O saci Tereré é um diabinho travesso de uma perna só que anda solto pelas matas e florestas do Pantanal de Mato Grosso do Sul fazendo travessuras...
     Os índios entendem que é apenas uma entidade da floresta que protege as plantas, os animais e cuida dos curumins que nadam nos rios...
Tereré arma reinações de toda sorte para quem ousa prejudicar a natureza e a ecologia: azeda o leite, põe água na pinga, fura o fundo do barco, mija nas tarrafas, joga sal no fogo das comitivas para estourar a boiada, entorta anzol e embaraça a linhada do mal pescador, livra os peixes das tarrafas, quebra pontas das facas dos coureiros, joga prego na estrada para furar e murchar os pneus dos caminhões que transportam árvores cortadas ilegalmente, coloca moscas e vermes no carreteiro dos caçadores, queima o feijão que eles estão cozinhando, faz apodrecer os ovos de suas matulas...
     No Pantanal, todas aquelas pequenas coisas esquisitas que acontecem em uma fazenda, pousada, rancho ou comitiva, é sempre coisa do Tereré...
     No fundo, no fundo, é um gozador. Quando está de bom humor, só para se divertir, cutuca porcos no chiqueiro, esconde chaves e tesouras, ergue as saias das moças, puxa os rabos dos cachorros, arranca penas das galinhas, derruba os peões dos cavalos nos pastos. Não faz maldade grande, mas não há mal pequeno que não faça...
     Uns dizem que é filho do caipora, ou do pé-de-garrafa...
     Conversa fiada. Na verdade seu pai era um caminhoneiro gaúcho que roubava gado, madeira e soja dos fazendeiros do Pantanal. Sua mãe, era uma índia Terena que, para sobreviver, vendia seu corpo num posto de gasolina que existia perto do Redondo, velho restaurante no meio do caminho entre Campo Grande e Aquidauana...
     Os índios contam que na hora de seu nascimento, sua mãe ao sentir as primeiras dores, seguindo o costume de sua tribo, correu para dentro do rio sem perceber que o mesmo estava infestado de piranhas. Os peixes, atraídos pelo sangue da placenta, depois de terem devorado sua mãe, atacaram Tereré e comeram uma de suas pernas. Um bugio o teria livrado da morte ao puxá-lo de dentro do rio pelo cordão umbilical...
     Mais tarde, ainda criança, ao andar sozinho pelas matas que margeiam o rio Aquidauana, deu de cara com um saci Pererê que encantado com a semelhança entre eles, ficou seu amigo e transformou-o também em saci...
     Ninguém sabe seu verdadeiro nome. Ao contrário dos outros sacis, não gosta nem de passar perto de pinga, cigarro ou de fumo. Dizem que faz questão de urinar nas garrafas, nos pacotes e nos rolos para estragá-los...
Gosta mesmo é de perfume. O pantaneiro quando não consegue domar um touro bravo, deixa um vidrinho com água de cheiro num poste do brete. Dizem que ao meio dia em ponto o sací monta no touro e só o deixa em paz quando o bicho se ajoelha, já domado...
     Foi alcunhado de Tereré por carregar em suas andanças pelos campos e matas, penduradas em sua cintura, uma guampa (vazia) e uma bomba de mate. Por causa disso, as pessoas que se aventuram Pantanal adentro, tem que deixar em algum cantinho, um punhado de erva mate e uma vasilha com água fria para agradá-lo e não serem prejudicados pelas suas traquinagens. Os sitiantes, tentando ganhar a simpatia do Tererê, escondem nos pomares um pires com as comidas que ele mais gosta: carreteiro, chipa e sopa paraguaia...
     Sua proximidade é denunciada por um forte vento levemente perfumado, seguido de um rápido redemoinho de folhas e poeira, e por um agudo assovio: sá - cí, sá – cí, sá - cí...
     A floresta fica em silêncio quando ele começa a assoviar. Ás águas chegam a parar. Portas e janelas devem ser trancadas. Nesta hora, o saci, maliciosamente, quebra galhos secos das árvores. As pessoas se assustam com os estalos e se benzem...
     O Tereré costuma aparecer na hora do almoço, por volta do meio-dia, ou ao cair da tarde, próximo das seis horas. Quem já o viu conta que usa bermuda preta e roupa vermelha: gorro, lenço no pescoço, camiseta gola olímpica, com um “T” maiúsculo (preto), desenhado no peito...
      As crianças adoram ouvir histórias contando as estripulias e as aventuras do saci Tereré em sua constante luta contra os predadores da natureza e da ecologia no Pantanal de Mato Grosso do Sul...
      Quando, por acaso, praticam alguma peraltice, imediatamente se justificam: “Não fui eu! Isso é coisa do Tereré!”.
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