Missão de Guerra - Parte 03

Missão de Guerra

- Parte 03 -

Em Espera

Em meio à floresta brasileira, 1569, colônia Portuguesa. Depardieu observava os demais guerreiros estrangeiros que se mostravam presentes em terras exclusivamente portuguesas. Havia o inglês portando uma espada e armadura de samurai, seu nome era Ray. Também via um outro guerreiro, também inglês, seu nome era Sir Gregory, esposo de uma mulher que, para qualquer outro tipo de olhar, geraria uma certa estranhesa, de nome Lien, também uma guerreira.

Sem esquecer os guerreiros nativos, surpreendentemente fortes. Avaantã, líder de sua nação, e Japira, sua companheira e mãe de seu pequeno filho, Yuatã.

Dom Eurico permitira um estranho grupo de guerreiros conviver ao seu redor, sem contar o próprio Depardieu, um francês, líder da Guarda Pessoal do rei.

Todos estavam presentes, haviam trazido uma sobrevivente da fazenda atacada, seu nome era Rosa de Lisboa.

– Por que ela não foi transformada? – perguntou Avaantã um tanto desconfiado e pronto a repreender. – Por que a trouxeram aqui? Sabe que ela pode ser um extremo perigo à nossa resistência!

– Calma, guerreiro! – era Dom Eurico. – Também estou curioso para saber por que essa moça continua bem. – virou-se para a jovem Rosa. – Você está bem, minha querida?

– Sim, estou, senhor Governador...

– Então, você me conhece?

– Sim, – respondeu com um sorriso. – seu rosto é conhecido nos recantos mais distantes de Portugal. Fico feliz que o senhor esteja aqui...

– Que bom. – disse virando-se para Avaantã. – É certo que ela possui algo de diferente de todos nós, por isso a imunidade. Seus curandeiros podem descobrir o que é?

– É certo que sim. – respondeu Avaantã em seu rompante. – Logo eles descobrirão o que a fez ser imune ao veneno que assola a minha nação.

O líder selvagem estendeu a sua mão à jovem, esta se sentiu acuada.

– Vá com ele, minha jovem. – interpelou Dom Eurico. – Não lhe farão mal algum. Em seu corpo, corre o segredo de nossa salvação.

– Como assim?

Dom Eurico sorriu.

– Estamos em meio a uma floresta, – respondeu ele. – com as mais diversas folhas, ervas e outras plantas. Uma mortandade desse tamanho logo apontaria para alguém imune a essa doença ou que tenha tomado o antídoto certo, esperando para que seja a segunda opção. Os curandeiros da tribo irão examinar qual foi a sua “sorte”.

A jovem perdeu um pouco do medo, deixando-se levar por Avaantã.

Depardieu continuava a observar, parecia não faltar mais nenhum guerreiro desse estranho grupo.

– O que faremos agora que estão todos aqui? – perguntou Depardieu.

– Esperamos. – foi a resposta de Dom Eurico. – Ainda falta um homem para nos trazer a informação mais importante.

– Ainda há mais um homem a se juntar a nós nesse estranho grupo que você reuniu? – perguntou com espanto. – Tinha me falado apenas dos seus “companheiros de armas”! O que ele é dessa vez? Russo?

Dom Eurico abriu um sorriso.

– Seu gosto por companheiros de armas é bem complicado... – concluiu Depardieu em francês.

***

Investida

Há alguns quilômetros da aldeia de Avaantã, o guerreiro espanhol Victor, um dos homens de maior destaque dos tércios espanhóis, observava, por entre as folhagens da floresta densa, a patrulha de alguns monstros, outrora, marinheiros franceses. Eles pareciam buscar por sobreviventes do naufrágio de um navio, também francês, que levou a pique uma de suas embarcações. Porém, parecia não ter havido sequer um sobrevivente.

Victor apenas observava.

Esses monstros não pareciam tão fortes. Na verdade, a infecção deles parecia ter ocorrido há pouco tempo. Quanto mais antigos, mais imunes e fortes são, assim como o tempo de incubação da praga no corpo desuas vítimas se proliferava mais rapidamente.

