As Damas da Noite
AS
DAMAS
DA NOITE
Certo dia em um caminho desconhecido, havia um homem que desejava alcançar o equilíbrio dos sonhos, ultrapassar os limites dos desejos. Era ele uma pessoa comum, de personalidade forte, mas muito vulnerável. Apesar de bem trajado, sua maneira de viver dava-nos a impressão de um vagabundo. Certa feita saiu ele a procura de algo ou de alguém, que pudesse dar o caminho certo da satisfação humana. Já havia andado quilómetros e quilómetros, em um caminho de pedras e florestas densas, até que o cansaço o abateu. Logo procurou algum lugar para descansar, mas como não tinha dinheiro algum, resolveu repousar em uma planície linda, onde sua visão o levava diretamente a uma linda constelação, mas antes de dormir como um boa noite aos céus, o nobre vagabundo sussurrou em lamento:
- Ah, se as estrelas se tornassem damas e fizesse de mim um instrumento dos meus próprios sonhos. Gostaria eu, de ser brindado por tamanha bênção.
Após falar tal frase, adormeceu. Certa hora da madrugada veio ter com ele uma mulher, de pequena formosura, mas com características super atrativas. Tocou-lhe com a intenção de acordá-lo. Ao despertar, o homem ficou assombrado ao ver uma mulher em plena madrugada no meio da floresta, e quando pensou ele em interrogá-la, ela antecedeu com uma pequena pergunta:
- Quem é o senhor, o que veio fazer?
E ainda assombrado com aquela visão, o vagabundo respondeu, apesar da sonolência e medo.
- Estou a procura do que perdi, preciso encontrar o sentido da minha desilusão, da minha frustração, mais me acho um fraco, não gosto do que sou, para mim hoje nada tem importância, nem mesmo as pernas que me levam por esta estrada, podem trazer felicidade ao meu ego.
Ao ouvir tais palavras, a pequena dama, indagou com grande firmeza:
- Oh, homem infeliz, porque dizeis tais palavras, porque tamanho desafeto com a vida? Mas ao ouvir triste resposta, deixarei a ti apenas um recado para que se lembre por toda a sua vida, “Será tirado o que lhe será dado.”
Ao falar este enigma, a pequena dama se virou e em passos curtos se distanciou daquele local, deixando com o vagabundo uma terrível dúvida. Apesar do susto que passou, o homem voltou adormecer. Ao acordar pela manhã e ao se colocar de pé, percebeu que lhe faltava uma perna, se desesperou por não saber o porquê daquele acontecimento. Não sabia ele, que sua perna estava no mesmo local, apenas foi criado uma ilusão pela pequena dama, no qual o ajudaria no futuro.
- Apesar das dificuldades que obscuramente se sucediam, o triste vagabundo achou um pedaço de madeira e construiu para si, uma muleta, para facilitar sua locomoção. Após ter caminhado por longo trecho, sentiu-se atordoado pelo cansaço e logo adormeceu. Como o seu sono era muito pesado, logo a noite chegou e durante a madrugada aconteceu algo diferente, de repente um som harmónico vindo de uma harpa, o acordou, e ainda muito assustado começou ele a gritar:
-Meu Deus, outra dama! Que trazes tu aqui, oh magnifica dama, cujo som deslumbrante me fez sudito do teu toque. Queira explicar-me a que devo tamanha dádiva noturna.
-Oh homem incrédulo, sou a expiração da natureza, algo de profundo do absoluto, sou a razão.
- Se tu és a razão, dei-me o porque de tamanho sofrimento, estou cativo a uma deficiência absurda, inexplicável, imposta de forma agressiva pela natureza. Sou um homem miserável, vivo em meio a cegueira eterna. Não gosto do que sou, não gosto!
Ouvindo tais palavras a linda dama cantou uma canção, oferecida ao homem.
