Em Busca de Justiça
Em Busca de Justiça
Vingança
Inglaterra, ano do nosso Senhor de 1566. As ruas inglesas eram estranhas, e Ray Brian Stephen encontrava-se ocupado. Ele veio do outro lado do mundo em busca do assassino de seu pai, um maldito o havia assassinado covardemente nas ruas escuras da Inglaterra.
Seu pai era um grande aventureiro, era um cavaleiro da rainha, mas ninguém fez nada, ninguém buscou honrar a sua vida. Então, Ray decidiu tomar as providências necessárias. A notícia de sua morte chegou aos seus ouvidos meses depois.
Raramente, ele visitava o país natal de seus pais, mas aquela morte covarde o deixou sedento por justiça e desejoso de desbaratar o grupo criminoso que o seu pai morreu tentando desmantelar, essa foi a sua última missão, não cumprida até então. Ele percorreu cada rua estranha daquele país que deveria considerar como lar, procurando cada componente daquele maldito grupo criminoso.
A criação dada por sua mãe, que Deus a tenha, era puramente cristã. Ser um homem de bem, correto e bondoso, como Cristo foi quando esteve aqui na terra, era o seu objetivo. Mas a justiça precisava ser feita, e Ray não podia ignorar isso. A contagem de mortos à fio de espada só fazia aumentar. Sua katana era banhada diariamente pelo sangue do inimigo. Noites sem dormir. Dias sem parar. Mas ainda era pouco.
“Meu nome é Ray Brian Stephen. Estou caçando os malditos bandidos que mataram o meu pai e que a rainha não caçou. Eu sei que estou chamando atenção, o número de mortos aumentou exponencialmente nesses últimos dois meses em que tenho caçado cada inimigo. Meu nome já corre no submundo. Mas eles não sabem quem eu sou. Às vezes, as mortes são bem sentidas na sociedade, são homens desonrados, mas ricos e nobres, motivo pelo qual o povo sentiu. Mas, na maioria das vezes, são apenas homens de pouca autoridade. Peões nesse mundo sem Deus. Tenho oferecido a cada um a chance de redenção, mas são tão covardes que se negam a aceitar. Eu faço a minha parte. Nesta última semana, matei quinze deles e consegui encontrar algumas pistas sobre Jason “DragonHeart”, o maldito comandante dessa organização que o meu amado pai tentou desbaratar sem sucesso. O desgraçado anda se escondendo, a minha vantagem é que ele não faz idéia de quem sou, ninguém faz, então não existe possibilidade de tentarem revidar, pois não sabem onde vivo, quem são meus parentes, ou qualquer coisa que possam tentar usar para me intimidar. Eles podem apenas se preparar para o pior, pois eu estou chegando. Apesar de Jason não acreditar que o seu pessoal esteja sendo massacrado por um único homem em seu próprio território”.
"Ele acredita que exista um outro grupo criminoso, ou que a rainha tenha levantado novos homens. Ele, obviamente, ainda não me conhece. Mas eu vou resolver isso. Segui uma boa pista, sei que ele se encontra em um prédio de extremo luxo, talvez planejando derrubar a rainha, mentalizando um próximo meio de enriquecimento ilícito. Ou algo do gênero. Apenas tenho de esperar sair. Algo simples. Basta observar e permanecer de tocaia o dia todo, a semana toda se precisar. E, quando eu terminar por aqui, voltarei para a minha terra natal e brandirei a minha espada por justiça lá. Tenho certeza que meu sensei ficará feliz em me receber.”
Ray apenas observava o movimento da casa, já esperava há dois dias e o desgraçado não parecia estar disposto a aparecer. Mas Ray havia seguido a pista até lar. Invadir o lugar sozinho seria tolice, seria morto antes chegar ao maldito, porém, utilizar-se de sua face desconhecida e pegá-lo de surpresa, isso seria muito útil, era apenas necessário esperar que ele saísse. O fato era que Stephen também não sabia como era a face do desgraçado, mas algo lhe dizia que, quando ele surgisse, seria óbvio. Ele aguardava. Deixava ele tramar a morte da rainha, a morte de comerciantes e nobres inconvenientes. Poderia tramar o que quisesse, pois, quando decidisse sair daquele pardieiro, sua morte já estaria sentenciada. Jason “DagronHeart” e seus homens não passariam daquela rua, ela estava movimentada para aquele dia.
Ray observava.
De súbito, ele percebeu uma certa movimentação diferente das demais, muitos homens. Uma coreografia engraçada tentando oferecer alguma segurança começou a se formar na frente da morada, eram os seus capangas, possivelmente com a intenção de guardar alguém. “Só pode ser ele”, pensou Ray. Uma carruagem despontou no fim da rua, parando em frente à entrada do estabelecimento. Alguns homens se puseram de guarda.