Victor sabia que poderia vencê-los e abstrair a informação que precisava o quanto antes: “onde se encontrava a última embarcação”?

Ele sabia que o plano original era dominar essa terra, criar um povo de infectados e, assim, dominar todo o resto do mundo, incluindo os reinos da Europa.

Destruindo a embarcação, impediria que eles atravessassem o mar, destruiriam a praga por aqui e ainda impediria que a próxima embarcação que viessem em ajuda fosse atacada. A névoa que costumava cobrir o litoral desfavorecia em muito qualquer outra nave de guerra. Foi sorte a última embarcação conseguir derrubar um dos navios dos monstros. Faltava apenas um.

Victor não podia mais esperar.

Mirou com o seu mosquete, disparou na cabeça de um dos monstros. As feras se assustaram, tomando posições ameaçadoras, como os monstros que eram, rosnando e mostrando os dentes. Correndo de forma sobre-humana para dentro das folhagens, esconderam-se na mata para alcançar o agressor.

Victor manteve-se calmo, captando a movimentação das folhas e o seu barulho, vindo em sua direção. Levantou uma pistola em direção ao mais próximo. O monstro saltou de meio às folhas com um urro ameaçador, apontando as garras em sua direção, o disparo foi instantâneo, no centro da testa.

Caiu morto.

Outra criatura saltou em sua direção, mais outra pistola deflagrou o seu disparo. Mais um monstro veio por terra. Victor sacou a sua espada, os monstros ainda eram novos e não tão poderosos, sofreriam com a sua lâmina. Foi o que aconteceu em seguida com mais uma criatura que saltou em sua direção, recebendo o corte da lâmina na altura do pescoço, fazendo a sua cabeça rolar.

Mais cinco monstros se apresentaram, Victor não temeu, puxou uma espada menor e apontou em suas direções. O primeiro avançou, porém esta apenas sentiu a sua garganta sendo cortada pela lâmina menor, recebendo o golpe da espada em seu pescoço em seguida.

Outros dois atacaram ao mesmo tempo, porém Victor se desviou com facilidade, cravando a espada menor na nuca de um, decapitando o outro.

Restavam apenas mais dois monstros.

– Vou perguntar uma última vez! – disse de forma ameaçadora. – Onde está o navio e o seu senhor?

Europa, Porto de Lisboa, Portugal. Meses atrás.

– Dom Esteves. – cumprimentou Dom Eurico, achegando-se ao General dos Tércios espanhóis.

– Governador. – disse em resposta.

Ambos olhavam para o grupo que havia se reunido de forma tão inusitada. Percebia-se os guerreiros ingleses Sir Gregory e Sir Ray; a esposa de Sir Gregory, a guerreira Lien, uma chinesa; e o árabe Abd El-Ramahn.

– Se quer me convidar para participar de outra aventura, – era o Dom Esteves novamente. – a minha resposta continua sendo a mesma. Somente um imprevisto como esse poderia nos unir novamente.

– Brasil, – disse Eurico. – a antiga terra de Vera Cruz.

– A maior colônia portuguesa. – disse em resposta.

– Ela breve será tomada por invasores franceses exilados e parece que nenhuma força naquela colônia parece ser capaz de deter os invasores. – sentenciou o governante portugueses.

– Eles são tão poderosos assim? – observou Esteves. – Meu Deus.

– Se dominarem essa colônia, os territórios espanhóis serão os próximos.

– O ser-humano é um ser insaciável.

– Por isso, temos guerreiros que convido em minhas aventuras.

– Governador, eu...

– Apenas escute.

Esteves se calou.

– A colônia está sendo tomada e parece que nada consegue impedir esses invasores. A coroa francesa diz desconhecer as ações de tais invasores, são exilados.

– Eles lançaram o seu lixo no terreno dos outros. Muito prático.

– Eu irei intervir. – sentenciou Dom Eurico.

– Não. Você é um governador e a cidade precisa de ti. Deixe isso para que a coroa resolva.

– Não posso.

– Por quê?

– Não posso lhe dizer...

– Em bom espanhol: “Não quero contar pra você”?

