As Crianças e a Mãe Aparecida

Num orfanato viviam muitas crianças abandonadas pelos mais diversos motivos. Algumas delas estavam ali desde recém-nascidas, sem nunca terem conhecido suas mães. Por mais que as mulheres que se dispunham a cuidar delas o fizessem com carinho e dedicação, não podiam suprir a falta que uma mãe faz e isso era facilmente detectado no rostinho de cada uma delas.

Entre essas crianças que nunca conheceram suas mães, havia um menino negrinho extremamente rebelde. Ele estava crescendo e quase nenhum casal demonstrava interesse em adotá-lo, o que causava grande preocupação aos administradores do orfanato. Temiam que ele nunca conseguisse encontrar uma família e já não sabiam o que fazer para orientá-lo corretamente, devido ao seu gênio difícil.

Uma vez, no dia das crianças, fizeram uma pequena festa no orfanato, com brincadeiras, bolo e doces. Muitos casais visitavam o local naquele dia e as crianças estavam felizes e esperançosas de encontrarem uma família. Somente o negrinho continuava emburrado e relutante em participar das atividades promovidas.

Na verdade, ele agia assim porque se sentia muito rejeitado. Apesar de ser apenas uma criança, ele percebia facilmente que suas chances de ser adotado eram cada vez menores e seus seis anos de idade pareciam fazer dele um produto com prazo de validade vencido.

No dia das crianças, um casal que visitava o orfanato demonstrou grande interesse em adotar uma menina negra, pela qual se encantaram. A menina ficara órfã aos dois anos de idade e já completara seis. Depois que o casal foi embora, ela fez um desenho para representar a mulher também negra que intencionava adotá-la e beijava este desenho, quando o menino, ressentido, arrancou-o de suas mãos e correu ao banheiro, rasgou o desenho em duas partes, separando a parte da cabeça da parte do corpo. A menina chorava e pedia seu desenho de volta, mas ele o jogou dentro do vaso sanitário e deu descarga.

Inexplicavelmente, o papel não foi levado junto com a água, ao invés disso, grudou nas bordas do sanitário e a menina o retirou de lá completamente seco e intacto. Uma voluntária que tomava conta das crianças e assistiu toda a cena ficou impressionada, sentou-se junto às crianças no chão do banheiro mesmo e lhes contou a história de Nossa Senhora Aparecida. Depois fez com eles uma oração, pedindo que aquelas duas crianças pudessem encontrar um lar definitivo, onde tivessem harmonia e paz para crescerem bem.

No dia seguinte, a mulher negra que estivera visitando o orfanato no dia das crianças retornou e lhes contou um sonho em que Nossa Senhora Aparecida vinha lhe trazendo pelas mãos um casal de crianças negras, lhe pedindo que tomasse conta daquelas duas crianças. Então, ela e seu marido decidiram adotar a menina e o menino negros de seis anos de idade para que formassem uma família mais completa.

Quando soube da história do desenho, eles mandaram emoldurar e penduraram na parede do quarto das crianças para que sempre se lembrassem daquele episódio que marcou a vida de todos eles para sempre.

Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF. Disponível em: www.recantodasletras.com.br, www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com ou http://kelly-literatura.blogspot.com/