Ele gostava de sonhar para sempre…
Conto baseado no Princepezinho e na escrita lindíssima de uma certa Borboleta…
Ele gostava de sonhar para sempre…
Ele era um poço de contradições, porque era um homem de corpo feito e de barba também feita (quer dizer, tinha dias, porque ele às vezes gostava de a deixar crescer, tinha dias…) mas também uma suave e pequena criança no seu interior. Gostava das coisas como adulto, mas como criança via sempre nelas a magia que os adultos já não têm porque a idade lhes comeu a vontade por se fascinarem eternamente, como só as crianças o conseguem fazer…
Ele vivia num planeta, que não era mau de todo, mas de que ele estava positivamente farto por toda a gente lhe dizer “Tens que crescer”, quando a coisa que ele queria mais era de ficar no seu canto a imaginar o que lhe aparecia pela cabeça, ou então a sonhar com os seus sonhos ou a criar novos…Isto arrastou-se uma eternidade, até que ele decidiu partir para outras paragens…Foi ao cimo de um monte e pediu boleia aos pássaros como lera num certo livro, mas…Nada! Na sua terra os pássaros não possuíam a capacidade de pensar lá muito elaboradamente e muito menos de entenderem e atenderem aos pedidos dos homens que só os queriam para servir, para os comer, para os ter presos, para mais nada…Pediu boleia ao vento, mas o vento estava demasiado ocupado nos seus afazeres climatéricos para lhe dar atenção…E ele fartou-se…Subiu a um monte que tinha lido ser o maior do mundo, deixou cair a noite e pediu boleia a uma estrela cadente que por lá passava; talvez tenha sido por estas atenderem quem lhes pede qualquer coisa, ou simplesmente lhe ter achado piada o que é certo é que ele teve boleia…
E ele partiu, orgulhoso no dorso azul brilhante a caminho de qualquer coisa…Como era um bocadito pesado, e a viagem já durava um tempinho, e a estrela ter que ir atender outros pedidos (vocês não imaginam como as estrelas cadentes são solicitadas, porque há sempre um desejo para cumprir algures…) esta perguntou-lhe “caro amigo, para onde queres ir, é que tenho de fazer…?” “Vou para…o local onde nascem os sonhos…” E ela, que poderia ser simpática, mas não era muito esperta, despachou-o para um planeta onde se embalavam os sonhos
E ele ficou triste, depois de ter verificado que ali já chegavam os sonhos feitos, sendo que aquele local era apenas um local onde se embrulhavam e se despachavam para o seu destino pelo universo fora, e também achou que o pessoal era bastante ríspido com os sonhos, pois pegavam neles de qualquer maneira e os embrulhavam, despachando-os depois sem o carinho que merecem os sonhos…Como a única maneira de sair daquele mundo esquisito era através dos sonhos, ele sonhou que queria dali sair, esperou que este fosse embrulhado, e seguiu com ele para outro destino, nas asas da imaginação, o correio expresso dos sonhos…
O seu sonho era um mundo onde a imaginação respirasse a par com a natureza que no seu mundo estava a viver maus dias…
Foi deixado num imenso planeta cheio de flores vermelhas e borboletas de todas as cores, onde cada uma além de encantar os visitantes que por lá passavam com mil e uma histórias e um milhão de sonhos que nunca se repetiam e que deveriam ser contados, se dedicavam à escrita de todos os géneros baseadas nesses sonhos, cheia de ternura e infinitos carinhos que depois seria expedida pelo mesmo universo nas asas do Sonho Maior que eram o seu veiculo para dali saírem e para ganharem as asas da eternidade; ele gostou tanto, mas tanto daquele mundo que quis ser uma borboleta e quis ganhar as asas da imensidão, fazendo aquilo que elas faziam, pois finalmente encontrara algo que queria fazer até ao fim dos seus tempos, mas as borboletas com pesar no seu coração responderam “Amiguinho, não é borboleta quem quer, é quem pode…” E ele compreendeu que não podia ser uma borboleta, porque era apenas um homem, e dessa condição nunca poderia sair…”E então vocês sabem de um local onde eu possa sonhar para sempre sem que me aparem ou cortem as asas do sonho?” E elas responderam que na Lua do seu planeta isso era possível, era o local onde iam todos os que queriam sonhar mas não os deixavam, era o local onde iam todos aqueles que queriam ser borboletas mas não conseguiam, e uma, mais amiga, segredou-lhe ao ouvido “De vez em quando um desses homens passa a borboleta, é um prémio que nós damos a quem tiver o melhor e maior sonho…”
Tinha por fim encontrado o seu mundo! Bem, não era bem um mundo, era antes uma pequena Lua, onde a única lei vigente era que era obrigatório sonhar…
Bem, ele ficou por lá feliz, como nunca fora tão feliz em toda a sua vida. Eu não sei se ainda lá está, ou se finalmente teve o sonho mais belo do universo, e assim se ter transformado numa borboleta a escrever histórias de encantar, que se calhar vocês já leram…
Eu ouvi e inventei esta história pois como ele gostava de ter menos o peso do mundo às costas e de ter a escrita e os sonhos das borboletas daquele belo e lindo planeta, gostava de voar para sempre, gostava de sonhar sem que me estivessem sempre a cortar as asas, gostava de sonhar para sempre, gostava…