– Não. Em bom português: “Parece que o fim do buraco é mais embaixo, então não desejo especular”.

– Hum...

– Preciso de apoio e sei que não existe homem mais militarmente preparado do que você. Homens não serão problemas...

– Solicite a um dos seus generais. – concluiu Esteves.

– Esses já partiram, e não sabemos o que aconteceu lá.

– Já enviaram os seus melhores homens?

– Sim.

– Sem retorno de qualquer notícia

– Nem um bilhete...

– E por isso recorre a mim...

– Precisamos de um homem experiente em campos de batalhas diferente ao Europeu ou Asiático. E sei que já esteve na colônia espanhola anteriormente.

Hoje. Terras selvagens. Colônia portuguesa. Brasil.

A floresta densa estava estranhamente silenciosa. Mesmo se parasse para escutar os animais, ainda teria dificuldade. O local estava sem vida, ou algo havia espantado os animais da região. O sol ainda mostrava a sua luz. Victor continuava a cortar a floresta, seguindo as informações que arrancara dos seus outrora adversários. Havia uma baía, no qual as embarcações (agora embarcação) eram devidamente escondidas. Com pontos altos de observação, águas profundas e vasto espaço de navegação, mais de uma nau poderia sair e retornar rapidamente.

Victor ouviu o som do mar ao longe. Foi se aproximando furtivamente, evitando qualquer possível inimigo ou guarda de vigia. Ele esgueirou-se por entre a mata e as árvores, até se aproximar cume de um barranco. Escondeu-se entre as árvores.

Europa, Porto de Lisboa, Portugal. Meses atrás.

– Eu não acredito. – era Esteves, continuando a conversa. – Você não aceita ouvir um “não” como...

– Há algo de errado naquelas terras. As forças portuguesas não conseguiram impedir seja lá o que for que estiver surgindo. Após dominarem a vasta colônia, imagino qual deverá ser o próximo passo. Virão para cá ou dominarão toda a América, não duvido. Temos que evitar esse avanço a qualquer preço.

– Não acredito que quer fazer eu me sentir culpado.

– O inimigo está se sentindo à vontade em terras estranhas. – disse Eurico em tom sério. – Quando vierem para cá, serão terras familiares, o perigo será maior.

– Está exagerando.

– Preciso de um homem com a capacidade que você possui.

– Não posso ajudar. – concluiu o espanhol. – Preciso seguir para a península arábica, caminho oposto ao que me oferece.

– E o que pode fazer? – insistiu Eurico.

– Como?

– O que você pode fazer? – continuou. – Tem de haver um jeito para que isso possa funcionar. Precisamos cuidar desse assunto.

Hoje. Terras selvagens. Colônia portuguesa. Brasil.

O guerreiro espanhol Victor prosseguia. Ele sabia que, para Dom Esteves o indicá-lo nessa tarefa, o inimigo não seria fácil de derrotar. Mas não esperava que fosse tanto. Adentrou o covil sorrateiramente, esperando finalmente descobrir qual a base de apoio e avistar o último navio.

Europa, Porto de Lisboa, Portugal. Meses atrás.

Eurico continuava olhando para ele insistentemente.

– Sabe? – principiou Esteves. – Tem alguém que eu conheço que sabe tudo o que eu sei. Sabe tudo sobre tudo que você precisa por lá.

– É mesmo?

– Pode fazer o que você precisa ver feito tão bem quanto eu. – continuou Esteves. – Eu o treinei e lutamos lado a lado. Mesmo conhecimento sobre o novo mundo. Tudo mais. Se vocês não retornarem destas terras em sessenta dias, então partirei ao seu encontro, mas acredito que, com essa pessoa, não será necessário.

– Você confia nessa pessoa?

– Plenamente.

– Alguém que eu conheça?

– Não sei. Acho que não.

– Quem é?

Hoje. Terras selvagens. Colônia portuguesa. Brasil.

Victor observava. Subiu lentamente e silenciosamente até o mais alto ponto de observação, guardado por um dos recém-infectados, deveria eliminar tudo que o denunciasse. Atacou pela retaguarda, cortou o seu pescoço, impedindo-o de dar o alarme de invasão. O monstro tentou reagir, teve a cabeça arrancada. Seguiu para o ponto de vigia, percebeu a embarcação mais ao fundo.

