O Canto do Cisne - (4° Capítulo)

Minha mãe insiste que eu tire um tempo para descansar, mas o grande dia já estava chegando e eu tinha que ensaiar, eu ainda não conhecia minhas companheiras de dança, então marcamos de nos encontrar em um restaurante a algumas quadras do teatro onde acontecerá o grande evento. Chegando lá, me deparei com três meninas lindas, logo nos apresentamos e ficamos muito surpresas com um outdoor que estava de frente para o restaurante. Nele estava o anuncio do nosso show, aquilo me deixou ainda mais ansiosa e um pouco com falta de ar, então entramos no restaurante e eu fui ate o banheiro para passar uma água no rosto.

Logo voltei e me sentei junto a elas, eu não estava com fome e a ansiedade só aumentava, começamos a falar sobre o evento, pelo visto, eu era a única insegura por ali, todas falavam com muita confiança, confesso que aquilo foi me acalmando um pouco, muitas idéias iam batendo e se moldando rapidamente e com isso, eu logo relaxei, deixei a bolsa e o meu diário em uma cadeira ao lado e até consegui comer um sanduiche, logo estávamos todas morrendo de tanta gargalhada. Eu tive a idéia de já que estávamos ali tão perto do teatro, poderíamos ir juntas até lá e viver um pouco do ambiente, todas concordaram na hora e então fomos todas. Saímos do restaurante e logo chegamos ao nosso detino, ao entrar, senti uma leve tontura, uma das meninas percebeu e me segurou.

-“Está tudo bem?”

-“Sim, tudo vai ficar bem” – Eu respondi.

O cheiro de madeira tomava conta do ambiente, a enorme cortina fechada ocultando o palco era linda, as cadeiras todas esculpidas a mão artesanalmente, dando um ar todo clássico ao lugar, era tudo muito lindo. Chegando em casa, a primeira cosia que fiz foi procurar o meu diário para escrever sobre esse dia tão especial, olhei para um lado, para o outro, dentro da bolsa e nada, comecei a entrar desespero, passei a procurar em todos os cantos, ate me dar conta de que o havia perdido. O desespero só aumentou, eu precisava dele, as lagrimas começaram a escorrer sobre o meu rosto, então, fui ate o teatro em meio à noite, o segurança não queria me deixar entrar, então implorei para que ele me ajudasse a procurar o que eu havia perdido lá dentro, ele só me deixou entrar quando viu que eu era uma das dançarinas do evento. Procuramos em cada cadeira por três vezes, mas não o achamos, eu estava desolada e dessa forma voltei pra casa.

A noite foi em branco, à insegurança voltou junto aos sonhos que sempre me atormentavam sobre os palcos. Logo amanheceu o grande dia, mas eu não queria levantar, passei boa parte do tempo na cama, meu celular não parava de tocar, números já conhecidos, mas eu não queria falar com ninguém, eu não sabia como faria para entrar no palco hoje, até que um numero desconhecido me ligou, não sei porque, mas acabei atendendo, era a voz de um homem, que trazia a melhor noticia que eu poderia receber. Ele achou o meu diário, estava no restaurante, CLARO! Porque eu não havia pensado nisso antes? Eu o agradeci mais do que deveria acho, mas eu precisava daquele diário, então, marcamos de nos encontrar próximo ao teatro no inicio da noite. Me levantei, tomei um bom banho pra relaxar e deixar que a água quente levasse todo aquele peso embora e então eu me aprontei. Minha mãe já estava mais ansiosa do que eu, ela sabia o quanto aquilo era importante pra mim e estava disposta a fazer de tudo para fazer desse, o melhor dia. Juntas fomos buscar a minha roupa e minha nova sapatilha, passamos um bom tempo escolhendo até eu finalmente me decidir e ao olhar para o relógio, vi que eu já estava atrasada e que eu não iria conseguir encontrar com o rapaz do celular no horário combinado, então liguei para o produtor do evento e expliquei a situação. Logo liguei para o rapaz e lhe pedi que desse seu nome na portaria e que nos encontrássemos lá dentro. Chegando ao teatro, minhas mãos estavam suando, minha mãe sentiu meu nervosismo e me deu um forte abraço.

-“Queria que papai estivesse aqui”.

-“Ele está querida, de alguma forma ele a está observando. Agora vai lá e dance pra ele”.

Logo vi meu produtor que me fez um sinal de positivo, uma forma de dizer que o rapaz já havia chegado, aquilo me acalmou e logo as cortinas se abriram, dando inicio ao espetáculo. Acho que eu nunca havia dançado tão solta como hoje, a imagem de meu pai não me saia da cabeça, logo o som dos violinos se calaram e assim finalizando nossos passos, e lá estava ele, sorrindo e me observando como sempre fazia em uma cadeira a minha frente. Logo muitos vieram me abraçar e assim, acabaram tapando a minha visão, tentei manter o foco, mas ao voltar meus olhos para a cadeira, eu já não o vi mais, minha mãe então veio e me abraçou toda emocionada, assim como eu. Em seguida o rapaz apareceu e gentilmente me entregou o diário, coitadinho, nem havia me dado conta de tudo o que ele fez só para vir até aqui e me entregá-lo. Ele me olhava de uma forma que eu na sabia explicar, talvez ele tenha gostado do que viu, então eu lhe disse:

-Você não esperava por isso, não é mesmo? Espero que tenha gostado.

-Muito pelo contrário, você não sabe o quanto eu esperei por isso e sim, eu gostei, foi lindo, um sonho eu diria.

(Continua...)