Dragões - Iniciado - parte II

A luz parecia cegar conforme o jovem abria os olhos, mesmo ainda estando escuro lá fora, a luz do quarto machucava de um jeito diferente de antes.

Encostado no canto do quarto, um homem vestindo terno e gravata preta com uma camisa vermelha, acendia um cigarro antes de continuar sua história.

- Finalmente acordou garoto, dessa vez pelo menos não demorou tanto para acordar quanto da última vez.

O jovem agora começava a se acostumar com a luz do quarto, e a se lembrar do que tinha acontecido, levando a mão a sua cabeça dolorida lembrava das coisas, ainda que de maneira vaga, mas algo dentro de si dizia que nada daquilo era um sonho e que suas próximas noites seriam péssimas, tudo porque decidiu se mostrar para algumas garotas em uma noite de tempestade ficando em meio a antenas e pára-raios. Uma sensação estranha desceu de sua cabeça para o estômago fazendo com que ele vomitasse a pouca comida que tinha comido a noite passada ao lado da cama.

- Pode ter certeza de que você vai limpar isso mais tarde. – disse o homem dando mais uma tragada no cigarro – mas não se preocupe, com o tempo essa sensação vai melhorar, faz tudo parte do processo, agora que você acordou por completo tudo vai mudar, tudo vai melhorar.

- Como você pode saber disso? – perguntou o jovem, agora ele começava a se lembrar, os raios vieram, pareciam atraídos por ele conforme ele corria por entre as antenas, o ultimo deve tê-lo acertado, mas ele não conseguia se lembrar. A última coisa que lembrava era do rosto desse estranho, dizendo que tudo estava bem, mas nada parecia bem. – E o que aconteceu? Onde eu estou? E quem diabos é você?

- De novo com essas perguntas garoto? Já lhe disse ontem, meu nome é Charles, e eu sou seu novo – ele fez uma pausa escolhendo as palavras – tutor. O que aconteceu com você é o mesmo que aconteceu comigo há dois anos atrás, e acredite, eu sei como você se sente agora, e os sonhos que você tem. – Charles se aproximou do garoto olhando em seus olhos – parece que seus ossos foram arrancados de você, que você diz uma palavra, mas ninguém escuta, sua voz não sai, seu coração batendo cada vez mais forte e tudo que você pode fazer é esperar, e é quando vem a escuridão e piorar as coisas, seu fôlego se vai e você não consegue respirar...

- E é como se eu vivesse dentro de uma jaula, mas na verdade sou eu mesmo, mas não sei o que vou encontrar dentro de mim, arco-íris ou o inferno – interrompeu o jovem olhando Charles com uma expressão séria, encarando os olhos verdes amarelados do homem.

- Ótimo, pelo jeito você está começando a entender...Brian não é mesmo? – Charles tragava o cigarro e se afastava do garoto. – Arrume-se, tem comida na mesa te esperando, sente-se e coma que então eu poderei te responder o que tinha me perguntado, e termino de lhe contar o que comecei ontem à noite.

Brian se levantou com dificuldade sentindo as pernas bambas e fracas, cambaleou até a mesa jogando-se em uma das cadeiras, seu estomago antes embrulhado agora roncava de fome e ele sem pensar duas vezes começou a comer enquanto Charles continuava a contar o que tinha acontecido.

- Quando você começou a correr entre os raios você desencadeou uma coisa que muitos humanos não entendem, com o último raio você acordou, despertou para algo que ninguém acredita que existe, e é assim que queremos que continue. Isso não era pra ter acontecido até você ter atingido a sua maturidade, mas sua cabeça oca acabou acelerando o processo, por isso você está se sentindo fraco agora.

- E para o quê eu acordei? – interrompia Brian entre uma mordida e outra de um pão velho e duro.

- Não me interrompa, coma e fique quieto, que não irei repetir isso. Você acordou para o seu potencial, para se tornar mais um membro da Irmandade. Sim, existem muitos de nós, surgimos há muito tempo atrás, junto com o homem, você inclusive já deve ter ouvido falar de nós, estamos em vários livros, divididos em quatro grandes grupos, nós que desde o princípio controlamos tudo o que você conhece. Mas comecemos pelo que você é, você garoto, assim como eu, é um dos grandes Dragões.

Brian ouvindo isso engasgou com o pão ao rir quase caindo da cadeira, secando as lagrimas, e batendo no peito tentando fazer o pedaço de pão descer pela garganta, perguntou para Charles, pensando em como poderia escapar desse maluco. – Dragão? Você? Eu? Claro, uma noite dessas em um churrasco com uns amigos eu cheguei voando e ainda soprei fogo para acender a churrasqueira, o único problema foi que minhas escamas ficaram todas sujas. Só falta dizer agora que tem uma irmã que é um unicórnio – Dizendo isso ele começo a se levantar, quando olhou nos olhos de Charles os olhos verdes do homem se tornaram amarelos, Brian sentiu um pavor dentro de si, algo que nunca tinha sentido antes e se controlando foi atrás de sua jaqueta em cima da cama. – Olha, hã...eu sei que você deve acreditar nessas coisas...mas...sabe...eu realmente preciso ir...e...

- Sente-se garoto, nós não terminamos ainda. – disse Charles em um tom autoritário e sendo obedecido. – Você acha que um dragão tem escamas? E voa? Não. Eu acabei de dizer que somos uma Ordem que controla tudo o que você conhece e você acha que eu estou brincando? Um dragão não é como você pensa que é, nós queremos que você acredite que somos uma lenda, que não existimos, mas no fundo tudo é verdade. Vamos sinta, dentro de você, lá no fundo você sabe que eu digo a verdade. Nós somos dragões, nossa Ordem, com o tempo foi construindo essa imagem que você descreveu.

Charles continuava a falar, olhando para o garoto, e vendo que ele passava a acreditar no que Charles dizia seus olhos aos poucos foram voltando ao normal. – agora se me permite continuar, você faz parte da Ordem dos Dragões, e é meu dever lhe dar as boas vindas a Irmandade...

Conforme falava, uma grande escuridão começou a tomar conta do quarto, abafando todo som e engolindo toda a luz, seguida por um barulho de explosão, do lado de fora do prédio abandonado as pessoas se aglomeravam para olhar as chamas que consumiam todo o ultimo andar, no meio da multidão, um homem de casaco marrom guardava um celular no bolso e arrumando a aba do chapéu se afastava com um estranho sorriso nos lábios deixando o prédio queimando na escuridão da noite atrás de si.