Mirabela- O amargo sabor do Destino continuação

Outra vez D.Vaggio levanta-se, com as mãos para trás ele acabava de se degustar mais uma vez com uma boa baforada de seu charuto.

De súbito, volta-se para ela com uma voz firme e um tanto rude, ato este que o faz engasgar devido a fumaça. Ele então tosse e pigarreando muito eleva dois dedos á boca como que limpando a saliva.

- Escute aqui garota! fique você sabendo que eu roubo sim. Mas eu roubo quem tem muito dinheiro, comigo o crime é muito organizado. Saiba que eu não me sujo com pouca coisa não! se algum dos meus homens roubar um pipoqueiro ou um pequeno comerciante que seja, aí sim... não tem conversa, eu...

-... O senhor o quê? já sei, o senhor mata a pessoa não é?

D.Vaggio agora a encara de forma desafiadora : - Você está certa! eu mato na mesma hora.

Neste instante os olhos de Mirabela o fitam com um certo pavôr, ela não sabe se grita ou se sai correndo. Jamais em sua vida conhecera alguém ´tão sórdido e frio, sabia ,agora com certeza que estava diante do mais perigoso e temível bandido. Convence-se de que nada mais lhe resta, senão apenas ouvi-lo em silêncio, ainda que por dentro sua alma estivesse gritando. E ele então continua...

- Minha jovem; você ainda não sabe de nada; Eu já fui obrigado a liquidar muitos integrantes da 'familia' que roubaram pobres trabalhadores, assalariados e pais de familias. Odeio injustiças, não admito que assaltem a classe pequena. Se isso acontecer, dou cabo da vida do vagabundo na hora e ainda mando idenizar a o assaltado.

D.Vaggio está tão deslumbrado contando os seus atos, que sorrir a todo momento, era sempre assim, quando tinha que contar as suas peripécias para as pessoas do seu convívio. Para ele, toda a sua forma de agir no submundo do crime, era quase que como levantar um troféu. E ele prossegue:

- Meu negócio é com gente grande. Gente que tem muito. Pessoas que, se vivessem duzentos anos, nunca conseguiriam gastar os milhões que têm. Eu tenho muitas pessoas que trabalham para mim, controlo cada uma, sei de tudo o que fazem. Se alguém me trair, aí sim, eu mato de uma vez só e nem pergunto por que motivo ou razão me traiu. Traição é traição, e isso eu não admito.

- Então o senhor manda na vida das pessoas? o senhor quer ser Deus, é isso?

- Por favor menina! não use o santo nome de Deus em vão. Não volte a repetir isso, sou um homem muito temente a Deus.

Ela não está entendendo mais nada. Tudo está muito confuso em sua cabeça, é de mais, é muita coisa para absorver o seu frágil e fértil cérebro. Sente como se estivesse sido obrigada a armazenar uma avalanche de coisas em poucas horas. O que, por anos para ela era ignorado, agora vem com toda a velocidade do mundo para dentro de sua cabeça. E esse homem agora[].. Quem seria este homem afinal?

Mesmo com muito medo ela o repreende:

- Não pode ser moço! um roubo é sempre um roubo. Não importa se o senhor rouba um milionário, está da mesma forma se apossando do que não lhe pertence, e Deus não admite isso.

- Minha jovem, Deus é superior de mais. Ele é soberano, a própria perfeição. Deus não é como nós humanos. Nós somos carne, e a carne como dizem; realmente é fraca e Deus sabe disso. Eu não preciso ser perfeito. Eu não quero ser igual á Deus, porque nem Ele admitiria isso. Você deve saber, o único que tentou ser como Ele, foi expulso do paraiso e queima até hoje nas trevas.

Ela levanta a cabeça curiosa, e com os olhos lacrimosos pergunta:

- Como o senhor tira o dinheiro dos outros?

O homem sente-se eufórico diante desta pergunta; para ele é como degustar o mais saboroso dos pratos, afinal, ele sempre se delicía contando suas vantagens. E novamente acendendo mais um charuto, ele prossegue:

- Alguns políticos por exemplo. Responda-me: Deus condenaría um ladrão que rouba outro? conheço alguns politicos que se eu quiser, não gasto um tostão do meu dinheiro, pois, com os pôdres que sei de cada um, eu vivería uma boa parte de minha vida as custas das fortunas deles. Gosto de roubar milionários, e se a fortuna foi conseguida com falcatruas e malandragens, melhor ainda para mim, porque, assim a minha consciência não dói tanto.

- Mas... e se os milhões forem conseguidos honestamente?

- Aí eu roubo também. Afinal, para que querem tanto? devem dividir com o seu próximo, o próximo no caso sou eu...

O homem termina a frase com uma gargalhada sarcástica e estridente e, como era uma mania sua, imediatamente a seriedade toma conta de sí e novamente ele volta a ser o sisudo de sempre.

greice
Enviado por greice em 18/10/2010
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