Mirabela- O amargo sabor do destino - Continuação -
O homem a encara de maneira firme e assustadora. E engolindo seco, apenas consegue balbuciar algumas palavras:
- Minha filha..
- Pai..você não morreu?!
- Não.. nós precisamos conversar..
Ele porém tenta tocar-lhe nos cabelos mas, esta afasta-se bruscamente, e olhando para o chão, já com os olhos rasos d'agua, como se o ódio que sentia naquele momento a impedisse de encará-lo, ela lhe diz com uma voz muito baixa:
- Poderia ter se passado mil anos, eu sempre o reconheceria. Mesmo que usasse o mais complicado dos disfarces.
E tentando ' quebrar o gelo ' naquele momento, ele tenta forçar uma falsa descontração:
- E então, o que está esperando para dar um abraço no seu velho pai?
No momento em que o senhor Ulisses tentava se aproximar da filha, esta o empurra muito revoltada: - por quê fez isso pai? por que deixou a gente acreditar que estava morto?
- Filha entenda, eu não tive escolha.
Muito trêmula, ela permanece de costas para a parede, respirando ofegante, enquanto comentava:
- Coitada da minha mãe! coitada de mim...
-..Coitado de mim também. Ou você acha que foi fácil? que está sendo fácil? Você não sabe o que passei...
- .. NÃO INTERESSA! EU NÃO QUERO SABER..
Mirabela perdeu totalmente o controle, e começa a gritar desesperadamente: - Eu não quero ouvir nada, pai você nos enganou. Eu te odeio.
O senhor Ulisses, era o que se pode chamar de, a mais tôla das pessoas. A senhora Albertina, tinha realmente razão quando o chamava de bôbo, porque era exatamente assim que ele era, um bôbo. E naquele momento diante da filha, sem conseguir dominar a imensa felicidade que sentia, ele sorrir e chora ao mesmo tempo:
- Filha, escute: eu sei que o cargo em que ocupo não é nada digno mas, eu agora sou importante. Lembra quando você dizia que queria que o seu pai fôsse alguem importante um dia? e então? de uma certa forma estou importante. Veja, sou eu quem decide os pseudônimos dos homens. E cada pseudônimo condiz com o comportamento de cada um. Até o meu foi escolha minha. Sabia que Al-Karizmi foi um matemático árabe, criador dos sinais hoje denominados algarismos? de uma certa forma, sou um criador de sinais, afinal..
- ..CHEGA!! EU ESTOU CANSADA, NÃO AGUENTO MAIS!!
Ela tenta sair correndo, porém o pai a segura pelo braço: - Espere Mirabela! precisamos conversar, não vá agora.
- Eu não quero escutar nada! eu não quero saber de você.
De repente ela baixa a cabeça, se esvaindo em lágrimas e resmungando baixinho, diz:
- O pai que eu sempre imaginei um herói, aparece para mim como um bandido. Oh Deus, o que falta mais acontecer na minha vida?
O senhor Ulisses, esfregando as mãos como se quisesse aquecê-las, para pensativo com os olhos lacrimosos:
- Mirabela, filha se eu lhe dissésse que entrei nesta vida, para poupar a vida de vocês, você acreditaria em mim?
Ela dá de ombros, agora com o rosto ensopado de lágrimas, e lentamente apenas responde: - Não sei!
- Filha, na época em que me pegaram, fui chantageado, ou eu fazia o que eles queriam, ou acabariam com as vidas que mais amo neste mundo.
Ela dá de ombros, e olhando firme para o pai, lhe diz:
- Preciso pensar pai, é muita coisa para a minha cabeça.
Dizendo isso, ela afasta-se vagarosamente, enquanto que o pai se põe em sua frente tentando impedi-la.
- Espere Mirabela!