Mirabela- O amargo sabor do destino - Continuação -
D.Vaggio vira-se para ela, pedindo a Carlão que retire-se. Mirabela conserva-se imóvel. Enquanto que ele silenciosamente aproxima-se dando voltas em tôrno dela.
Depois de dois minutos de silencio, sempre dando baforadas de fumaça em seu charuto, ele finalmente decide falar, o que para ela representa grande alívio, pois aquele silencio a fazia suar e gelar ao mesmo tempo.
- E então? estou esperando uma explicação! pode me dizer onde esteve mocinha?
Com a voz trêmula, ela então responde: - Perdida! ou quase perdida, Carlão me deixou em um lugar que eu não conhecia.
- Você não foi ver sua familia e seus amigos, foi?
Ela fica um pouco confusa, afinal não era fácil mentir, principalmente para D.Vaggio.
- É claro que não! eu lembro muito bem que o senhor ameaçou a minha avó.
E dando lentos passos com as mãos para trás e o charuto na boca, ele então aproxima-se dela:
- Você não seria tão burra! mas, já que voltou, vamos esquecer este assunto. Tenho um presente para você.
- Um presente para mim?
- É isso mesmo! você fez um belo trabalho, e eu costumo recompensar áqueles que se saem bem em suas tarefas.
D.Vaggio então abre uma gaveta, e retirando um estôjo de veludo o entrega á Mirabela pedindo-a que abra a pequena caixa. Ela fica encantada ao ver que lindo colar de diamantes acabara de ganhar. E fitando-o, lhe diz assustada:
- É lindo, D.Vaggio, mas eu não posso aceitar!
O homem porém se irrita, ele não aceita qualquer recusa a um presente seu.
- Deixe de frescura! Você não está mais naquela cidade miseravel, convivendo com um bando de miseráveis. Você agora pertence a familia Vaggio, e deve andar como uma verdadeira líder de uma familia.
Dizendo isso ele afasta-se, deixando-a com o lindo colar nas mãos. Ela porém o chama: - D.Vaggio, espere!
- O que quer?
O ódio que tomou conta do seu peito permanecia vivo e ativo. As lembranças de Santiago com a espôsa, da mãe e a avó sorridentes ao lado da nova neta, e ainda as sórdidas gargalhadas do maldito senhor Manuel, permaneciam ainda muito vivas dentro dela. E foi isso o que a forçou desabafar com D.Vaggio.
- De hoje em diante quero que o senhor me passe todos os esquemas. Me diga tudo o que queres que eu faça e eu farei. Não pouparei nada e nem ninguém.
O homem sorrir satisfeito, não entendendo muito o que se passava na cabeça dela.
- Ora, Ora! o que te fez mudar de idéia? será que foi este pequeno passeio pela cidade?
- É que eu cheguei a conclusão de que o senhor está certo. As pessoas não são exatamente aquilo que aparentam ser.
D.Vaggio a encara satisfeito e balançando a cabeça positivamente lhe diz: - Muito bem! boa menina.
E quando ele tenta retirar-se novamente, ela outra vez o interrompe:
- Mas eu queria que o senhor me autorizasse a fazer um serviço..
- Qual?
- Quero sequestrar uma pessoa.
- Quem ?
- O velho Manuel.
O homem esboça um leve sorriso balançando a cabeça afirmativamente: - Faça o que quiser! desde que não atrapalhe os seus serviços.