Ainda na praia, percebia-se uma certa movimentação. Fitou os olhos. Percebeu os infectados mais antigos em formação militar. Parecia que haveria uma cerimônia, como honras marciais. Algo entorno de duzentos monstros tomavam posição frente ao seu líder. O infectado mais antigo mostrava-se em um palanque improvisado, superior aos demais.

“Mesmo após eliminarmos todos aqueles monstros, ver a morte de todos aqueles marinheiros infectados naquela batalha naval, sem contar que os corpos queimados para evitar a proliferação dos doentes, ainda assim, temos todos esses inimigos? Não temos como vencer!”

De súbito, pareceu que, mesmo a toda aquela distância, o filho bastardo da rainha-mãe, o primeiro infectado, farejou o cheiro de Victor. Ele olhou diretamente para o espanhol, sem dizer uma única palavra, todos olharam na mesma direção.

“Preciso sair daqui.”

***

A Perseguição Os Alcança

O estranho grupo montado por Dom Paulo Barros Eurico esperava o retorno de Victor. Para todos os efeitos, não havia restado muitos monstros espalhados pelas redondezas, precisava-se encontrar o foco, o maldito filho bastardo da rainha-mãe.

Sir Ray aguardava recostado em uma árvore, com a sua katana repousando sobre o seu ombro. Lien caminhava e sorria ao ver as crianças da tribo se divertindo, parecia que não havia um perigo tão real próximo a eles.

– Elas não têm com o que se preocupar. – era Japira, dirigindo-se à jovem chinesa. – Confiam plenamente em nós para protegê-las.

Lien observou o pequeno Yuatã correr em direção da mãe, esta o ergueu em seu colo.

– Logo eles crescerão e se tornarão os nossos líderes, guardiões, guerreiros, campeões.

– Vocês possuem um bom cuidado com os seus filhos. – observou Sien. – Espero logo ter o meu.

Japira sorriu.

– Seu filho será um grande guerreiro, seguindo a força dos pais.

Era a vez de Lien sorrir.

– Espero que sim.

Depardieu mostrava-se impaciente.

– Quanto mais esperaremos? – perguntou, logo anoiteceria. – Será difícil efetuar qualquer investida contra o inimigo durante o breu da noite.

– Tudo ao seu tempo, meu caro francês. – era Dom Eurico. – Tenho certeza que o guerreiro que enviei para exploração logo retornará com o que precisamos saber.

Os guerreiros da tribo e os soldados remanescentes do grupo militar que Eurico liderava estavam prontos. Os curandeiros ainda investigavam o que a pequena moça, Rosa de Lisboa, havia ingerido para evitar a infecção.

– Nós vamos destruir o inimigo com ou sem luz! – era Avaantã. – Não importa!

– Quanto mais cedo ele retornar – era Sir Gregory. – melhor poderemos montar a nossa investida.

Todos os guerreiros, selvagens ou não, aguardavam pelo retorno de Victor. De súbito, um corpo se lançou da floresta, irrompendo aldeia à dentro.

– Victor? – era Eurico, seguido pelos demais, correndo em sua direção, ele estava muito ferido. – Você está bem?

Dom Eurico virou o soldado.

– Desculpe-me. – disse ele. – Eu falhei com vocês.

– Do que você está falando? – era Depardieu.

Eurico observou as suas feridas, haviam marcas de garras e mordidas, ele logo se transformaria.

Avaantã rapidamente percebeu a gravidade da situação. Um cheiro diferente invadiu as suas narinas.

– Todos! – gritou. – Escondam as crianças! Todos os guerreiros! Preparem-se!

Sir Ray, Sir Gregory, Lien, Avaantã, Japira, Dom Eurico, Depardieu e todos os outros guerreiros, selvagens ou não, prepararam-se para a investida. Aqueles que não lutariam, mulheres mais frágeis e adolescentes, cuidavam de resguardar as crianças, correram para a ocara maior.

