Sangue de Dragão - Cap. 08

-- A Raiva que Liberta –

Um profundo e inquietante silêncio prolongou-se por quase toda a manhã entre um temeroso Orogi e um raivoso Azura. Estendido sobre sua cama, o garoto careca e enfezado fitava o teto com as sobrancelhas curvadas, mostrando estar muito desconfortável, não com o fato da detenção em si, mas mais por ter o sangue de dragão ao seu lado.

Orogi não suportou mais aquele tormento. Afinal precisava saber qual o motivo para toda a raiva que Azura sentia por ele. Na verdade não necessariamente por ele, mas pelos sangue de dragão. Será que, como o mestre Farmenis disse, os alunos se sentiam ameaçados pelos sangue de dragão?

Pensando desta forma, veio à mente de Orogi um questionamento. Pelo que os alunos se sentiam ameaçados? Ainda continuava o mesmo garoto de sempre, teimoso e ingênuo. Não sentiu nenhum tipo de coisa estranha, nenhum poder ou energia em seu corpo. Nada. Será que a magia não é sentida antes do momento de usá-la? Quando Tilla e Somara usaram magia nele, não viu nada de sobrenatural acontecer, elas apenas mexeram as mãos e pronto, seus pés afundaram no chão e um vento misterioso o derrubou. Até hoje pensa como aquilo foi incrível.

Mas agora, mesmo diante de alguém que parecia odiá-lo, via a oportunidade para saber mais a respeito dessa força chamada Magia. Uma vez Orogi ouviu que a educação e a gentileza vencem qualquer obstáculo. Valia a pena tentar.

---- É....desculpe Azura, eu quer.....

Uma bola de fogo do tamanho de uma maçã atravessou o quarto e se espatifou na parede a dez centímetros da cabeça de Orogi. Azura se encontrava sentado e com o braço estendido para frente.

---- Nunca mais dirija a palavra a mim entendeu --- disse Azura. Orogi estava paralisado de medo. O cheiro de queimado invadia suas narinas. Esse garoto é louco, pensava.

---- Hei, calma...eu só queria conversar --- falou Orogi.

---- Não tenho nada para falar com você aberração --- disse Azura, já de pé e andando impacientemente de um lado para o outro.

---- Porque sente tanta raiva de mim? Eu nunca te fiz nada.

---- Fez sim. Você existe --- respondeu Azura. Orogi emudeceu surpreso com a resposta.

Azura caminhou em direção a Orogi, agarrou-o pela gola da camisa e o suspendeu até seu rosto. Ficaram face a face. Orogi sentia o ódio nos olhos daquele garoto. O que teria originado tanta raiva, chegou a pensar rapidamente.

---- Vocês Sangue de Dragão não deviam existir. Só trazem dor e sofrimento por onde andam. Se não fosse o protegido de Farmenis, eu acabaria com você agora mesmo moleque --- depois das palavras Azura jogou Orogi no chão com tanta força que ele deslizou, se chocando contra a estante de livros, derrubando alguns sobre sua cabeça.

---- Seu lugar é aí, rastejando no chão como um verme.

Orogi tentou se erguer, mas não deu tempo. Azura desferiu um chute em sua barriga, o fazendo soltar um grito abafado e tossir.

---- Já disse, seu lugar é no chão --- o aprendiz de mago não se conteve e começou a desferir vários chutes em Orogi, que inutilmente tentava se defender. Os golpes atingiram a barriga, as pernas, as costas, até que um deles tirou sangue de sua boca. Um segundo golpe no rosto mergulhou Orogi na inconsciência.

Orogi tentava abrir os olhos, mas não conseguia. Tentava se levantar e também não conseguia. Estava cego e paralisado, deitado num chão frio de areia e pedras. Azura tinha dado fim a sua vida? Apesar de suas condições, a morte não parecia ser terrível. Pelo menos pararia de ser desprezado pelas pessoas, de ouvir suas palavras de ódio. Mas uma voz poderosa ecoou no lugar.

Agora sei de tudo. Infelizmente não posso sair daqui. E você, humano desprezível, é a minha maldita prisão. Urami desgraçados, me fizeram de marionete em suas mãos. Mas verão que mesmo aqui eu ainda sou poderoso....

O grande dragão de escamas vermelhas olhava atentamente para as correntes que o prendiam firmemente ao solo pedregoso da caverna escura.

.....E esse pequeno humano parece me mostrar como. Não posso permitir que sua carcaça seja destruída, pois seria minha ruína.

Vamos criatura fraca! Levante-se agora!

O imenso réptil esticou uma de suas garras na direção de Orogi, forçando-o a levantar a cabeça e encarar o dragão. A garra do dragão tocou as costas do garoto, fazendo seus olhos brilharem com um fogo antigo.

Enquanto isso, de volta ao pequeno quarto, Azura está parado diante do corpo inerte de Orogi. Sua boca está repleta de sangue onde ao seu lado se formou uma poça. Friamente Azura tocou o sangue no chão.

---- Igual ao de qualquer um --- começou a falar baixinho ---- Não sei o que os magos da Ordem da Magia vêem em vocês. Desprezam a verdadeira magia para brincarem de fazer bonecos. Pelo menos essas aberrações servem para alguma coisa. Matar e morrer nos campos de batalha. É isso que são, assassinos descartáveis.

Azura caminhou até a janela e olhou o movimento do lado de fora. Estava tudo calmo. Só árvores balançando ao vento e pássaros cantando.

Alguém precisa chacoalhar esse lugar, pensou. De repente ouviu um ruído como de um animal rosnando. Quando olhou para trás não acreditou no que viu.

Um vulto saltava em sua direção com olhos de fogo e garras de fúria.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 28/11/2010
Código do texto: T2642216
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