Meu Aladim
Um dia desses, estando eu na Bahia, eis que me surge um velho conhecido. Era o Aladim, ele trazia consigo sua inseparável lâmpada mágica. Ele esfregou-a, e logo surgiu um gênio.
O gênio, muito prático, veio logo dizendo:
- Vou amarrar essa fitinha de Nosso Senhor do Bonfim em seu braço e você tem direito a fazer um pedido.
- Mas só um pedido? - Perguntei. – Não são três?
- Não, os tempos estão difíceis, a bolsa despencou, o dólar subiu, e a economia está instável, tivemos que racionar os pedidos, só os pedidos, os desejos não. Você ainda pode desejar o que quiser.
Pensei um pouco e por fim fiz o meu pedido.
Toda vez que me encontro com uma fada madrinha ou com Aladim, e eu os vejo de tempos em tempos, não tenho coragem de pedir bens materiais, sempre encontro algo que acredito valer mais do que qualquer objeto. Nesse dia pedi paz e amor no mundo!
O Aladim não disse nada, ficou mudo, recolheu seu gênio, sorriu-me e saiu.
Continuei ali parada a pensar na vida.
Passaram-se alguns minutos, o Aladim e o gênio já haviam se esfumado. Comecei a duvidar do meu pedido. Fiquei pensando que talvez ele tivesse sido anulado. Paz e amor são dois pedidos e não um só. Mas, segundo a tradição, quando se romper a fitinha, meu desejo será realizado. Ah, não pode tirar propositadamente, ela terá que cair sozinha.
Enquanto esperava meu desejo se realizar, empenhei-me em proporcionar paz e amor em minha casa, ao meu redor, na rua, na escola, ser útil e amigável com todos que convivem comigo e com minha família.
Continuei minha lida diária, feliz e confiante, até que, certa noite, eu estava admirando o céu estrelado junto a meus filhos e, curiosamente, apareceu uma fada madrinha, enquanto uma estrela cadente riscava o céu.
A fada aproximou-se de nós e dirigindo-se a mim, disse:
-Ah, vejo que você avistou a estrela cadente, portanto faça um pedido, que lhe será concedido!
Não hesitei e logo pedi para que a minha família fosse sempre muito unida.
A fada olhou bem nos meus olhos e disse:
- É um nobre pedido, pois a família é a base da sociedade. Seu pedido já foi concedido, mas lembre-se: “para que a planta cresça e dê frutos é necessário regá-la todos os dias”.
- Entendi dona fada, nossos corações estão cheios de água para regá-las, disse-lhe deixando escapar um sorrisinho maroto. Abracei os meus filhos e os beijei. Eles estavam tão felizes! A noite estava perfeita!
- Cuidem-se, disse a fada, enquanto partia.
- Tchau, espero vê-la outras vezes e obrigada! - Gritei, enquanto ela se afastava.
A vida continuou, e, no meu aniversário não é que me aparece de novo o Aladim, aliás, todo ano nessa data, ele surge bem na hora de cortar o bolo.
- Oi meu amigo! Cumprimentei-o.
- Oi! Como vai a vida?
- Tentando acertar! Mas, amigo, como sei que você é muito ocupado, irei direto ao assunto. Quero perguntar sobre aqueeeele meu pedido?
- Minha cara, eu tenho tentado atender àquele seu pedido; a paz e o amor chegam a vários cantos da terra, mas há pessoas que já não acreditam neles, perderam a fé na vida e isso muito me atrapalha na hora de efetivar o desejo, continuarei tentando, eu prometo. E hoje? Está pronta para fazer o seu pedido?
- Estou sim! Será algo mais simples! E sussurrei-lhe minha aspiração.
Meu pedido desta vez foi que não faltasse trabalho para minha família, pois queremos viver dignamente. O Aladim fitou-me com certa ternura e disse ok, apenas ok e foi atender a outro pedido muito especial. Era o pedido de minha irmã gêmea que, àquela hora, já deveria estar seguindo em direção ao bolo de aniversário dela, e ele tinha que ser rápido, pois ela estava em outra cidade. Posteriormente, Aladim prosseguiria seu caminho atendendo a muitos pedidos pelo mundo afora.