Siringe
A ninfa descansava nua sob o sol com os cabelos dourados acariciados pela brisa quente, o calor agia devagar e lentamente o ar morno colocava todo o mundo fatigado.
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Ao longe pastores guiavam seus rebanhos pelos campos e as árvores do bosque murmuravam uma canção de ninar em conjunto com as águas onde náiades se banhavam. No meio de seu devaneio ela sentia surgir sorrateiramente o ser meio-homem, meio-bode, que tanto abominava. Ele esgueirava-se e a encontrava indefesa e excitada. Sua língua quente e áspera de besta machucava o sexo de Siringe que se abria para sentir aquele incômodo prazeiroso. Ele encaixava a cabeça entre suas pernas e bebia qual um animal voraz dos lábios de Siringe. Seu beijo fazia-a contorcer-se, não podia acordar, sentia-se enfeitiçada e desesperada de lascívia.
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Então ao se entregar Siringe acordava. Sonhava sempre o mesmo sonho e temia não resistir se o deus dos bosques fosse de fato procurá-la como Morfeu profetizava. Até que em uma tarde de verão aconteceu o que a ninfa tanto temia e aguardava. O sátiro surgiu da mata pronto para tomá-la e amedrontada pela paixão de seu perseguidor, Siringe pôs-se a correr. Contudo não havia para onde fugir e ao alcançar o rio Ladon, a ninfa implorou ajuda às náiades. Elas se compadeceram de seu medo e a transformaram. O fauno ao chegar às margens do Ladon encontrou apenas o vento fazendo os bambus cantarem, os bambus nos quais Siringe fora transformada.
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Pã não desistiu. Enfurecido, expulsou as náiades, depois, fez dos bambus uma flauta, assim teria Siringe eternamente ao alcance de sua boca. E a julgar pelo som que a flauta produzia, não resta dúvida que Siringe se deixou levar pelos lábios do deus selvagem gemendo melodias e gozando todas as vezes que ele a tocava.