Ray observava do beco, entre as sombras. Lentamente, um homem começou a sair e partiu para o interior da carruagem. “É ele”. Ray partiu em direção ao carro. Os capangas de Jason colocaram-se ao redor da carruagem. Ray interpôs-se no caminho. Os capangas perceberam a ação, já sabiam do que se tratava, sacaram suas armas de fogo e espadas, observaram o estranho homem de roupas estranhas, cabelo longo castanho e espada japonesa que vinha em sua direção.
O primeiro adiantou-se enquanto outro preparava a arma de fogo. Ray avançou sem piedade, sacando a sua espada ao mesmo tento. O capanga mais à frente sequer foi capaz de perceber a lâmina de sua espada cortando-o ao meio. O segundo da escolta apontou a arma de fogo, mas não conseguiu disparar. Sua mão foi arrancada, seguido pelo grito de terror, ajoelhou segurando o pulso. O golpe seguinte o matou, antes que ele viesse a sentir a qualquer tipo de dor ou sofrimento. Ray olhou firme e de forma ameaçadora para os demais. Quatro deles sacaram as suas espadas, sequer notaram o fio da lâmina de Ray formando um risco de sangue entre os quatro guerreiros, ele era muito rápido. O penúltimo avançou, foi retalhado ao meio. O último demonstrou todo o medo que sentia naquele momento, fugiu desesperadamente.
– Jason! – gritou Ray seguindo em direção à porta da carruagem.
Qual não foi a surpresa ao ver a carruagem vazia.
– Jason! – gritou novamente, observou que a porta do outro lado da carruagem estava aberta.
Atravessou a carruagem e partiu para o outro lado, fitou a sua presa. Este estava com duas pistolas engatilhadas, Ray mal teve tempo de respirar. Os disparos foram deflagrados. O primeiro acertou o ombro de Ray, o segundo passou raspando pela cabeça. Ray avançou igual, golpeando a perna do adversário, na altura do joelho. Todos que ali passavam e olhavam aquele acontecimento, fugiram em desespero.
– Jason “DragonHeart”! – gritou de forma anormal.
Ray observou seu inimigo, apontou a ponta da espada em direção ao coração.
– Por matar o meu pai, – disse. – deve morrer em condenação.
Ray levantou a lâmina para dar impulso ao golpe, foi quando recebeu outro ataque, dessa vez sem que ele percebesse. Um chute bem no meio de seu peito. Caiu alguns metros de distância de Jason. “Será outro capanga?”, pensou. Pôs-se de pé e olhou em frente, seu corpo começava a fraquejar.
Observou, ao lado do corpo caído de Jason, um guerreiro muito diferente se mostrava pronto a investir, seu olhar era sério, mas, ainda sim, não deixava esconder as marcas de um sorriso largo. Cabelos negros curtos e olhos escuros. Roupas que só poderiam pertencer a um nobre inglês. Sua espada estava em riste.
– Quem é você? – perguntou Ray.
– Meu nome é Sir Gregory Wright, – respondeu o homem que protegia Jason. – e você está preso por cometer todos esses assassinatos.
– Você também é um “Sir”! – gritou Ray. – No entanto, protege o assassino de seu companheiro!
Sir Gregory assustou-se.
– O que está dizendo, homem?
– Este homem que está no chão é Jason “DragonHeart”, assassino de meu pai!
– Então você é filho de Sir Stephen...
Ray nada respondeu.
– Afaste-se, guerreiro! – concluiu Sir Gregory. – Não quero mais banho de sangue, você está fora de controle! Você passou todos os limites!
– Desde a morte de meu pai, não me preocupo mais com limites.
– Eu conheci Sir Stephen, ele era um homem honrado e cristão. Por que deseja vingar-se dessa forma?
– Se você o conheceu, deveria saber o porquê. – respondeu Ray apontando a espada contra Sir Gregory. – A pergunta que devo fazer é: Por que não fez? Por que, mesmo conhecendo o homem que era meu pai, deixou o seu assassino ficar impune por quase um ano?
O sangue dos ferimentos à bala escorria, tentando levar a sua lucidez. A rua mostrava-se agora vazia, todos haviam fugido.
– Abaixe a espada, você está sangrando...
– Responda!
– O seu pai era o meu mestre, nunca deixaria passar impune, mas matar indiscriminadamente não é a solução. Acalme-se.
O vento ecoou na rua deserta, os dois mantiveram-se em silêncio, encarando-se. O som do vento só era acompanhado dos gemidos de Jason. O sangue na cabeça e no ombro escorriam. Ray gemeu.
– Acalme-se, – continuou Sir Gregory. – concordo em justiça, mas não esse tipo.
O corpo de Ray fraquejou, a hemorragia começava a ficar séria, já deveria ter sido cuidada. Ajoelhou-se, apoiando-se na espada.
