Mortinha pela hora dos risos…
Não moro em Jaçanã, não tenho o comboio das onze para apanhar. Fico por aqui, com todas as madrugadas que uma noite possa conter, só para mim. Acendo uma vela, num ritual de corpo ausente, como quem espera alguém que partiu ou que simplesmente se limitou a não regressar. As pessoas afastam-se para pensar. Algumas voltam, outras nunca vão voltar.
Nem sequer estou triste! Por muito respeito que as minhas lágrimas me mereçam, respeito mais o meu riso.
Não quero ter saudades, nem de mim. Quero-me de sorriso espontâneo e cultivar em mim os melhores sentimentos, temo que só tenha desenvolvido o desinteresse. Queria também perder a memória afectiva, ser amnésica em relação aos afectos. Não acreditar no impossível das palavras, amarrotá-las e lançá-las na imensidão profunda da madrugada. Dar oportunidade à hora dos risos. Madrugada que se preze tem a embriagante hora dos risos, onde tudo flutua ao som daquela musica de eleição que nos faz desejar viver mil anos, que nos faz desejar morrer assim que termina.
Não moro em Jaçanã, não tenho o comboio das onze para apanhar, não tenho ninguém com o sono em suspenso à minha espera. Tenho palavras para amarrotar, uma vela para acender e a madrugada para me embalar…