A PRIMEIRA VEZ...O ADEUS AO VOTO DE CASTIDADE

Sempre que um obstáculo se interpunha na vida, fazia uma análise prévia a respeito do assunto. Realizava uma verdadeira operação de arquitetura mental. Comparava o tal obstáculo como uma pedra ou um monte de pedras. Se fosse uma única pedra independente do tamanho, faria dela um alicerce para sua vida, se várias fossem, delas uma construção seria erguida. Tanto no nível moral, espiritual, social, financeiro, educativo e ambiental.

Dava-se ao luxo de em suas palestras, questionar a respeito da criação da Terra, instigando seus pares a questionar o Livro do Gênesis e as teorias de Darwin.

Assim quando da citação “Crescei e multiplicai-vos”, que não cita em nenhum momento no Antigo Testamento a palavra: Amor.

Ao questionar a romântica situação de Adão e Eva, no Paraíso também questionava da existência dos primeiros hominídeos na África, no Período Paleolítico Superior, quando o homem começou a habitar as cavernas. Questionava a Bíblia em relação ao Velho Testamento, onde sempre entendeu que existia um Deus brabo, que mandava matar, aniquilar e destruir. E depois este Deus mandou o Cristo, que veio com a mensagem de Paz e Amor.

Questionava a denominação Deus. Entendia ser mais própria: Planejador.

Por vezes questionava este poder de Deus, de dispor da vida da gente. Era um Deus que dava a vida e tirava a vida. O que lhe deixava pirado era quando alguém concordava com o ditado: Deus dá. Deus tira.

Vivia a vida em turnos constantes. A maior parte entre cursos e palestras. Outra se recolhia para estudos e fazer um workshopp interno. Tipo de retiro psicológico.

E foi num destes momentos de reciclar-se internamente que munido de uma mochila com peças de roupas e material de higiene embarcou sem destino. Começou esta sua reciclagem no balcão de uma empresa aérea perguntando qual seria a próxima partida e para onde. Tem lugar ainda? Tem. Uma passagem, por favor. Procurou por uma lanchonete que servisse suco natural. Um de maracujá, por favor. Barras de cereais.

Poltrona oito. Janela. Vista plena e a sensação de liberdade. Senhores passageiros, dentro de 15 minutos estaremos pousando no aeroporto Augusto Severo.

Por favor, uma sugestão para descanso e sossego. O senhor está com sorte, estamos recebendo alguns turistas que irão embarcar e que estão sendo transportados pela Van da Pousado Lua Azul, e ela vai voltar vazia. Se o senhor se interessar aqui está um folder. Não mais que 2,00 horas e lá estava à dita Pousada Lua Azul.

Apartamento de casal? A senhorita está vendo mais alguma pessoa comigo? Foi o que sentiu vontade de responder. Não, senhorita. Solteiro por favor. Quantos dias, o senhor pretende permanecer? Acredito que uns 15 dias no máximo. Suas chaves. Bagagens? Não. Apartamento 17. Seu cartão de uso interno para despesas.

Enfim. Estava longe de tudo e de todos. Mochila vazia. Roupas guardadas. O relógio marcava, 17,00 horas. Um lanche não faria nada mal. Banho tomado. Entrou no espírito do “dulci far niente”. Por favor. O que os senhores servem de lanche? Sucos naturais, frutas nativas e orgânicas, sanduíches naturais. Os três. Pudera estava sem comer desde que saíra da sua cidade. Algo como 10 horas de viagem.

A praia tentadora e convidativa. Areia macia, fininha que nem só ela sabia ser. Mar azul e água morna. Descalço, ora andava pela areia, ora pelas águas do mar. E assim foi até o final da tarde. Um barco aqui, outro mais pra lá. E então o senhor gostou da nossa praia?

Linda. Sossegada. E nas noites de lua cheia então fica mais linda ainda. A que horas o jantar é servido? A partir das 20,30 até o último freguês sair. Ótimo. Vou descansar um pouco. Olhou no espelho e viu refletida a imagem de um homem que a vida ensinou a ser só, a questionar, a não perdoar atos impensados, a viver a vida e deixar os outros viverem as vidas deles. Aprendeu a viver o dia de hoje, sem se preocupar com o dia de amanhã.

Banho tomado. Bermuda branca, camiseta pólo branca, meias brancas, tênis branco, cueca branca, mais parecia um Pai de Santo em pleno verão. A estas alturas o estômago já dava os primeiros sinais de inquietação. Não só o relógio biológico marcava as horas, mas o relógio analógico marcava 21,30 horas.

O restaurante praticamente vazio. Não se faziam presentes mais do que 10 pessoas.

