A HORA DOS PIRULITOS
Era dia de festival... Cada carro deveria ter seus quadrados enfeitados de bolas coloridas... Os motoristas, seguindo a tradição dos séculos, usavam os saborosos chapéus das frutas colhidas na véspera, logo ali em cada nuvem amarela.
Como sempre faziam, deixavam os pirulitos que nasciam nas azuis para as crianças, que depois do desfile corriam até cada um dos ninhos e deles colhiam os mais brancos... Eram os pirulitos das nuvens azuis aqueles separados para esta celebração.
E o sorriso era afoito, as palavras desencontradas tamanha alegria em cada morador da neblina que comemorava seu centenário. Desde a fundação, foi a escolha não lhe dar um nome. O importante seria, como veio confirmar a história, o espírito de cada habitante, a feição de afinidade com o estilo normativo criado para reger tal comunidade.
Enquanto os homens eram os responsáveis pelos carros e seus adereços, as mulheres ficavam às voltas da sinalização dos telhados, pois cada curva era um perigo para espectadores e participantes do desfile: colocar os laços indicativos de cada uma delas, as cores apropriadas, era fundamental para a segurança de todos.
Não havia competição, nem rivalidades... Só que, respiração de homem, o gosto pela velocidade... As sábias mulheres se precaviam! Afinal, brincar de carro, quadrados deles com os enfeites de bolas e a criançada na impaciência pelo final de tudo para degustar os pirulitos cultivados durante a década inteira...
Talvez por isso mesmo colocavam sempre o preá para vigiar os relógios, a fim de que nenhum engraçadinho adiantasse as letras para o desfile passar logo e, claro, a hora dos pirulitos chegar.