DETALHES DE UM SONHO

Uma tarde inteira olhei a General. Era por ela que subiam os que vinham da vinte e cinco. Os ponteiros eram um, o sinos badalaram doze vezes.

O marco era zero, como sempre fora,mas ninguém ligava, exceto alguns turistas que vinham estender suas mãos para, de olhos fechado fazer pedidos à rosa dos ventos, como se, milagrosa, pudesse realizar algum dos seus desejos.

Confesso que, também eu estive ali, e, entre uma e outras perguntas que faziam, eu tinha a resposta como se fosse um guia da minha cidade.

Vinte e quatro era o dia, um seminário tingira o dia anterior de rosa magenta, onde desfilaram figuras importantes de uma companhia multinacional de cosméticos.

Na verdade, eu não estava ali, só meu corpo, porque minha alma não me acompanha quando estou ansioso e, naquele dia, ah, meu Deus, como eu estava!

Encontrei um amigo e conversamos sobre vários assuntos o que foi bom para me acalmar e reduzir o meu estress.

Uma, duas, três, quatro, cinco...o relógio parecia mais uma tartaruga velha se arrastando, mesmo assim devorava as horas, restava pouco tempo...

resoluto, tinha um destino, tudo dava errado, celular sem bateria, cartão telefônico, que era engolido e o tempo, ah, esse não tinha piedade, voava!

Finalmente cheguei!...Perguntei na recepção do hotel, com a resposta, o desespero;

“já foram”...um ultimo resto de energia, um ultimo fio de esperança na graduação do celular, e, antes que a tristeza me paralizasse, digitei impaciente alguns números, logo chamou uma, duas vezes...de repente, fui interrompido por uma mão branca e delicada que, por trás, tocou meu ombro e eu, levitei.

Senti meu corpo num flutuar gasoso, se desmanchar juntos com minhas idéias que se misturavam e, minha vida de sentimentos, resumida em minutos, transformou-se em tudo de mais belo e valioso.

Estava ali, na minha frente e, eu, querendo encontrar uma ponta onde agarrar para amarrar o tempo, pra ele não passar nunca mais, para ele parar naquele momento.

Não conseguia dizer muita coisa, tinha tanto pra dizer mas não consegui, o tempo se esgotou!...

Acomodações, malas, pessoas!... Um abraço. Um longo e demorado abraço, uma dor que eu nunca havia sentido antes, um misto de extrema tristeza misturado com passos, os meus, de volta pra casa. Sentia meu rosto pesado, como se não conseguisse levantá-lo de tão colado ao chão..

Vazio, caminhando como zumbi e, com uma imensa dor no peito, senti o meu corpo ser transpassado por uma estaca sêca cujas farpas o feriam ainda mais!...

Ainda não acreditando, me vi em minha cama, onde meus pensamentos acompanhavam o diluir do meu sonho, lembranças e lampejos de coisas que aconteceram há milhares de anos e que, por uns minutos, eu vivi novamente!...

Quantas vezes mais terei que, impassível, ver minha alma triturada tranferir para o meu coração as feridas que me dilaceram? Terei vivido estas cenas?

Viverei-as novamente algum dia?

Não sei, sinceramente, não sei!...Mas quantas vezes fossem necessárias eu as viveria porque na bateia da minha lembrança, por todos os tempos,

foi o maior tesouro que juntei!...

Joel A Silva
Enviado por Joel A Silva em 24/08/2010
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