Um silêncio profundo se estabeleceu de súbito.

Victor levantou-se, muito ferido, mas pronto a lutar. Depardieu o observou, logo ele se transformaria. Foi quando uma das criaturas saltou de meio à selva sobre um dos soldados portugueses, este atravessou a lâmina no peito do monstro à medida que descia sobre ele.

Vários outros saltaram da floresta, alguns urravam.

O espanhol Victor observou. O número de defensores não se mostrava suficiente para ressitir a uma investida com inimigos tão numerosos e cruéis. Um grupo de monstros avançou, correndo sobre os braços e pernas, pareciam endemoninhados, gritando e salivando.

Depardieu golpeou com a sua nova espada, cortando metade da face do monstro mais próximo, este reagiu como se nada fosse, pulando com as garras em direção ao pescoço do francês. Depardieu agiu mais rápido do que pensou, passando a espada, em forma de arco, à sua frente, arrancando as duas mãos do monstro ao mesmo tempo, forçando-o a cair em seguida. Não titubeou, arrancou a cabeça, ainda impressionado com a resistência do monstro, mas aliviado por ele não possuir técnica alguma, já havia enfrentado algo parecido no passado. Avançou no seguinte.

Sir Ray tomou posição de ataque, liberando a guarda de sua espada com o polegar esquerdo. O primeiro monstro avançou saltando como um lobo. Sir Ray cortou o ar na direção contrária, transversalmente, cortando o monstro da ponta da cabeça até altura do tronco, virando-se em seguida e decapitando o monstro mais próximo. Um deles o agarrou pelas costas, pronto a mordê-lo. Ray não esperou um segundo sequer, avançando a ponta de sua espada em direção à sua retaguarda, por sobre o ombro e cravando no rosto do inimigo, puxando a lâmina de volta e para cima, retalhou-o.

Lien arremessou os seus punhais na altura dos pescoços de seus adversários, forçando-os a diminuir o ritmo da investida, atacando outros de imediato. Uma criatura saltou sobre a guerreira, caindo ambos por terra. Lien rapidamente apoiou-se com os braços, de costas para o chão, jogando o inimigo com as pernas para trás. A guerreira chinesa levantou-se em um salto. A fera avançou em contra-partida. Lien saltou por cima cravando um punhal em sua nuca, o monstro caiu inerte.

Lien abriu um sorriso.

– E ainda se dizem “monstros”. – disse recolhendo o punhal de sua nuca, estavam acabando.

Sir Gregory riscava o ar com a sua espada chinesa, infringindo dano ao maior número de adversários possíveis. Sentiu, de súbito, um vulto às suas costas. Saltou para frente, virando em pleno ar, atacando com a sua espada. Foi então que percebeu o monstro. Tudo pareceu ocorrer lentamente. A criatura avançava de forma feroz, com as garras das mãos vindo em sua direção. A lâmina de Sir Gregory cortou os dedos e a boca da fera, este caiu rolando pelo chão. Tentou levantar-se, sua cabeça foi arrancada.

– Poupem energia! – gritou Sir Gregory. – Esses guerreiros são os mais fracos!

– E eu achando que realmente tinha melhorado na minha capacidade de combate. – era Lien golpeando mais outro, perfurando o seu pescoço. – Alguns deles estão falando em francês! Sabem o que estão dizendo?

– Algo sobre arracar nossos corações e devorar as nossas almas. – era Depardieu.

– Eu sabia que estavam falando da gente! – concluiu ela.

Alguns guerreiros não tinham tanta sorte quanto o grupo formado por Dom Eurico. Alguns soldados portugueses tinham as suas carnes estraçalhadas pelas feras. Os guerreiros selvagens lutavam com vigor, seus tacapes arrancavam nacos de carne das cabeças dos monstros, neutralizando-os em parte, quebravam os pescoços em seguida com os seus golpes, mas alguns eram engolfados pelo mar de inimigos que se formava.

