A Caverna de Mirógenes
Por tempos sem fim, Mirógenes avançou pelas galerias da caverna. Sua bravura atravessou todos os continentes, relatando como esteve diante de feras terríveis, espremido pelas garras da loucura, e mesmo assim triunfante. Sua espada cantou pelos ecos da rocha, em espaços onde a treva somente era rompida pelo brilho dos olhos de algum predador.
Afinal, por que estava ali? A versão mais famosa da lenda dizia ser devido a um sonho, onde uma ninfa de sensualidade indescritível o amou e depois partiu, falando de uma gruta onde poderiam se encontrar outra vez. Mirógenes não comeu ou dormiu durante vários dias; na verdade, ele não precisava. Sentiu uma nova força dentro de si, despertando sentidos que jamais se dera conta, faculdades e reflexos permitidos somente a um semideus. Ouvira falar das maravilhas que o amor de uma ninfa poderia trazer, e de como definharia caso não correspondesse... Não precisou de mais do que um mês para sentir os efeitos que nenhum remédio ou feitiço era capaz de amenizar.
Lançou-se numa viagem desesperada, tendo no instinto o único guia. Seu espírito se acalmava com a proximidade do local: foi assim que chegou a um ponto além dos limites civilizados, um abismo cercado de belezas nunca antes tocadas pelo homem. Lá sua amada o esperava.
E assim, Mirógenes a encontrou depois de tanto sacrifício. Seus feitos e motivações mudaram de acordo com cada lenda: numa, ele já era nascido semideus, e a amante prometida era sua mãe ou irmã, noutra era um pescador com a família debilitada pela fome, e a ninfa lhe indicara o esconderijo da Cornucópia. Todas convergiam numa conclusão: seus risos podiam ser ouvidos através do vento, indicando à rota para a caverna que recebeu seu nome. Quem ali chegasse, encontraria a felicidade plena.