SONHOS POSSÍVEIS

_ Julie....! Julie, onde está você?

_ Aqui no sótão, entre!

_ É que eu tenho medo do escuro...

_ Ah...eu também, mas estou com uma lanterna na mão, venha, entre, maninha!

_ O que faz sozinha, aqui neste quarto cheio de coisas do passado?

_ Mamãe pediu que eu desocupasse este lugar, o mais rápido possível;sente-se, tem uma cadeira aí perto da porta, achou?

_ Sim, mas porque não acende a luz, ou a lanterna?

_ Calma, vamos fazer uma brincadeirinha,você topa?

_ Brincar de que, Julie, eu sou apenas uma menina de cinco anos, e você tão crescida...

_ A brincadeira é assim, preste atenção: no escuro, como estamos agora, eu giro a lanterna, aponto para um canto qualquer e acendo-a; iremos falar à respeito do objeto iluminado por ela entendeu?

_ Parece uma brincadeira interessante... vamos lá!

Então Julie girou, girou, e clique! O cavalinho de pau que estava bem no cantinho se iluminou!

_ É nosso pônei...!! mamãe bem que ficava preocupada, porque ele empinava toda hora, lembra-se? Fale um pouco você agora, Julie...

_ Bem, não me lembro muito das brincadeiras com ele, mas as brigas com os meninos na rua, essas não esqueci, não; todas as vezes era só confusão...bem, onde vamos colocá-lo?

_ Eu sei,eu sei! disse a maninha, com sua imaginação brilhando no escuro do quarto: feche os olhos,Julie, feche...!

E no mesmo instante voaram juntas, sentadas no cavalinho que agora, cavalgava os ares com suas crinas esvoaçantes percorrendo vales floridos e lugares fantásticos nas florestas encantadas, nunca antes visitados.

O ar se tornou denso, e lá estavam elas novamente no quarto escuro, sem o brinquedo, que ficara embaixo de uma frondosa árvore, lá no bosque distante.

_ Oh!...foi tão bom, Julie! Vamos, gire novamente a lanterna, gire!

_ Lá vai, maninha, bem depressa , que a mamãe já vai voltar: clique! e o iluminado foi....uma cozinha completa, com panelinhas, fogão, geladeirinha,etc. Fecharam os olhos e a imaginação levou-as para a casinha de bonecas, no fundo do quintal, de onde não deveria ter saído, e que ficara lá agora, bem arrumadinha.

E assim, de giro em giro, e de clique em clique, foram iluminando e transportando quase tudo que havia no sótão, para espaços da imaginação, cada qual no seu devido lugar.

A última leva foi uma porção de braços e pernas de bonecas sem cabelos, todas com visível ação do tempo vivido...levados também para a casinha de teto vermelho, lá no quintal.

Só restou no quarto uma boneca que estava inteira, e a maninha logo perguntou: e essa aí, não vai?

_ Não, essa é a Julliete, minha confidente leal que guarda todos meus segredos de infância...

_ Julie, tudo bem por aí? Era sua mãe, que entrou e acendeu a luz.

_ Nossa, como ficou clarinho o quarto assim desocupado...e para onde é que levaram tudo aquilo!?

_ Mobiliamos nossos sonhos, disse Julie, radiante com a aprovação da maninha e da Julliete, sua confidente.

Fim