O QUE É VIVER EM SÃO PEDRO DA ALDEIA?!

Estou a contemplar o poente... poente este que a cada dia mais e mais me fascina, fico a me perguntar quais os deuses me conduziram a este paraíso que eu, no meu longínquo e querido Sergipe, jamais imaginava existir, muito menos, que um dia eu iria aqui viver e amá-lo.

Lembro-me do ano de 87, aquela sombria tarde, porém, quente, em que o ônibus violava o negro asfalto em direção a este lugar que, só quem o conhece e o vivencia, pode então perceber o que ele significa.

A passagem mais marcante foi quando o veículo adentrou a rodovia em direção a Araruama, abandonando assim a Br 101 que segue para Campos dos Goytacazes. Estávamos em Rio Bonito, e os laranjais, com seus frutos exibidos, como que a enfeitarem a paisagem, mesmo lembrando-me Boquim – Sergipe, me transmitiu medo, insegurança, dúvidas e interrogações...

– O que estou fazendo aqui? Porque estou neste ônibus? O que vou encontrar e fazer no lugar que nem mesmo ouvi falar?

Aquelas três interrogações foram as poucas que ainda hoje lembro-me mas, com certeza, foram dezenas ou centenas.

Poucos minutos depois encontrava-me na rodoviária de Araruama. Rodoviária onde ambulantes expunham seus produtos. Entre gritos, eu observava uma espécie de luta pela sobrevivência.

E contrastando aquela cena, poucos metros dali, um retrato natural que eu via e que era algo totalmente desconhecido...um imenso lago – a Lagoa de Araruama.

Com tudo que eu estava vendo, parecia estar hipnotizado por um tapete natural a lançar-se na sua imponência e humildade exigindo em desafio para abrir alas para a cidade. Foi naquele instante que eu estava tendo o meu primeiro contato com um mundo totalmente desconhecido...foi o meu primeiro contato com a Região dos Lagos.

O ônibus em poucos minutos deixou para trás a rodoviária e os ambulantes, mas não o gigante lago, pois, a rodovia seguia às margens e fez com que mais e mais eu continuasse a observá-lo.

A minha fascinação pela paisagem foi ainda maior pelo alaranjado que formou-se no céu a confundir o verde cana das montanhas que abraçava a lagoa. Mas, aquele alaranjado foi suplantado pelo escuro. O Sol, que imperara durante todo o dia, procurava o refúgio como que a dizer que o seu tempo de reinar chegara ao fim. Naqueles minutos, substituindo o Sol, surgiram as estrelas no firmamento e a Lua parecia querer seu espaço nas águas e lançava-lhe seus raios; era essa, outra diferente imagem, que me causava novamente um fascínio.

Uns quinze minutos, ainda a margear a lagoa, estava em Iguaba – povoado que pertencia a São Pedro da Aldeia. E as luzes dos postes como que adentrarem na lagoa, iluminavam as límpidas águas que traziam a fonte da juventude e de inspiração.

Todo o meu medo e insegurança sumiram quando tornei-me sergipano-aldeense; pois, fui aceito pelos nativos que, com sua humildade, tradição e hospitalidade, abriram seus braços e me acolheram na sua comunidade.

E hoje, muitos anos passados, me sinto feliz e agradeço a Deus por aqui morar, e, com o fascínio que esta cidade me transmite, continuo a me perguntar:

– O que é viver em São Pedro da Aldeia?!...

Mas, no morto espaço das dúvidas, onde as certezas nasceram e se fazem presentes, nossa Aldeia, esse fascinante mundo, praiano e rural, é de vital importância na minha vida, e que se eu não o conhecesse, estaria a faltar um pedaço... eu teria deixado de conhecer um paraíso; teria deixado de viver um Céu, na Terra!

Carlos Alberto de Carvalho(Carloscarregoza)

Todos os meus trabalhos estão registrados na Biblioteca Nacional-RJ.

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 29/09/2006
Código do texto: T252159