravessaram o rio correndo, subiram o barranco, e continuaram correndo, até que viram uma clareira, a estrada já estava logo à frente. Pararam para descansar, pois os latidos já não se ouviam mais.
-Aí, heim? Você gostou dele, heim, Minoko, estão de mãos dadas até agora!
Minoko corou de vergonha, como Kinji, e as mãos se soltaram.
-Parem com estes risinho, suas idiotas, eu não estou de mãos dadas com ninguém, não!
-Ih, você deixou seu futuro marido sem graça, Minoko!
-Pare, Fushiko! Você sabe que eu jamais iria querer saber de homens...ih, escapou! Desculpe, Kinji-sempai.
Observando primeiro a fúria, e depois a expressão de pena de Minoko, Kinji disse:
-Não tem problemas. Sabe, eu achei você linda! Sério!
-Kiiinji...
Minoko estava corada de vergonha e furiosa!
Mas não fora só Minoko que estava nervosa;
-Não estou gostando desta conversa,não!
-Calma, Kogyo, ele ainda não sabe da verdade...
Cochichou Fushiko no ouvido de Kogyo, acalmando-a.
Minoko sabia no entanto que alguma coisa ocorria em seu coração, algo que sentia, mas não queria sentir, e sentia vergonha de sentir, mas não conseguia resistir.Estava nervosa, inquieta. Mas logo foi tomada de sobressalto, quando Kinji pegou suas mãos, olhou para ela firme nos olhos e disse:
-Minoko, acho que eu estou me apaixonando por você! Eu te amo !
Com olhos arregalados, e uma expressão de horror e surprêsa, ela respondeu:
-Eeeeeeeeê???Você não pode ! Não pode me amar! Não pode amar a outro homem!
Agora foi a vez de Kinji se espantar:
-Como? Mas voce é mulher! Eu vi!
Corada de vergonha, Minoko tapou a boca com as mãos-ela falara demais !
-Eu conto, já que você foi boba de ter deixado escapar, eu conto! Kinji, na verdade Minoko se chama Narumeshi, um rapaz que humilhou uma bruxa, que para castiga-lo, o transformou em mulher, mas manteve a mente masculina.O feitiço não tem cura. E eu era a namorada dele, antes de ele ser transformado. Meu nome é Kogyo.
Ainda mais envergonhada, Minoko mostrou a ele o Espelho da verdade, e desta vez a imagem mostrada foi de Narumeshi.
Com sua fraqueza revelada, Minoko comecou a chorar, não conseguia resistir. Cada vez que via aquela imagem no espelho, ela chorava mais ainda!Em sua mente, Minoko chorava porque estava se apaixonando por Kinji,e Narumeshi chorava por não estar conseguindo ser mais forte que Minoko e impor sua vontade,e pela vergonha da situação que estava passando, sentindo-se humilhado.
Penalizado, Kinji disse:
-Por favor, me desculpe, me desculpe mesmo, eu não tinha como saber uma coisa destas...não fique triste,eu retiro então meu pedido de namoro, de qualquer forma quero ser seu amigo!
-Snif, snif, obrigada, Kinji. É muito bondoso de sua parte.
Respondeu Minoko,no entanto,aquela parte feminina da alma estava cada vez mais se apaixonando e a bondade e compreensão de Kinji mexia cada vez mais forte com o coração dela!E ela se fortalecia, enquanto a parte masculina da alma se enfraquecia.
-Você tem uma grande habilidade com a espada, por que vocês não me ajudam a cumprir minha missão? Preciso recuperar aquele documento, achar aqueles ladrões, e ir para Osaka, voces não gostariam de ir comigo?
-Ah, eu não sei, Kinji...ah, meu nome é Fushiko, e estas são minhas amigas, Kareni e Namya. A Kogyo e a Minoko voce já conhece.
-Prazer em conhecê-las! Mas por que e de quem vocês estão fugindo?