A variedade de pratos tipicamente litorâneos era o forte do restaurante.

Mesa escolhida. Por favor, quais os sucos naturais que servem? Um de abacaxi, sem açúcar e gelo. Levantou-se. Um prato com salada de rucula, tomates secos e azeite de oliva. Quando iniciou o retorno à sua mesa, eis que o desastre acontece.

Uma jovem simplesmente, derramou sobre a camisa e a bermuda, um copo de suco de beterraba. Foi um desastre total. Mais parecia aquele comercial da bebida Campari.

Desculpe moço. Era um verdadeiro quadro surrealista. O branco contrastando com o vermelho. Se não fosse homem, quem olhasse para sua bermuda, poderia pensar que estava menstruado. A moça não olha por onde anda? Olha só a situação. Desculpa senhor. O gerente acorreu em socorro ao hóspede colorido de beterraba. Saiu contendo a raiva. Roupa nova que havia comprado. Mais um banho. Camisa preta, bermuda preta e sandálias. Antes de entrar olhou, olhou e ficou ciente que nenhum perigo rondava.

Um jantar interrompido faz qualquer um perder o apetite. Mas neste caso a tranqüilidade do ambiente, a variedade de pratos e a fome falaram mais alto.

O dia estava simplesmente maravilhoso. Uma leve brisa, o sol iluminando aquele pedaço de paraíso, a areia branca e macia, as ondas arrebentando de forma moderada e a vontade de ficar isolado de tudo e de todos, lhe davam uma sensação de plenitude total.

Mas... eis que muda o cenário e a situação.

Bom dia. Aproveitando a manhã de sol? Virou-se e quem ali estava? A responsável pelo banho de suco de beterraba. Vim especialmente pedir mais uma vez desculpas pelo ocorrido e sei que o senhor como um cavalheiro que é já me perdoou e esqueceu do fato. Posso lhe fazer companhia? Por favor, sinta-se à vontade. Estava enrolada em uma saída de banho, que já dava para ter impressão do que havia por ser mostrado. E não se enganou. Deixou-a cair. Estava com um biquíni branco, sumário. Não vai entrar na água? Não. Prefiro o sol. Acompanhou aquele rebolado, passo por passo. Voltou toda molhada, com gotas de água escorrendo pelas coxas e o biquíni ensopado, ganhava corpo como algo tentador. Pensava como seria vê-la sem o biquíni. Parecia ter saído das capas de revistas masculinas. Deitou-se de bruço e estendendo o braço, pediu que lhe aplicasse o protetor solar, sem antes desamarrar a parte superior do biquíni. Meio sem jeito, começou a atender ao pedido. Foi até a altura do biquíni, melhor dizendo até a altura da bunda. Não precisa parar. Passe nas minhas coxas e nas pernas também. Missão cumprida e uma enorme ereção. Sentou-se e rapidamente colocou a toalha sobre as pernas, para não pagar o mico de uma ereção naquele momento. Mas outra surpresa o aguardava. Virou-se de repente e com os seios a mostra e ali permaneceu por um bom tempo. Colocou o chapéu sobre o rosto para protegê-lo dos efeitos do sol. Não falou uma só palavra. Aproveitou então a ocasião e saiu em direção ao apartamento.Com a toalha cobrindo uma ereção demorada.

Resolveu solicitar que a refeição fosse servida no apartamento. Queria ficar recluso e sossegado. Apagar aquela figura do seu pensamento. Não bastasse o fato do suco de beterraba, tinha ainda o fato de aplicar bronzeador pelo corpo da moça e mais ainda aquela apresentação espetacular dos seios, perfeitos, firmes, com auréolas lindas e bicos tentadores. Era muita emoção em dois dias de retiro psicológico.

À tarde saiu para caminhar e meditar a respeito da vida, dos fatores emocionais e psicológicos, da espiritualidade, das posições dogmáticas de ritos confessionais e o qual seria seus planos a respeito do futuro. Dinheiro nunca fora problema. Vivia de forma quase que espartana. Não se dava ao luxo de viver forma com a moda e tão pouco de possuir bens temporários.

O sol já dava sinais que iria tomar um banho no final o mar e iria dormir. A lua toda assanhada estava apressada para ser vista e adorada. O local de refeição àquela noite fora transferido para o jardim da Pousada Lua Azul. De fato era um local maravilhoso e convidativo. Novamente estava vestido com camiseta preta, bermuda preta e sandálias. Pura prevenção. Tomou assento à mesa e pediu uma água de coco, sem gelo.

