Prelúdio de Guerra - O Nobre Português

Prelúdio de Guerra:

O Nobre Português

Virada do ano do nosso Senho de 1568 para o ano do nosso Senhor de 1569, Portugal. Dom Eurico observava o jovem rei, o admirava. Dom Sebastião possuía apenas 14 anos, havia assumido havia pouco tempo o trono, e o governador da cidade de Eurico se sentia na obrigação de protegê-lo, não eram poucos os homens que desejariam por um fim em sua vida. Além disto, devia pôr-lhe à par das informações secretas que a sua família, dinastia de Avis, e a dele, o clã Eurico, compartilhavam, mas tudo devia ser feito aos poucos.

– O que veio fazer aqui? – perguntou o rei enquanto o nobre adentrava o salão real.

Eurico manteve-se sério.

– Nobre rei, – disse fazendo um reverência e erguendo-se em seguida. – vim transmitir-lhe uma informação e questionar-lhe sobre tal.

O salão estava vazio, o rei olhou para os lados, não viu ninguém, os seus conselheiros haviam saído, como havia ordenado, o deixando a sós com o governador da maior cidade de Portugal. Olhou de volta para o nobre, sem disfarçar o olhar de dúvida.

– Fiz algo de errado ontem na cerimônia? – perguntou sem esconder a curiosidade. – Portei-me bem? Apesar de sempre viver rodeado a vida toda por estas coisas, sei que ainda não me acostumei com o lugar de meu pai e avô, uma vez que não tive muitos exemplos.

O nobre governador observou mais uma vez, sem esconder o sorriso. Ele era neto do rei João III, tornando-se herdeiro do trono depois da morte do seu pai, o príncipe João de Portugal, duas semanas antes do seu nascimento, e rei com apenas três anos, em 1557. Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como O Desejado.

Durante a sua menoridade, a regência foi assegurada primeiro pela sua avó, a rainha Catarina da Áustria, viúva de D. João III, e depois pelo tio-avô, o Cardeal Henrique de Évora. Mas, agora, com os seus 14 anos, senhor do seu reino, educado por jesuítas por toda a sua infância, demonstrava um fervor católico assombroso e, ao mesmo tempo, um grande militar. Porém as inseguranças próprias de sua idade eram abertas somente ao nobre Eurico, considerado como grande amigo e tutor, apesar de nunca ter sido designado para tal.

– Se portou com perfeição, nobre rei! – respondeu Eurico. – E, mesmo que errasse em algo, este agora seria o certo.

– Não gosto quando fala e age como os demais da côrte. – observou com tristeza. – Uma vez ensionou-me a enxergar através de falsos elogios.

– Sim, ensinei. – falou com segurança.

O rei olhou com ar de ironia.

– E então?

Não segurou a gargalhada.

– Foi uma das piores posturas tuas, mas garanto que, da próxima vez, não repetirá o que cometeu ontem de forma tão deliberada!

O jovem rei não conteve o sorriso.

– Viu a hora em que ordenei ao Cardeal abençoar a água para torná-la em vinho?

– Para um jovem rei, demonstra uma fé invejável.

– O Cardeal não acreditou que conseguiria...

– E conseguiu?

– É claro que não! Mas ele tentou convencer-me com uma desculpa que Deus não faria esse tipo de milagre apenas para continuar a festa.

– Por favor, nobre rei, comporte-se melhor da próxima vez, essa não é uma postura de um rei...

Dom Sebastião ainda mantinha o sorriso expresso no rosto.

– Irei me esforçar da próxima...

– Mas aquilo foi ótimo!

Dom Eurico sabia que o rei ainda era apenas uma criança, seu filho tinha quase a sua idade. Não poderia repreendê-lo por agir como tal, apesar do trono que ocupava.

O rei se recompôs.

– Mas então? – continuou. – O que veio fazer aqui? – Vim pedir-lhe permissão para partir para uma das colônias deste reino.

– Mas o que tanto lhe interessa naquela região para que deixe o governo de uma cidade para trás?

– Há rumores de que uma invasão sem precedentes, provocada pelos franceses, ou rebeldes franceses, tenha começado no Brasil.

– Eu irei junto. – disse um tanto empolgado.

– Não! – retrucou o nobre. – Você precisa ficar e governar.

– Então quem pretende enviar?

– Irei recrutar homens de minha confiança. – respondeu. – E, se possível, pedirei ajuda inclusive ao herói nacional do país de seu tio, Dom Filipe.

O rei sorriu.

– Duvido que Dom Esteves aceite...

Continua em:

Prelúdio de Guerra –

O Espanhol

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Boa Leitura!

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"Contos da Era Heróica" são contos anteriores à trilogia "Os Confins da Terra", clareando dessa forma um pouco mais o contexto da história e onde cada personagem se encaixa.

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J M Silveira
Enviado por J M Silveira em 06/11/2010
Reeditado em 06/11/2010
Código do texto: T2600323