Sangue de Dragão - Cap. 06

-- Outras Respostas --

Um abrir e fechar de olhos. Foi essa a sensação que Orogi teve quando pegou no sono na noite anterior e foi despertado pelos primeiros raios de sol que invadiram seu quarto no dia seguinte. A noite não foi nada boa, pois, nas duas horas em que conseguiu dormir, teve um forte pesadelo onde se encontrava numa caverna e de frente para uma imensa criatura. Essa fera se debatia incessantemente tentando se libertar de correntes que as prendiam nas patas, calda e pescoço. A criatura insistia dizendo: solte as amarras....solte as amarras...

Neste momento Orogi despertou. Saiu da cama, lavou o rosto e se olhou no espelho. As palavras de Sarina não saíam da sua mente.

Os Sangue de Dragão possuem um espírito maligno dentro deles.

Orogi formulava seus pensamentos e tentava entender uma razão para o que estava acontecendo. Não encontrou. Somente confusão e uma profunda sensação de não ser mais dono de si, uma sensação de que sua vida estava agora nas mãos da Ordem da Magia, uma obediência que o deixava triste e indignado. Sentiu raiva nesta hora. Neste momento sentiu como se algo quisesse sair de dentro do seu peito, gerando um pesado desconforto no coração. Colocou a mão no peito e fez uma careta. Olhou para o lado e tomou um susto.

O mago Farmenis o observava já dentro do quarto. Orogi não tinha percebido sua presença. Mesmo assim não disfarçou que ficou contente em vê-lo, dando um leve sorriso.

---- Mestre...desculpe, estava distraído, não o vi chegar.

---- Vista-se e vá para minha sala. Precisamos ter uma conversa --- ordenou.

Se a noite foi péssima, o dia prometia ser pior ainda.

Por mais que Orogi tentasse explicar os fatos, o mago Farmenis não entendia que a desobediência à suas ordens não era simplesmente saber sobre sua condição, mas principalmente a vontade de aplacar a solidão que sentia. Mas para o mestre não havia justificativas para o fato de Orogi ter saído do seu quarto, ido até a torre dos alunos e conversado com um deles.

---- Nada que você diga vai me sensibilizar Orogi. Precisa saber, como membro da Ordem, que a hierarquia deve ser levada a sério e que seus superiores possuem a palavra final. E você me deve obediência, pois sou seu superior entendeu.

---- Entendi mestre --- respondeu Orogi ---- Só o desobedeci porque queria muito saber a causa dos garotos terem me chamado de aberração ontem no refeitório. A Sarina me disse que...

---- Essa aluna também será punida.

---- Por favor, mestre, não. Eu fui atrás das respostas, ela não tem culpa disso --- Orogi tentava livrar Sarina de uma punição.

---- Você disse respostas? Respostas sobre o que? --- questionou Farmenis se inclinando sobre a mesa e encarando Orogi, que ouvia tudo de cabeça baixa.

Mesmo tremendo de medo, Orogi sentiu que era hora de questionar o mestre Farmenis sobre o que tinha ouvido sobre os Sangue de Dragão. As perguntas fervilhavam em sua mente. Adquirindo coragem, resolveu começar a falar.

---- Mestre, o que é um Sangue de Dragão?

---- Então foi por isso que irá receber uma punição? --- questionou sarcasticamente Farmenis.

---- Eu já te disse que um sangue de dragão é uma felizarda pessoa, escolhida para servir à Ordem da Magia --- concluiu.

Orogi ergueu a cabeça para falar.

---- Na verdade mestre, o que tem dentro de mim? --- perguntou. A expressão de Farmenis mudou, ficando mais séria. Ele se endireitou na cadeira, acendeu um charuto, deu uma tragada e uma longa baforada, enchendo o ambiente de fumaça.

---- Certo, então é isso --- disse Farmenis ---- Escute bem Orogi, pois essa é a primeira e última vez que falo sobre isso. Vou te dizer algo sobre os Sangue de Dragão.

Orogi sentiu muita alegria. Pela primeira vez o mestre estava conversando com ele.

Orogi ouviu atentamente do mestre um pedaço da história dos tempos antigos. Nesta história ele ficou sabendo da Grande Guerra Draconiana, onde bravos Reis, comandando grandes exércitos de guerreiros e magos, lutaram bravamente contra a selvageria dos Dragões, liderados pelo perverso Zagaroth, O Escuro. Há séculos essas criaturas, numerosas como pragas, alastravam o terror e a morte por onde passavam, mas dois poderosos homens se levantaram contra essa tirania. Um deles foi o Rei Menesthor, responsável pela unificação dos quatro reinos numa única coalizão de combate. Seu carisma e suas estratégias deram aos homens a coragem necessária para reverter a situação. Mas não só de coragem pode-se viver, disse o mestre Farmenis, é preciso poder também.

O segundo homem, também responsável pela vitória da coalizão, foi o grande arquimago Giltarma. Ele criou o processo que deu origem aos Sangue de Dragão, dando capacidade aos primeiros escolhidos de poderem absorver a energia arcana que reside em todas as coisas. Não era mais necessário para essas pessoas o árduo aprendizado para se tornar um Mago. Bastava apenas se submeter ao ritual criado por Giltarma, o Ritual de Junção.

Foi assim que, unindo-se a coragem dos guerreiros do Rei Menesthor com o poder dos Sangue de Dragão criados pelo mago Giltarma, os homens conseguiram destruir os dragões, até não restar mais nenhum no mundo.

Orogi escutou a história com muita atenção. De fato era uma bela história, mas duas perguntas não saíam de sua cabeça. Por que os alunos o chamaram de aberração? Existe mesmo um espírito maligno dentro dos sangue de dragão?

---- Os aprendizes ainda são jovens --- respondeu Farmenis ---- Eles não entendem o fato de alguém ser escolhido para servir a Ordem sem passar pelo processo de aprendizado. Você é um escolhido Orogi, escolhido para carregar o legado de Giltarma e continuar lutando por um mundo mais seguro. Quem não tem conhecimento....? --- esperou a conclusão.

---- Toma atitudes precipitadas --- completou Orogi.

---- Isso mesmo. Pense nisso.

Depois das palavras do mestre Farmenis, Orogi passou a entender melhor o motivo da raiva das pessoas. Resumia-se numa única palavra.

Inveja.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 25/11/2010
Código do texto: T2636249
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.