O Cálice de Lágrimas - Prólogo
O sol estava a pino. Aquele velho e surrado turbante já não o protegia como antes. A cada passo, parecia que aquele maldito deserto ia o engolindo cada vez mais, e cada vez mais crescendo, como um monstro de areia que se divertia em vê-lo penar numa caminhada tão difícil.
Ele tem que se apressar, pois sabe que se não chegar a um local protegido até a noite, estará à mercê dos chacais e outros predadores daquelas terras áridas.
Nisso, Samir olha para seus pés. Já quase em carne viva, sofria, pisando na areia quente como um forno. Seus sapatos já não tinham sola, de tantos dias caminhando por aquele inferno escaldante e seco, a paisagem inclemente do coração do deserto árabe.
Sua pele ia se curtindo aos poucos, talvez tornando-se até mais morena do que já era de nascença, nascença essa que ele vinha amaldiçoando desde que se aventurara a seguir aquela rota terrível.