RECORTES DA VIDA.
Já haviam se passado mais de quarenta anos desde que havia deixado sua cidade natal para acompanhar o marido em suas várias transferências em função da carreira militar.Mas sempre que voltava para visitar os familiares retornava às ruas de sua Cidade Velha, o bairro onde havia morado até o casamento. As calçadas com suas pedras portuguesas lhe eram tão familiares quanto o calor que lhe aquecia o corpo todos os dias. E as fachadas das casas, com os azulejos também portugueses...Gostava de deslizar os dedos pelos relevos dos desenhos artisticamente dispostos e inalterados pelo tempo. Também se punha a imaginar o que acontecia nos velhos casarões geminados com suas janelas venezianas fechadas...Nos seus tempos de menina e de jovem, não havia medo em deixá-las abertas. Agora, isso não era mais possível.E na sua caminhada, buscava o velho casarão onde havia nascido. Sentia-se feliz em saber quantas pedras compunham a calçada , da cor das suas janelas e do número colado à parede. Sabia das cores que compunham os azulejos. E ao encontrá-lo, felizmente tombado pelo patrimônio histórico, seu coração sorria aliviado. Ali estava parte de sua história, um pedaço de sua vida. Adentrava em seu interior buscando o abraço de seus bem quereres que já estavam a sua espera.