Mirabela-O amargo sabor do destino - Continuação -
As mulheres de D.Vaggio estavam cada vez piores. Humilavam Mirabela a ponto de tirarem-na do sério. D.Vaggio estava realmente conseguindo o que pretendia, despertar ódio em Mirabela, tirar dela toda aquela ingenuidade, aquele ar de boa moça. Na verdade, o que ele queria era mudar a sua índole, para desta forma transformá-la numa grande e perigosa criminosa.
Ela agora estava rebelde e áspera, já não aparentava mais tanta leveza e suavidade. Era como se toda a sua doçura houvesse se dissipado, para dar lugar ao ódio e a revolta. Certa vez ela até saiu no tapa com uma das mulheres, o que deixou D.Vaggio muito feliz. E mais tarde...
- D.Vaggio, com licença, preciso lhe falar..
Ele encontrava-se como sempre, na penumbra do seu escritório, sempre vestido de negro, capuz por sobre o rosto e o velho charuto na boca. Girando a cadeira, volta-se para Mirabela.
- O que quer minha flor?
Ela aproxima-se devagar e puxando uma cadeira defronte a ele, senta-se e lhe diz tristemente:
- Eu quero voltar para a minha casa. Dois anos se passaram, dar para imaginar a que ponto está ocoração da minha mãe? e da minha avó então..?
Ele levanta-se, solta mais uma baforada, e por trás dela, enquanto segurava no encôsto da cadeira lhe diz ao pé do ouvido:
- O quê você ainda quer com aquelas duas que não estão nem aí para você?
E voltando-se para ele, ela exclama: - O senhor está louco! minha mãe e minha avó me amam.
D.Vaggio se irrita, e esmurrando a mesa ele grita: -Não fale assim comigo garota! fique sabendo que eu fiz uma excessão para você, porque não é qualquer um que entra na minha sala sem ser anunciado.
Porém Mirabela não tem medo, ele já a tinha capacitado muito bem para enfrentar o medo. E ela então o desafia:
- Comigo o senhor pode fazer o que quiser, e falar o que quiser também, mas da minha familia o senhor não fala não.
- E quem você pensa que é para falar comigo neste tom?
- Eu sou a mulher que o senhor quer transformar numa criminosa.
D.Vaggio sabe que deve ser passivo, precisa manter o controle a todo custo, e puxando a cadeira para perto dela, ele fala calmamente:
- Meu amor, desculpe este velho homem. O que estou falando é fato.
- O que o senhor quer dizer com isso?
- Estou por dentro de tudo o que se passa com a sua familia, e sei muito bem que já te esqueceram.
Desesperada ela então se desanda a gritar histericamente:
- É MENTIRA! EU NÃO ACREDITO EM VOCÊ! minha familia me ama, sempre me amará.
- Desde que você desapareceu, elas choraram um pouco, depois logo esqueceram. Ontem mesmo a sua mãe estava as gargalhadas com uma vizinha. A sua avó então, agora está com uma moça que a ajuda com aquela cadeira, é um grude só. Ela costuma dizer que é como se fôsse uma netinha para ela.
- O..o senhor tem certeza?
- Estou sempre por lá, e ontem não foi diferente. Minha jovem, eu sempre acompanhei a sua vida de longe, a sua mãe não te ama, ela nunca te amou...
- Mas a minha avó sim..
- Por conveniência..ela sempre precisou de você para ajudá-la não?
- Mas mesmo assim eu quero ir embora daqui.
Neste momento Carlão entra,comunicando-lhe da encomenda que havia chegado.
- Com licença chefe! a encomenda chegou.
- Muito bem! eu já vou entrar em contato com eles. Obrigado.
D.Vaggio levanta-se e dar a conversa por encerrada, despedindo-se de Mirabela.
- Minha jovem, acho que esta nossa conversa vai ter que ficar para depois.
Ela afasta-se triste, quase acreditando no que D.Vaggio lhe dissera. Teria mesmo aquelas a quem ela tanto ama lhe esquecido? não seria possivel que em dois anos alguém fôsse esquecida tão de repente. Esta talvez fôsse a dor que ela jamais imaginara sentir em sua vida, a dor da indiferença e do desprezo, por parte daquelas a quem tanto ama.
Tomada por um ódio avassalador, ela dirige-se até seu quarto, tranca-se e como que desabafasse, passa a gritar e a esmurrar as paredes. Atira um pequeno jarro no espelho da parede espatifando-o. Depois puxa a colcha da cama e cai sentada, chorando muito.