Avaantã era muito forte, mesmo para os monstros. Ele agarrou um pelo pescoço, neutralizando qualquer ataque do adversário. Quebrou a cabeça do adversário com o seu tacape. Outro avançou pelo seu lado, o tacape subiu em franca ascendência, afundando a face do monstro, deslocando a cabeça, um segundo golpe na nuca finalizou o inimigo ainda no chão.

Japira sentia-se feliz por encontrar adversários quase à altura de sua força. Ela atacava com facas de pedras, cravando em seus pescoços e abrindo as suas artérias. Porém as feras continuavam avançando, mesmo sangrando fortemente. Era nessa hora que sua força lhe valia. Com os seus punhos, quebrava-lhes os pescoços. Outro monstro avançou sobre ela, ela virou-se rapidamente, desferindo o soco mais forte que podia oferecer, apesar da resistência da fera, foi impossível para ela não ser jogada para trás. Agora era Japira que avançava como uma fera, soltando o seu grito de guerra sobre o monstro.

Dom Eurico atacava com agilidade. Um monstro avançou, apenas para sentir a lâmina cortando o seu pescoço. Outro avançou.

– Recue! – ordenou, o monstro não deu ouvidos. – Nós estamos preparando uma cura, vocês vão ficar bem!

O monstro sorriu.

– Eu não preciso “ficar bem”! Eu preciso é da sua carne!

Eurico bloqueou o seu ataque.

– Então você não merece minha misericórdia. – concluiu.

O golpe seguinte arrancou a sua face, derrubando-o no chão, coberto de dor.

– Essa doeu! – era Lien.

– Continuem atacando! – gritou Avaantã.

Os guerreiros continuavam avançando ferozmente. Ao poucos, os invasores foram sendo derrotados. Até que sobraram poucos monstros e defensores de pé. Nenhum soldado português havia sobrevivido, poucos guerreiros selvagens ainda estavam de pé. O estranho grupo montado por Dom Eurico continuava. Avaantã e Japira apenas pensavam nas crianças, elas não poderiam ser tocadas.

– Quantos monstros ainda estão de pé? – era Depardieu. – Alguém consegue contar?

– Vejo apenas onze! – era Sir Ray.

Os monstros lentamente recuaram, fugindo dentre a selva densa.

– Alcancem essas feras! – foi a ordem de Avaantã.

Vários guerreiros selvagens partiram em perseguição. O grupo ficou para trás.

– Victor, – era Eurico. – você está bem?

Victor suava frio, estava deveras ferido. O sangue contaminado corria as suas veias, logo se tornaria aquilo que não desejava.

– Localizei o covil das feras e estimei quase duas centenas de monstros antes que me rastreassem. Acredito que, desses, mais da metade veio em meu encalço.

– Isso significa que eliminamos a grande maioria. – concluiu Sir Gregory.

– Porém todos os meus homens foram mortos, – era Eurico. – e a maioria dos guerreiros selvagens expiraram.

– Morreram com honra, – concluiu Avaantã. – lutando contra um inimigo mais poderoso.

– Você pode nos levar a esse covil? – perguntou Eurico mais uma vez.

– Sim.

– Eles enviaram os mais jovens contra nós, – era Sir Gregory novamente. – os mais fracos. Sir Ray, Lien e eu, enfrentamos um dos primeiros infectados e sabemos o quanto eles são fortes. Estou certo que eles estão se preparando para avançar.

– Isso não acontecerá de novo. – retrucou o líder selvagem, virando-se para os poucos guerreiros selvagens que ainda encontravam-se de pé. – Minha nação não será atacada novamente! Convoquem os guerreiros das outras tribos! Convoquem de outras nações! Faça ressoar a mensagem que o ataque final aos monstros ocorrerá ainda essa noite!

Continua...

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Boa Leitura!

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"Contos da Era Heróica" são contos anteriores à trilogia "Os Confins da Terra", clareando dessa forma um pouco mais o contexto da história e onde cada personagem se encaixa.

Neste caso, veremos um pouco mais das aventuras vividas pelo senhor Depardieu, Eurico, Avaantã, Lien, Sir Gregory, Sir Ray e, agora, Victor.

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J M Silveira
Enviado por J M Silveira em 03/11/2010
Código do texto: T2594777