Ao meu Pai

Ao meu Pai

Tenho que disfarçar minhas dores. Ele fareja meu medo, atravessa qualquer distancia para ler mentiras ou verdades em meus olhos. Eu o quis tão distante de mim, meu coração vomitou com repulsa aquele ser incomum... E nas noites, perdida, eu o chamava. Ao longe ouvi seus risos: ele sumia.

Ele me ronda... Eu não sei do que sente fome. È uma fera solitária que vi chorar sob a luz do luar, rodeado pelo perfume das rosas. Oh, tristes lagrimas, eram veneno para a terra e como o frio, apagava a beleza de seus amores.

Tenho cuidado... Não quero que ele me encontre. Sofri pra tirar do meu corpo as correntes pelas quais ele me prendia. Sinto sua raiva, sinto seu ódio. Ele fareja todos os cantos buscando meu cheiro... Escondo-me. Só importa que eu esteja longe dele.

Silencio. E paro de ouvir seus passos. Ele é como um tigre, ele me atormenta como um fantasma. Não ouço sua respiração e tento controlar a minha. Meu coração pulsa em desespero. Sinto o medo querendo livrar-se de minha’lma. E o silencio...apavora-me mais...cada...vez...mais.

Ele encontra-me. Vi o terror em seu olhar de vidro. “Tenho que disfarçar minhas dores” O que aconteceu com ele? Que monstro terrível era aquele, o qual quem eu amava se transformou? Penso: “não há saída”. E ele enfim, havia encontrado meu medo.

*

Ainda estou viva, mas o sinto engolir pedaços quentes das minhas entranhas. Ele devora-me calmamente. Não há pressa em seu magnífico degustar da carne. Sobre nós, ainda posso ver uma imensa Lua sorrir no céu.

Minhas lagrimas descem pelo meu rosto.

A Morte, insana, quer que eu assista nos olhos dele, meu fim. Quer que eu veja nos olhos de um faminto lobisomem minha vida saciar a sede do monstro das noites.

Ele uiva. Sabe que estou morrendo, mas não se lembra que fui seu precioso diamante negro...não lembra-se do tempo que levei arrastando seu nome sem soltar-me do passado que ele tinha destruído. E ele, apenas uiva como um ser selvagem, filho das luas cheias.

Fecho meus olhos. Não há por que continuar vivendo. Estou destroçada.

Creio que ele bebeu do veneno da minha alma, pois cambaleia.

Seus uivos são de dor. É, ele bebeu meu sangue amargo, ele ingeriu minhas lagrimas. Não o vejo mais. Mas sei, sei que sua carcaça de fera sumiu - ou foi rasgada palas sombras. Sei, sei que ele voltou ao normal, com olhos tão parecidos com os meus, sei que ele me viu, viu meus pedaços sobre uma vasta poça de sangue...

E sei que ele chora, mas também morre. Corre em suas veias o meu veneno. Ele sabe que me destruiu, mas sei que tem seu coração enevoado pelas duvidas, rondam-lhe as sombras da insegurança, cercam-lhe as vozes da tormenta. Há uma maldição em sua vida que ele teve que pagar com minha morte.

Mas e ele? Alem de dor...o que será que ele sente?

Eu morro e deixo espalhado junto com minhas entranhas o que um dia ele me disse que se chamava amor... Triste amor.

Jacii
Enviado por Jacii em 16/10/2010
Reeditado em 17/10/2010
Código do texto: T2560974