- Dou-lhe o que tenho, mas não tenho o que dou, faço do meu instrumento o caminho do amor, faço de suas palavras o caminho do horror.
E ao cantar este cântico, a bela dama desapareceu levando consigo um outro enigma. Que deixou o pobre, por muitas horas a pensar, até cair em profundo sono. Ao amanhecer, como em uma passe de mágica, o pobre homem acordou diante de uma profunda escuridão, ele não mais conseguia enxergar, sua visão foi subitamente roubada, retendo-se naquele lugar, longe de tudo e de todos, agora desesperado começa a gritar, mais ninguém podia ouvi-lo, e por ter insistido demasiadamente e não tendo nenhum resultado, entregou-se a apenas lamentar em silêncio. Por várias horas, ele se perguntava, o porque de tanto sofrimento e com certeza a resposta não vinha, e então decidiu caminhar, caminhar, até que o cansaço foi mais forte a ponto de entregar-se ao sono, pois esse era o seu único alento, diante de tamanha dor. Antes de dormir, lembrou-se da linda relva que ele se deitou no seu primeiro dia de caminhada, lembrou-se da bela constelação que lhe trouxe grande admiração, também lembrou-se do pedido que fizera às estrelas.
A partir desse momento, começou a entender o que estava acontecendo com ele, certo que todos os males eram originados de palavras expressadas por ele. Então tomou a decisão de clamar pelas damas, que passeiam pela noite, prontas a atender os desejos. Diante de tal lembrança, ele ergueu os olhos ao céu e disse:
- Oh, estrelas que aos meus olhos são negados, vejo em meu interior o quanto bem tu me fazes, procuro-te e lhe encontro em meus sonhos, seja a tua constelação o ponto de encontro da minha razão. Oh damas que surgiram em meu destino me dêem apenas o conforto de suas existências.
Após pronunciar estas palavras, adormeceu. De repente um vento suave assoprou, trazendo consigo um aroma de ervas, de forte essência, fazendo o vagabundo acordar em sobressalto. Neste instante ele se alegra, ao imaginar que poderia estar vindo uma das damas da noite. E com tamanho entusiasmo, o vagabundo falou:
- Oh, Damas que surge de meus sonhos, sois a prova da existência do bem, com seus feitos me ensinaste a entender o meu querer. Sei que não vejo, porque posso ter a nova visão da alma, sei que não tenho uma das pernas para provar a mim mesmo, que dependo da verdadeira força de vontade para vencer as dificuldades, enfim o meu objetivo é enxergar o que não pode ser visto pelo homem comum, alcançar as alturas, e poder voar ao redor dos meus desejos. Amo minha vida, amo o que sou, amo que posso ser.
As damas se maravilharam ao ouvir tais palavras e lhe deram a bênção de voltar a enxergar. Mas quando o vagabundo abriu os olhos, verificou que não havia apenas uma dama, mas sim três lindas damas, sendo que uma delas tinha grandiosas asas. E com toda calma e generosidade, lhe dirigiu a palavra:
-Amigo, tu passaste pela prova mais difícil, que foi de reconhecer que as palavras têm um poder esplêndido, tu perdeste parte vital do seu ser, no momento em que pronunciou palavras fortes e de intensidade absurda, tornou-se escravo de suas próprias palavras. Mas em tempo reconheceste o verdadeiro sentido de tudo que falaste, fazendo uma transformação em sua vida. A partir de hoje, tu verás além da imagem humana, tu alcançarás o maior dos desejos e por fim lhe darei minhas asas, para que possa voar rumo ao horizonte.
Neste mesmo instante, o triste vagabundo tornou-se o mais nobre dos pássaros, transformou-se em uma águia, tornou-se senhor dos ares. Deste dia em diante, em todas as noites estreladas, ouve-se o gorjear de agradecimento de um pássaro, que por sua nobreza rara, conseguiu igualar-se a aquelas estrelas, dando ao céu o brilho de sua beleza.
FIM