Mirabela- O amargo sabor do destino - Continuação -
Horas mais tarde, a senhora Flora encontrava-se desesperada com a ausência do marido. Santiago tentava acalmá-la e ao mesmo tempo, entender o que havia acontecido.
- Calma, mamãe! o que aconteceu afinal?
- O Manuel saiu correndo depois que atendeu ao telefone.
- E quem era?
- Eu não sei! a voz era de um homem, mas eu não sei o que ele queria.
Na manhã seguinte, o velho Manuel desperta á luz de uma pequena fresta no telhado. O ambiente era de um mais profundo breu. O local era um velho casebre, longe de qualquer vestígio humano.
Ao abrir os olhos, ele dá de cara com uma imensa bota por sobre o seu peito, quase que encostando em sua garganta. Era o pé de Mirabela que, encapuzada e calçando longas botas, o despertava pisoteando-o.
Com a voz embargada e sem poder se levantar, devido a dor da cabeça causada pela coronhada que levara, o velho Manuel implorava humildemente: - Onde estou? que lugar é este? e meu filho, o que foi feito dele?
Mas o silencio era infinito, Mirabela não esboçava qualquer frase. Não por medo de ser reconhecida pela voz mas, para torturar ainda mais o velho homem. E ele se dirigia á ela como se esta fôsse uma figura masculina. Mirabela estava mesmo parecendo um homem; pois o capuz não deixava em nada transparecer o seu rosto. A calça que usava era bem larga, as botas, a camisa preta, tudo masculinizado.
Com muito esfôrço o senhor Manuel consegue se sentar, e apavorado continua a insistir: - Moço, por favor me diga quanto quer. Eu pago o que fôr preciso. Faça o seu preço, mas liberte-me e principalmente, liberte o meu filho..
Cheia de ódio e puxando o capuz com muita força, Mirabela se apresenta ao senhor Manuel: - Seu filho não está aqui, o meu interêsse é em você mesmo, seu velho desgraçado!
O susto é imenso. Ao perceber que o encapuzado era ninguém menos que Mirabela, o senhor Manuel quase que tem um ataque do coração.
- Menina! então é você?
Com um falso sorriso no rosto, ela anda um pouco em círculo, depois pega uma adaga e aponta para o senhor Manuel que encolhe-se todo aos gritos apavorantes.
- Menina Mirabela, não me mate! eu imploro.
Ela porém, arrasta uma cadeira para perto dele e sentando-se muito a vontade, com as pernas afastadas num total estilo masculino, lhe diz num tom autoritário:
- Em primeiro lugar, não sou mais menina e nem tão pouco meu nome é Mirabela. Dirija-se a mim como: a bela criminosa, o nome como todos me chamam.
- Quer dizer então que você é a tal da...
- Sim, sou eu mesma! a bela criminosa que está em todos os jornais, apavorando a cidade. Sou eu!
- Mirabela, você..
- Pare de me chamar de Mirabela, maldito! aquela Mirabela morreu, não existe mais.
E aproximando-se do velho lentamente, ela encosta a arma em seu pescoço, enquanto cochicha bem perto do ouvido do velho homem:
-Quem está aqui agora, é uma criminosa, uma criminosa perigosíssima. E você sabe que arma é esta? RESPONDE VELHO MISERÁVEL, QUE ARMA É ESTA? CONHECE?
- Eu..eu não sei!
- Esta aqui é uma adaga, é uma das armas mais rápidas. O melhor estilo de ataque é perfurar, é uma arma cortante. É deste jeito que você vai morrer..bem lentamente. Não pretendo te matar com um tiro, porque um tiro é coisa rápida. Pretendo que você morra bem lentamente, sentindo muita dor..
O velho Manuel ajoelha-se diante de Mirabela, pedindo-lhe clemência, mas, ela só consegue gargalhar: - Era assim mesmo que eu queria te vêr; se humilhando. Isso é para você sentir o gostinho da humilhação, para você sentir na pele o que eu sentí, seu desgraçado..
Enquanto isso, na mansão de D.Vaggio, Carlão estava incontrolável, praguejando contra D.Vaggio e Mirabela:
- Ursolino, eu vou acabar com aqueles dois. D.Vaggio vai saber que eu não sou aquele idiota que ele imagina. Vai saber que sou um homem, que ele está lidando com um homem de verdade.
- Carlão! Carlão! veja lá o que vai fazer meu amigo. D.Vaggio é perigoso, você sabe disso.
- Eu não tenho nada a perder, também posso ser perigoso quando quero. Para isso ele mesmo me treinou. A perder só tenho mesmo a minha vida, o que também já não vale mais nada mesmo. Nem uma familia conseguí formar por causa deste infeliz.