-Do povo da nossa aldeia, eles são preconceituosos, e não aceitam uma mulher com mente masculina, e nem que ninguém a apoie, então estamos fugindo todas juntas. Eles puseram cães em nosso encalço!
-Que coisa, Kareni, fico triste em saber... então, que acham de vir comigo? Estarão seguras em Osaka, lá ninguém as conhece!
-Olha, acho que não fica bem.Mas quem sabe a gente se reencontre?
-Tudo bem, Minoko-san! Aliás, você prefere que eu a trate como homem ou como mulher?
-Como mulher, mas com respeito. Não fica bem ser tratado como homem com este corpo feminino. Vamos pegar a estrada! Disse Minoko.
-Vamos ! Responderam todas as meninas, em uníssono, bem animadas.
-Então é hora de me despedir de vocês.Boa sorte a vocês, espero revê-las em breve!
-Você não vai nos entregar, não é, Kinji-san?
-Jamais,Minoko-san.Fiquem tranquilas,nunca iria traí-las, não falarei de vocês para ninguém !
-Muito bom!Vamos, garotas!Sayonara, Kinji-sempai!
-Sayonara,Minoko-san !
E Kinji foi para um lado, e as meninas para o outro.
A estrada serpenteante e estreita se descortinou à frente delas. Nestas altura, seus perseguidores perderam suas pistas, não as conseguindo mais encontrar.
Mas os perigos ainda não haviam terminado. Ao longo da estrada sempre haviam bandidos, salteadores, tarados, e todo tipo de escória possível e imaginável.
Um pouco depois de elas terem começado a percorrer a estrada a pé, ouviu-se um tropel de cavalos a galope.
-Vem gente aí! Escondam-se todos atrás dos arbustos!
Disse Minoko.
Todas escondidas, viram passar um bando de batedores, sinal de que uma carruagem com gente importante estava para passar a qualquer momento.
-Vamos parar esta comitiva e roubar-lhes os tesouros e cavalos, não podemos chegar muito longe assim,sem dinheiro!
-Mas Minoko, nós não somos criminosas!
-Somos todas proscritas, já, Namya. Além disto, precisamos de cavalos, demoraremos e cansaremos demais indo a pé. Eu tenho um chicote longo aqui comigo,que o Kinji-sempai esqueceu,vou laçar as pernas de um dos cavalos da carruagem com ele, e a carruagem sofrerá um acidente. Lá vem ela!
Shiiiiiiiiiiivuuuuupt!
O chicote estalou rápido como um raio e sua ponta se enlaçou numa das pernas de um dos quatro cavalos da carruagem, que desequilibrou-se, caiu e todos os outros caíram tambem, atropelados pela carruagem desgovernada, que capotou e rolou pela estrada, estrondosamente.
Os guardas ouviram o estrondo, pararam imediatamente e foram ver o que tinha acontecido.
-Vamos atacar! Disse Minoko, com sua espada katana em riste.
-Esperem !
-O que foi,Kareni?
-Os guardas estão voltando,Minoko!
-Vamos lutar, então, Fushiko!
-Não dá, só você está armada de espada.
-E daí? Temos este chicote também,Fushiko!Pode usar! Ele é uma arma, oras.
-E as outras? Eles são muitos, não vamos dar conta de todos sozinhas!
-Então vamos nos esconder e aprontar uma armadilha.Com a carruagem destruída, e os cavalos machucados, não poderão seguir em diante tão cedo.
-Boa idéia, Minoko. Mas como faremos a armadilha?
-Precisamos de uma isca, Fushiko. Alguém para atrair a atenção de soldado por soldado. Quem for a isca, seduzirá o soldado, e eu apareço e corto a cabeça dele fora .
-É perigoso, Minoko, você acha que todos os soldados vão cair no mesmo truque?
-Acho, Kareni, eles vão procurar pelo primeiro, e depois irão cair um por um na armadilha.
-Precisa ter cuidado, acho melhor pensarmos em outra coisa.
-Não esquente com isto, Kareni, eu sou mais hábil com a espada do que você pensa!
(Por continuar)