Mirabela- O amargo sabor do destino - Continuação -
D.Vaggio pede a Carlão que se retire, pois pretende falar com Mirabela em particular. Afinal, ele tinha consciência de que, quem estava alí, diante de sí, era alguém com uma mentalidade totalmente fértil. Como uma terra boa para o plantío, onde apenas joga-se a semente e esta rapidamente se desenvolve, transformando-se em bela árvore.
Esperto e matreiro, ele tinha convicção de que, deveria saber medir cada palavra, afinal, a mente de Mirabela naquele momento estava mais para um campo minado do que para a terra fértil propriamente dita, visto que, encontrava-se muito assustada.
Mas ele, ' rapôsa velha ' que era, sabia muito bem jogar com as palavras, usá-las meticulosamente para convencer a jovem do que realmente lhe convinha.
Ele então vai até uma salêta, pega dois banquinhos. Colocando um ao lado do outro, ordena-a que sente-se em um, enquanto que ele senta-se no outro.
Depois ele empurra o seu banquinho para bem perto da jovem enquanto lhe diz: - Minha jovem, responda-me com toda sinceridade: quem você pensa que eu sou? não tenha medo, pode falar?!
E ela prontamente lhe responde:
- Ora quem?! um criminoso. E estou começando a achar que o senhor é o conde drácula. O tal bandido que nós lá em Anistia o conhecemos por este nome. Porque a cara dele mesmo, ninguém nunca viu.
E encolhendo os olhos como se tentasse forçar uma visão mais límpida, ela quase que encosta seu belo rosto no de D.Vaggio e acrescenta:
- Será que o senhor não é ele?
- Ele quem?
- O tal drácula, famoso e milionário que o povo de Anistia costuma dizer que escorrega que nem sabão.
D.Vaggio solta uma gostosa gargalhada, mas, numa fração de segundos, muda totalmente o humor, voltando a ser o antipático e carrancudo que sempre fora.
- Diga-me outra coisa Mirabela: este tal conde drácula é um bandido mesmo?
- Oh se é! dizem que ele mata uma pessoa como quem mata uma barata.
D.Vaggio levanta-se silenciosamente, enquanto que Mirabela o acompanha com o olhar. Ela agora começa a sentir calafrios, o medo estava quase dominando-a agora que sombreava em sua cabeça a quase certeza de que estava diante do homem mais perigoso do mundo.
Silenciosamente ele dá voltas por quase dois minutos, como se tentasse selecionar em seu pensamento cada palavra que usaria.
Depois, rapidamente ele volta a sentar-se no banquinho ao lado de Mirabela, e num tom seguro lhe diz:
- Você está certa! sou eu mesmo, o tal conde drácula como vocês assim me descrevem.
A reação de Mirabela é frustrante. Ela tenta levantar-se, porém ele a segura pelos ombros, forçando-a que continue onde está.
- Por Deus! acho que estou tendo um pesadêlo..
O homem carinhosamente toca-lhe o queixo:
- Mirabela, nem tudo o que se ouve pode ser a verdade. Eu sou o tal drácula, mas também posso não ser um criminoso.
- Como assim?
- Veja bem! por quê você acha que eu te trouxe até aqui?
- Sei lá, o senhor quer me transformar numa criminosa desta quadrilha e...
- .. Não é bem ' quadrilha ' o nome propriamente dito. Trata-se de 'familia'. Queria que você chefiasse a minha ' familia ' entende?
- Familia que sai por aí de arma na mão, tirando a vida das pessoas, o senhor quer dizer não?
Novamente D.Vaggio acende um outro charuto e depois de uma boa baforada, volta-se para ela com forte expressão no olhar.
- Não é bem assim Mirabela! vendo a coisa por outro lado, eu acho que você até deveria me agradecer.
- Como assim?
- Querida, será que você não percebeu ainda que está vivendo em um mundo totalmente diferente do que a realidade é? por acaso alguém já te chamou de boba?
- Oh! as vezes eu até esqueço que meu nome é Mirabela. É somente disto que me chamam; boba, idiota, é daí para baixo. A minha mãe então..nem se fala!
- Pois, foi pensando nisso que trouxe você até aqui. Quero lhe ensinar a se defender destas pessoas.
- O senhor está louco? eu não preciso matar alguém simplesmente porque me chamaram de boba. Ou o senhor acha que eu teria coragem de matar a minha própria mãe?
- Não, não é isso! você não entendeu. Quando eu falo em se defender, atirar, é noutro sentido. Você não deve sair matando por aí, mas também não deve deixar que pisem em você.
- Como assim?
- Olhe para mim, sou milionário. Você acha que eu chegaria onde cheguei, se eu fôsse um bobinho assim como você?
Diante de tanta ironia, nada mais resta a ela, senão também ser irônica:
- Olha moço; eu não ligo para riqueza, e mesmo se me ligasse em dinheiro assim como o senhor, eu jamais me transformaria em uma criminosa só para enriquecer.