Èter ll
Suas tarde arrastavam-se por brechas e esconderijos: sujo de tantas duvidas. A tarde caia levantando uma Lua que erguia seus braços gelados para acolher o inverno.
No frio de sua escondida torre, ela sabia que não devia sentir falta dele... Nem dele, nem de seu olhar marcado por horas ausentes, horas distantes.
Ela havia acorrentado seu coração às sombras, esquecendo-o em outras mãos e lamentando, não tinha nada para entregar-lhe quando chegasse. Sabia que o perdia para o tempo, para o vento... para o mundo. Perdia-o para as azedas entranhas da Sociedade Organizada e seus maquinários padrões.
E quando ele chegou, ela viu seu sorriso iluminar além das humildes velas acesas, viu a mão de ele estender-se para seu corpo exausto. Ela sentia morrer as palavras na garganta, às mesmas palavras que voltavam a descansar constantemente em suas sepulturas covardes, imundas pelas cinzas do Silencio.
Ela queria dizer que o tempo dos dois estava acabando, queria mandá-lo embora. Mas houve que ela tocou-lhe a mão tremula de desejo, ele beijou-lhe a face pálida de medo e na simbiose de suas vontades, no instinto que a carne exala, na sede animal que a alma sente, ele beijou-lhe a boca pasma. Mesmo com o desejo de que ele se fosse, com palavras mortas, ela deixou-se levar pela terna insignificância dele...
E assim como Deuses governam Terras e as Terras se ‘deixam’ ordenar, ela se viu nos braços de quem não queria querer. Sentiu o coração de ele pulsar no ritmo que seus ponteiros iam girando, sentiu de leve os beijos sobre seus cabelos... Sentia a mão alisando-a com malicia.
E olhou-o no intimo de seus olhos, como não fazia.
Etreolharam-se os corpos, as almas... as sombras. E mesmo envolvida na mentira que vivia deixou-se repousas sobre o peito dele.
E na união de suas mãos enlaçadas, na matéria carnal que se fundia, nos ponteiros e horas que Chronos parava... Suspirando em seu ouvido, ressuscitando as palavras abandonadas, reerguendo os pilares da coragem... Ela lhe disse... “-Adeus!”