– Você não entende. – disse Ray ouvindo alguns passos sorrateiros. Sir Gregory não estava só. Havia mais guardas com ele.
– Entendo, sim. – respondeu Sir Gregory correndo em sua direção e o golpeando com o joelho, deixando-o completamente inconsciente.
***
O Despertar de Uma Amizade
Ray acordou horas depois. Estava preso em uma cela, acorrentado. Procurou por sua espada, nada encontrou. Suas roupas estavam ensangüentadas, mas as feridas encontravam-se tratadas. Havia uma faixa na cabeça, outra no ombro. Observou mais à frente, percebeu uma janela fechada por barras de ferro, a luz do sol entrava tímida por ela. O carcereiro observou que o guerreiro havia despertado, passando o aviso à diante.
– Finalmente, ele acordou! – disse o guarda.
Nada mais se ouviu. Ray permaneceu em total silêncio. O tempo passou lentamente. Foi então que ele pôde captar passos, ainda distantes. Não era apenas um homem, havia, pelo menos, mais outros quatros guardas com ele. Os passos aos poucos foram se aproximando, até que, sem muito surpresa, o rosto de Sir Gregory despontou nas barras de ferro.
Ray olhou sério para a sua face.
– Seu pai era um exemplo de homem, – começou Sir Gregory. – e foi meu mestre. Sua morte foi sentida por todos, principalmente pela rainha. E ela não tem o desejo que o seu filho permaneça encarcerado em uma jaula que não foi feita para ele.
As grades se abriram, Sir Gregory aproximou-se lentamente.
– Desconfio que nós tenhamos a mesma idade, – continuou o cavaleiro da rainha. – então sabe que eu tinha o seu pai em alta estima, mais do que um mestre, um amigo, um pai.
Ray sorriu.
– Se o tivesse em alto estima, teria vingado a sua morte.
– Não foi isso que Sir Stephen me ensinou. As suas maiores características eram a sua bondade, amor e perdão, ele era um cristão verdadeiro. Por que matou tantos homens para conquistar sua vingança?
– O que aconteceu com Jason “DragonHeart”?
– Foi desterrado, levado como prisioneiro e exilado para o novíssimo mundo.
– Está vendo?
– Foi a punição justa. Não foi isso que ele lhe ensinou?
– Eu matei capangas, bandidos! Jason era o último e minha vingança estaria completa...
– Acredita que estaria honrando o seu pai assim?
– Não sei mais no eu acreditar.
– Você é um homem de bom coração, como o seu pai. Veio a esta terra para honrá-lo, mas não será dessa maneira que você fará isso.
– Do que está falando?
– Apesar de suas atitudes, sei que é um bom homem, você transpira isso.
– Eu matei aquelas pessoas.
– Matou acreditando estar fazendo o certo. Eu conheço aqueles golpes, seu pai também me ensinou quando veio de sua terra. Cada golpe era um golpe de misericórdia, eliminando o inimigo sem dor, sem sofrimento, sem um ataque seguinte. O único que fugiu à exceção era justo quem você acreditava que merecia sofrer e ironicamente eu não deixei que o matasse.
Ray o encarou em seus olhos.
– Então, – concluiu. – você entende que eu quis parar quando eu o encarei?
– Sim.
Ray baixou a face com tristeza.
– Deixe-me retornar para minha terra.
Sir Gregory sorriu.
– Não. – disse em resposta.
Ray levantou a cabeça, sem entender.
– Você não partirá daqui sem antes ser agraciado por nossa rainha para que torne um “Sir”, um dos seus cavaleiros, assim como o seu pai antes de ti.
Ray sorriu.
– E depois?
– Já esteve em Portugal?
– Acredita que irei?
– Ou isso, ou ficar preso aqui...
– Só irei com a condição de poder retornar para a minha terra natal quando eu quiser.
– Terá sempre livre escolha.
Ray sorriu mais uma vez, agora sem as correntes.
– Tem outra condição para acompanhá-lo.
– Se não for pedir muito...
– Já esteve no Japão? – perguntou Ray. – Gostaria que meu mestre o conhecesse.
– Seria uma honra, – respondeu fazendo um sinal para que saíssem da cela. – vamos?
– Há outra coisa?
– O que mais?
– Eu conheço outro guerreiro que também seria de grande valia que o conhecesse, seu nome é Huang Sien Wien.
– Em sua terra natal? Nome estranho...
– Não. – respondeu Ray, agora saindo da cela para se arrumar e ir ter com a rainha. – Já esteve na China?...
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Boa Leitura!
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"Contos da Era Heróica" são contos anteriores à trilogia "Os Confins da Terra", clareando dessa forma um pouco mais o contexto da história e onde cada personagem se encaixa.
Neste caso, veremos como Sir Ray e Sir Gregory se conheceram.
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