O Fatídico dia na vida de Garklem

Era nobre, vivaz, com a vontade de sempre seguir em frente, não tinha por que olhar para trás, era e sempre fora integro, seguro de si e de seus atos. Nada o fizera desviar de seus valores. Foi quando, naquele fatídico dia Garklem, esse era seu nome, se assim me lembro, teve de decidir por qual caminho deveria seguir. Era manha, e caminhara com sua Esposa, Naera, junto de seu pequeno filho, Dargen, por entre o bosque, como em todos os domingos possíveis. Por mais que fossem tempos difíceis, Garklem jamais deixara de passear, ao menos uma vez por mês por ali, e muitas vezes sem dinheiro algum, nem sequer para as refeições do dia, não permitia o sorriso em seu rosto desaparecer, muito menos seus valores se distorcerem.

Olhou para o céu, e guiando sua mão para a direita, desviou o rotineiro caminho de domingo, não queria que o filho visse a venda que tinha ali por perto, não queria despertar a vontade no garoto que não podia suprir, efeito de sua bondade eminente.

Era um lindo dia, e enquanto andara pelas novas terras, acabara se esquecendo dos perigos que os caminhos desviados poderiam trazer. Tendo em vista uma belíssima macieira, resolve ali parar para desfrutar dos presentes da natureza; Dargsen compartilhava com gosto de Naera por maças.

Enquanto desfrutavam, agora encostados noutra árvore de porte maior, e com fortes galhos, Garklem não teve tempo para reagir, quando fora surpreendido por bandidos, dois deles. Queriam além de bens materiais, seu maior presente em vida, sua esposa e seu filho. Eram bandidos que ainda partilhavam de ideais de escravidão, pois ainda ganhavam muito com isso. Garklem não tentou lutar, não podia contra três armas apontadas para si e sua família, seria mortal se fizesse algo.

Numa tentativa de salvar seus tesouros, revela que sua profissão era a de ferreiro, que por acaso era extremamente valorizada na região onde seria levado, e que podia ter préstimos e valores muito maiores por isso. Seu nome era muito conhecido por ali, e sem perder mais tempo, os próprios bandidos reconheceram de quem se tratava aquele homem, que estava desaparecido por um tempo dos comércios centrais. Como só podiam levar duas pessoas, resolveram apenas por nosso personagem central, deixando sua mulher e filho para trás, o achado do ferreiro com especialidades raras era de grande sorte, não valeria a pena levar os outros.

Numa rápida despedida furtiva de Naera e Dargsen, Garklen disserá em breves palavras:

- Amo vocês, e fujam, pois voltarão furiosos aqui, em busca de vocês!

E levado as pressas, virou seu rosto, e não ofegante sorriso, sussurrou:

- Cresça pequeno Darg, como um forte e valoroso homem!

E as lágrimas de terror caiam de ambos os que foram salvos...

O que traria a fúria destes bandidos era o fato de que Garklem tivera sérios problemas, e como ferreiro não poderia trabalhar mais, não era capaz da martelar nem sequer um simples prego, que já se contorcia em agonia. Tal fato fez que Garklem perdesse tudo, sem poder ganhar seu dinheiro como fizera antes. Certamente quando tivessem conhecimento de sua atual inutilidade, sofreriam pela fúria de seu chefe, e assim descontariam em vingança na família de Garklem. Sua morte era eminente, e assim sabia que a troco de sua vida pode garantir que seus maiores tesouros, Naera e Dragen, pudessem viver.

Nosso personagem teve de escolher entre sua vida livre, vendo sua mulher e filhos serem levados para o muito longe, e sua morte. Optou pela morte através de seu amor, mas para também salvar a si mesmo da culpa que pudera ter por não salvá-los.

E ao final do dia, ele já não era tão bonito assim.

Nunca desvie seu caminho.

Leo Zapparoli
Enviado por Leo Zapparoli em 28/11/2010
Código do texto: T2642104