O Canto do Cisne - (7° Capítulo)

(Bom, enquanto eu não posto o e-livro, deixarei mais dois capitulos meio em rascunhos postados por aqui mesmo).

“Bem me quer ou mal me quer? Uma questão se faz presente

Fantasias que criamos, em uma brincadeira inocente.

Numa pétala que cai, uma esperança, uma ilusão,

Brincar de dizer verdades, brincar com o coração”.

O taxi me deixa em casa, mas meus pensamentos ainda me mantêm naquele teatro, dúvidas sobre ela, sobre mim, sobre nós. Uma taça de vinho para acalmar e adoçar a mente, no meio da sala o piano que há tempos não toca uma nota sequer, então eu acendo a lareira a sua frente e dedilho de leve algumas notas nostálgicas, que me fazem reviver momentos e sentimentos de outrora. Lembro de me sentar aqui sempre que queria ficar sozinho, quando me sentia sem rumo, precisando de respostas… Acho que chegou a hora de re-viver o meu divã pessoal.

Dó – Respiro fundo, um gole no vinho: “Já perdi meu foco por algumas vezes, mas nada que se compare a isso”.

Fá – “Minha mente da voltas e mais voltas me trazendo o seu sorriso, os brilho dos seus olhos e sua voz doce e calma”.

Lá – “Em cada nota sou capaz de ver e sentir cada passo seu, movimentos delicados, sutis e envolventes.”

Ré – “O aroma do vinho me trás o seu perfume, o seu calor, a sua presença.”

Logo o clima é quebrado em meio ao “mi” desafinado, me trazendo de volta as incertezas e a leveza do copo já vazio. Então me levanto espalhando a roupa sobre o chão e logo deixo que a água fria do chuveiro esfrie os meus pensamentos. Logo deitei o corpo já cansado sobre os lençóis e não demorei muito para viajar em sonhos. O dia amanheceu nublado e sem inspiração alguma, ao menos eu não estava focado no trabalho, então, mais uma vez pedi para que minha assistente cobrisse o meu dia, ela tentou falar algo comigo, mas acabei não dando muita atenção, definitivamente eu não sei o que está havendo comigo. Pela primeira vez saí por aí sem minha câmera em mãos, confesso que a sensação é estranha, acho que se eu saísse sem uma de minhas pernas, eu não me sentiria assim tão desconfortável. Além de minha companheira, ela também me traz confiança e não deixa eu me sentir assim tão comum em meio às pessoas a minha volta. Diante de tantas sensações e reflexões, acabei me deparando com uma nova realidade, onde sem a minha câmera, pude perceber um mundo sem divisão de foco, onde em um único olhar, eu percebi ser capaz de captar diversas verdades, diversos horizontes, diversos caminhos, diversos mundos e é como se tudo isso se completasse como slides que iam se somando resultando em movimentos e tudo ia fazendo cada vez mais sentido, tudo ia tomando seu rumo e apesar de uma imagem gravar um momento, ela apenas capta um passo em meio a um imenso caminho, como uma dança. Diante disso tudo senti minha confiança voltar onde tive uma crise de riso incontido onde a liberdade se fez presente e a brisa passou a beijar minha face, enchendo os meus pulmões e me trazendo a sanidade e a inspiração de volta. Logo voltei para o estúdio, mas me deparei com um olhar meio tristonho da minha assistente, ela parecia saber algo, mas não sabia como dizer então, apenas disse que meu chefe queria falar comigo e pelo visto há muito tempo e era isso o que ela tentava me dizer. Ao entrar em sua sala, fui recebido por sua séria expressão, onde procurou ser direto ao me dizer que meus trabalhos já não eram mais necessários em sua empresa. Parece que minha assistente tem feito um bom trabalho enquanto eu estava preocupado demais em não trabalhar, por um lado fico muito feliz por ela, ela sempre foi muito aplicada e talentosa, por outro, eu estava desempregado, mas por algum motivo aquilo não me abateu, toda aquela descoberta mexeu muito comigo, eu precisava mesmo de um tempo só para mim, viajar talvez. Ao atravessar os corredores do estúdio, pude ver ela com um olhar lacrimejante quase como se estivesse se culpando por algo, então eu me aproximei e lhe dei um forte abraço e a parabenizei. Meu cargo estava em ótimas mãos, ninguém além dela seria capaz de seguir os meus passos, e ela dava um traço a mais que completava tudo, como a cereja que faltava e esse era o caminho dela e eu estava encontrando o meu. Uma sensação de liberdade estava me tomando e eu não queria ir para casa, ao menos não ainda, aquele teatro ainda estava em minha mente, então, peguei a minha câmera como cartão de entrada e decidi ir pra lá. Ao entrar no teatro, percebi que esse lugar me faz bem, o cheiro de madeira me trás uma certa paz, as cores envelhecidas parecem querer contar cada historia ali vivida, incrível isso. Conforme fui andando pelos corredores, ia admirando cada detalhe, tudo era tão detalhadamente bem feito e ao olhar para o palco, me veio em mente algumas lembranças dela dançando, breves flashs mesclando entre toda a magia da dança e a beleza do palco vazio. Viajo em cada detalhe e quando dou por mim, percebo já estar sobre o palco, onde chão é mais liso, bem cuidado e a sensação dos pés pisarem sobre ele é ótima. Continuei andando e já nos bastidores, me deparei com um mundo cheio de cores, cenários, figurinos e uma das roupas me chamou mais atenção, nada me faria esquecer aqueles detalhes, era a roupa dela, me fazendo relembrar cada momento seu sobre o palco. Logo algo mais me chamou atenção, sobre uma imensa lona azul, pude ver algo que pareciam teclas mesclando entre brancas e pretas e ao tirar a lona, me deparei com um lindo piano que, ao dedilhar algumas teclas, pude perceber que a sua afinação estava impecável e o “mi” cantando como nunca antes, meus dedos deslizavam sobre as teclas e cada vez mais se convidavam a tocá-lo, e quando dei por mim, eu já estava em meio a uma canção minha.

(Continua...)