E eis então que novamente acontece o imponderável. Quando estava olhando a mesa com os pratos a serem saboreados, depara-se com a dita moça que até então lhe havia propiciado momentos inusitados. Por que saiu sem falar nada? Ficou chateado por ter lhe pedido que passasse bronzeador nas minhas costas? Ou ficou ofendido por ter feito uma exposição natural do meu corpo? Não. Por favor, não entenda como tal. Simplesmente tinha um compromisso a ser resolvido. Já escolheu o prato? A caldeirada promete. De fato promete. Mas o linguado ao molho de maracujá com alcaparras está tentador. Posso fazer companhia? Claro. Será muito agradável a sua presença. Desde que eu não derrame suco de beterraba novamente? Risos. Vai tomar algo? Sim. A Carta de Vinhos, por favor. Um Sauvignon Blanc. Me acompanha? Prefiro água de coco. Mas sinta-se à vontade. Conversas banais. Comentários inócuos. Pergunta direta. O que você faz? Sou palestrante. Não acredito. Quais os temas? Na realidade focados na vida, no cotidiano, na estimulação psicológica de pesquisar o Eu interno e sobre religião e religiosidade. E você? Sou proprietária de uma editora de livros, que busca novos talentos. Por sinal o nome da editora. Assumi esta empresa após o meu casamento fracassar. Estou separada há seis meses. E vou dando conta do recado até então. Decidi descansar um pouco e aqui estou. E a conversa foi se tornando agradável e o jantar chegando ao fim. Nunca pensou em publicar os textos das suas palestras? Gostaria de lhe entregar nosso material de marketing. Me acompanha até o apartamento? A estas alturas dos acontecimentos, seria deselegante dizer não. Entraram, não deferia em nada do seu apartamento. Sente-se, por favor, vou providenciar o material que lhe falei, não demoro. Fique à vontade. E mais uma vez o inusitado aconteceu.

Apareceu totalmente nua, calçando uma sandália dourada, salto alto. Que lhe dava mais sensualidade. E então? Gostou? Foi um choque total. Derrubou a revista. Levantou-se boquiaberto. Paralisado. Abobado. Não teve nenhuma reação mecânica e física. Olhava algo que nunca antes havia visto. Ela aproximou-se de forma decidida. Pegou uma das mãos do então aparvalhado convidado e o levou para o quarto. Um beijo suave, molhado, sensual, provocativo o estimulou. Notou que o membro do assustado parceiro estava ereto. Sem mais delongas o despiu. A estas alturas dos fatos os corpos estavam unidos por um abraço erótico. Exploravam seus corpos. Acariciavam-se de uma forma quase que selvagem. Os seios já antes apreciados e vistos, agora estavam ali para serem beijados, sugados, acariciados. Deitados se envolviam de uma forma harmoniosa. As preliminares antecediam algo que ele nunca havia experimentado. Ela por sua vez comandava o jogo do amor e sexo. Deitado ele apreciada aquela escultura digna de um artista renascentista. Era uma verdadeira deusa. Aos poucos foi acariciando aquele homem desconhecido, mas que lhe dava uma elevada dose de desejo. Ficou de pé sobre a cama e sobre o parceiro. Foi descendo, descendo e colocou sobre a boca do seu convidado, o sexo úmido e quente. Pediu que o sugasse de forma vagarosa e constante. Atingiu o primeiro orgasmo. E então pediu que a penetrasse agora de maneira violenta e rápida.

E tal se concretizou. Sussurros baixos, eróticos, românticos compunham aquele espetáculo.

Não tinha condições de raciocinar. De dizer algo que contrariasse aquela situação.

Estava no limite de atingir o orgasmo.

Pensou rapidamente. Havia um ditado canônico que falava: A carne é fraca, mas o espírito é forte. Não. Agora a carne é que deveria ser forte para agüentar aquele furacão em forma de mulher, quanto ao espírito... Foi como uma explosão premeditada. Ambos, como que combinados atingiram o clímax. Maravilhoso, gostoso, relaxante e repousante. Um turbilhão de energia foi se dissipando nos corpos abraçados e saciados.

E então neste dia, o Voto de Castidade deixou de existir, era a primeira vez que aquele homem, que entrara para o seminário aos 16 anos de idade e agora com 34 anos de vida, experimentava o que era realmente uma mulher com todos os predicados e valores.

A noite entrou pela madrugada e os encontrou repetindo por inúmeras vezes posições, atos e beijos.

Só de uma coisa não abriu mão. Enquanto a desconhecida, nem tanto. Sorvia um Carbnet Sauvignon, ele continuava com seu suco natural. Afora o suco natural da parceira que era inigualável.

O retiro psicológico tomou outro rumo.

E a proprietária da editora Novos Valores, passou a contar com um colaborador em tempo integral...

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 11/11/2010
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