O Fauno

Ele a olhou ressentido, não queria que ela tivesse raiva ou medo dele, tudo que queria era ser amado, nem que fosse, apenas amor de amizade. Mas sentimentos negativos lhe feriam o ego. Idealizara mil coisas boas para lhe oferecer só para ganhar um sorriso, mas tudo que ela lhe ofertava eram lágrimas, de medo, raiva, rejeição, repelencia por sua fisionomia grotesca e saudades do lar perdido por causa de seu egoísmo. Queria a amada ao seu lado e para isso pagaria o preço que fosse preciso, mas não a devolveria a floresta de onde fora arrebatada.

Lembrava perfeitamente do exato momento em que a vira correr pelo bosque brincando com as amigas, jovem, lépida e belamente adorável. Os cabelos dourados dançavam ao vento, o sorriso iluminava ainda mais o dia, a pele rosada lembrava uma roseira florida, e o mundo parecia girar sob suas patas, estava apaixonado desde então.

Ela era tão perfeita ao passo que ele era grotesco e disforme.

Ela estava especialmente bela assim sofrida e desamparada, deitada na forragem que lhe servia de cama, mas também era triste vê-la sofrer por causa dele. Isso o entristecia a ponto de não mais querer sair para ver a floresta, pregar peças nos pastores, proteger os animais indefesos dos seres selvagens, dançar e cantar com os sacerdotes do templo em noites de oferendas. Tudo que fazia era procurar maneiras de lhe agradar e tocar tristes melodias em sua flauta.

Pegou a flauta e foi para a janela tocar, seu coração doía e sua flauta chorava por si.

- Você esta triste não é? – Ela falou se sentando e enxugando as lágrimas do rosto. – Sua musica diz isso, nunca vi melodia mais carregada de sofrimento.

- Não poderia estar feliz se a faço sofrer minha amada.

- Sabes por que sofro, e isso é fácil de se resolver. Dê-me à liberdade e me verá sorrir outra vez.

- Não, isso jamais. Pertence a mim agora. Sem você eu morreria.

- E eu por acaso não estou morrendo trancafiada aqui dentro? Prefere me ter morta mas ao seu lado? Então que seja feita a sua vontade. – falou e voltou a deitar chorando alto. Havia desilusão em sua atitude, era a ultima esperança de liberdade que pudera ter.

As palavras da dríade acertaram em cheio o seu ego, por mais que não quisesse admitir havia coerência em seu breve discurso. Ele a estava matando. Mas mesmo sabendo disso, não se sentia inclinado a tomar uma atitude, ela era tudo pra ele agora. Era como o vinho, sabia que fazia mal, mas não podia deixar de beber. Por outro lado temia que ela morresse por causa de seu ato inconseqüente, então, ficaria sozinho de qualquer jeito. Melhor tê-la viva, mas ao alcance de seus olhos do que longe do seu toque para sempre.

Sabia que decisão deveria tomar, mas não agora, tocaria para ela por mais uma noite, depois a libertaria de seu cativeiro. Infelizmente, esse animalzinho não pudera domar.

Na manhã seguinte a acordou e mostrou a porta aberta, estava livre.

- Pode ir quando quiser, eu a liberto de minha magia. É livre agora. – falou mostrando com a mão a porta aberta.

- Verdade? Não é algum ardil pra me punir?

- Verdade, a mais triste e pura verdade.

- Então estou livre! – enquanto falava saiu rindo de felicidade, não notara sequer a dor que o ex-companheiro revelava em sua voz e face. Se foi correndo sem nem dizer adeus, todos os dias de convivência não lhe significaram nada. Uma lágrima solitária desceu pelo rosto marcado pela grande dor que sofria.

- Você está livre agora minha querida dríade, mas eu acabo de selar minha prisão.

Yane Faria
Enviado por Yane Faria em 15/09/2010
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