Sangue de Dragão - Cap. 11
--- A Decisão de Sarina ---
A notícia sobre a luta entre Azura e Orogi não demorou muito para se espalhar pela ordem. Professores comentavam de forma mais discreta, em pequenas conversas sem muito interesse, enquanto que a maioria dos alunos achou demais alguém ter conseguido quase derrotar o Azura. Muitos, por sinal, ficaram felizes em saber que o garoto mais encrenqueiro da ordem foi quase humilhado por um desconhecido.
Alheios aos comentários, Azura e Orogi se encontravam hospitalizados no centro médico. O estado de ambos não era nada confortável. Azura se encontrava em melhores condições, precisando passar por algumas suturas e ficar imobilizado devido a uma costela quebrada. Orogi precisava de melhores cuidados, principalmente pelas queimaduras que sofreu quando foi atingido pelo Punho Flamejante, a técnica de fogo de Azura.
A notícia da luta nas portas da ala de detenção também chegou ao alojamento feminino. Muitas das aprendizes de magia torciam para que Azura se recuperasse logo, mesmo ele sendo tão antipático, e que o sangue de dragão fosse dessa para uma melhor. Outras garotas tratavam o assunto com indiferença, pois não era a primeira, nem seria a última vez, que garotos idiotas brigam por nada.
Apenas uma única garota estava realmente preocupada com as conseqüências do ocorrido. Sarina ficou mais tranqüila quando soube que Azura estava bem, afinal o conhece desde que entrou na ordem, mas não conseguiu disfarçar a tristeza em saber do estado de Orogi. Estava tão aérea nos pensamentos que não percebeu a aproximação de Alissa, uma de suas colegas de turma.
---- Algum problema? --- perguntou Alissa.
---- Hã...ah, não, nenhum. Só...estava perdida em pensamentos, desculpe --- respondeu Sarina.
---- Está pensando naquele garoto não é? O tal sangue de dragão?
---- Quem? Eu? Não, não, estava apenas preocupada com o Azura, afinal ele começou os estudos com agente e.....
---- Pode ficar tranqüila comigo Sarina. Eu não sou como a Tilla ou a Somara. Pode confiar em mim, você sabe.
Sarina realmente sentiu confiança nas palavras de Alissa. Algumas coisas a estavam incomodando e precisava desabafar com alguém.
---- Eu sei. Estava realmente pensando em Orogi. Mas não como você está pensando. Estava analisando a situação deles.
---- Deles? --- perguntou Alissa.
---- Dos garotos e garotas que são como ele sabe. Você lembra dos outros que passaram por aqui? Lembra daquele garoto que foi espancado na biblioteca? Fico imaginando como deve ser difícil está na pele deles.
---- E o que você acha sobre isso? --- questionou Alissa. Sarina não gostou do olhar da amiga. Ela estava tentando conduzir a conversa, tentando tirar respostas mais diretas sobre um assunto que deixava Sarina confusa.
---- Não sei. Só acho que poderíamos ser mais tolerantes com eles. Quando vi o olhar de Orogi, percebi o quanto se sentia só e inseguro. Eu compreendo porque já me senti assim, sei como é. Você não ter ninguém por perto na hora que mais precisa, nem mesmo aqueles que de fato deveriam estar ali. Alissa, porque será que os mestres da ordem, responsáveis por cuidar desses garotos e garotas, os deixam tão sozinhos?
---- Não sei. Talvez para evitar que eles se relacionem com outras pessoas. Eles são utilizados em conflitos armados e enviados para vários locais, portanto, se morrerem, ninguém vai sentir falta, e nem eles vão ter medo de morrer.
A dedução de Alissa fez com que um frio subisse a coluna de Sarina. Que realidade mais cruel. Viver sem amigos e estar sempre preparado para morrer. Mas será que.......
---- Alissa, preciso que você me ajude em uma coisa.
---- Iihhh... conheço esse olhar. Você quer aprontar alguma não é?
---- Você me conhece bem, amiga. Preciso que me ajude a chegar até o centro médico. Quero falar com Orogi.
---- Como é? --- se surpreendeu Alissa. Sarina fez um olhar suplicando ajuda. Alissa odiava aquele olhar, pois nunca conseguia resistir.
---- Parece que ele se tornou especial para você --- disse Alissa.
---- Como é? --- agora foi a vez de Sarina se surpreender com as palavras da colega. Alissa deu um sorriso, confirmando seus pensamentos.
---- Percebi que até agora só o chamou pelo nome. Nada de sangue de dragão ou aberração. Bom, está bem, vou te ajudar até onde eu puder, mas lembre-se que vai se arriscar demais por esse garoto.
---- Tudo bem. Ele já fez isso por mim também.