Palavras Finais de um Amante

"Não pedi para que assim o fizessem, mas foi feito.

Minhas dores e minhas glórias serão exaltadas neste dia.

O meu fatídico dia.

Sim, contei com pessoas maravilhosas ao meu lado, daquelas que não era possivel viver sem sua presença ou sua voz. Magooei muitas destas em pelejas que a simples menção me traz os mais terrivéis pesadelos. Mas possuí a imensuravel sorte de manter relações com aqueles que se tornaram minha salvação.

Sim, sou um nobre e não me detenho em afirmar que meus amigos e minha honra me foram fundamentais. Minha vida foi marcada por momentos que apenas eles souberam moldar para algo perfeito, e rogo a meu bom Deus que carregue suas almas onde quer que forem.

Vejo agora que minha estadia perante o que chamamos de mundo fora falsa, cheia de corrupções e maledicências. Quem dera ter o poder de mudar tudo e fazer com que todos à minha volta se sintam bem consigo mesmos. Apenas mais um de meus pecados, com os quais terei de arcar.

As pessoas se reunem naquela mesma capela em que fui ensinado os caminhos de meu Deus. Como o ser humano é despresível... Ô! Até mesmo meus inimigos estão aqui, deleitando-se de minha condição eterna, vangloriando-se por meus defeitos. Tamanha é sua audácia que chegam a rir de mim enquanto choram. Agora posso ver claramente, e a luz não me traz senão trevas. Isso me pertuba.

Alguém que mal conheço se aproximou do altar e entoou palavras de grande efeito, exaltando minhas imensas qualidades, como a doçura, a bondade, o amor à todos... Corja! Não vêem que fui apenas mais um dos seus? Sei muito bem que fui honrado, zeloso, um defensor de meus ideais e de meus sentimentos, pois um bom fidalgo só pode valer-se disso no final de tudo. Mas exaltar-me assim agora parece-me tão fútil! Claro que se fosse em outros tempos eu o receberia de bom grado em meu seio(quem não o faria?). Mas eu vejo agora tudo o que fui, e sei que não fui nada mais do que eu. Apenas eu. Mais nada, mais ninguém.

Um perfume familiar adentrou o salão. O doce aroma das rosas é trazido com uma doçura tal que não pode ser descrita. A mulher que fez toda uma revolução em minha vida finalmente chegara. Silenciosa. Inespresível. É impossível saber o que se passa em sua mente, e eu nem ousaria perguntar-lhe.

Começei a lembrar-me de tudo que vivemos... desde nossa infância. Um amor crescera em nós, mas eu não pude ver. Estava cego por tudo que eu tentava ser na vida. Importante. Respeitado. E enquanto brincava com seus sentimentos, não me dava conta que a destruia pouco a pouco. E que ela me proporcionava os melhores momentos de minha vida. Lembro-me, pela última vez, do momento em que eramos apenas dois adolescentes em uma tarde na pequena cidade que cercava-se de quietude e paz, quando ela sussurou em meu ouvido: Eu te amo. Fora pura e verdadeira, algo que eu não poderia ser, nem mesmo em meus sonhos.

Como fui um tolo! Envergonho-me de ter percebido tarde demais, de me deter em ilusões humanas e não me reter aos seus carinhos, às suas palavras e gestos puros, que porventura tornaram-se meu paraíso pessoal. Sua dor misturava-se com o amor, assim quero acreditar. E ao me negar um lugar em sua vida, finalmente vi o que realmente era o mundo para mim. Tive medo. Chorei com um garoto que perdera os pais. Sim, não há motivos de mentir-lhes. Derramei as lágrimas mais sinceras que alguém poderia imaginar, e talvez daí começara minha punição: Receber o mesmo sofrimento que proporcionei-a.

Ela começou uma nova vida, e eu preso ao seu fantasma. Ao amor que eu havia por sentir tão tarde, em ser o arquiteto de minha própria destruição. Irônico, não? Só agora posso ver que meu amor não será levado comigo ao caixão como muito pensei. Estará sempre presente ao seu lado, minha doce dama de olhos cativantes. Enquanto eu aprecio sua tristeza, meu único desejo é dizer: Eu te amo.

Mas já não é possivel. O tempo encarregarar-se de tudo. Eu me juntarei aos meus, desejando meu mais sincero amor à ela. E ela irá esquecer-me, como deveria ter feito há anos atrás. Nem me alegro de sua presença aqui. Parece que até mesmo em minha morte encontro uma maneira de esfaquea-la como fiz, e por não conseguir mostrar o que sentia pagarei arduamente.

Enquanto ela dominava meus pensamentos, ele ainda falava. Como eu poderia conceber tal ato? Estava envergonhado que todos ali estavam retendo apenas uma de minhas faces. Nunca, e isso lhes afirmo seguramente, eles serão capazes de ver quem realmente fui. Não dessa forma. Ideias erradas, pensamentos frustados, palavras ao vento. Isso era o que realmente o orador, no topo de sua magnifica oratória, passava à todos os que se faziam presentes naquela capela. Em meu leito de morte, não quero ser lembrado como um homem bom ou mesmo que mintam sobre mim. Quero que digam que fui imperfeito. Que tive defeitos. Que eles porventura eram tão magnificos quanto minhas qualidades, pois me tornavam o que eu realmente fui. Quero que vejam aquilo o que eu realmente era. Apenas um aprendiz.

Finalmente ele encerrara seu discurso. Como em um passe de mágica, a cena mudou. Todos deixavam o local, seguindo um cortejo fúnebre embaixo da luz do luar. Sim, essa fora uma de minhas exigências. Pedi que a lua, que abençoava tudo, que dava-me a inspiração para pensar nela, fosse minha luz. A de despedida. A derradeira. Sua confusão logo será resolvida, se ainda não entendeu-me. Apreciei tudo, as últimas palavras, as flores, os prantos carregados de pesar e os carregados de sordidez. Isso me fazia sentir novo. De alguma forma que não conseguirei explicar, era como se estivesse nascendo, e não morrendo. E logo vi-me em meus 18 anos, onde minha insensatez fora tão culpada de meus ato. Alguns podem chamar de justificativa, eu já não me importo mais. Não haveria porquê.

Procurei-a novamente, e dessa vez fora tão mais significante. Ela também se apresentava a mim em sua idade jovial, onde eu pude mais uma vez relembrar suas palavras de amor e de dor. Sabia que não havia mais tempo para mim, restavam minutos, talvez menos. Lentamente colhi uma rosa e carrreguei em meus dedos, com delicadeza que não convinha a mim nesta idade. Aproximei-me ainda mais, e a abracei. Notei seu calafrio, ela sabia que eu estava lá. De alguma forma, sabia. Vi uma lágrima escorrer de meu rosto, enquanto a tristeza dela esvaía-se no nada. Um sorriso vacilante apareceu em seu semblante, e isso me encheu de alegria. Tudo o que eu queria dizer deveria ser guardado para o reencontro. Por ora, beijei-a no rosto, e sentindo mais uma vez sua doçura imensuravel, sussurei em seu ouvido: Boa noite, meu anjo.

Ela virou-se com uma velocidade espantosa. O sorriso que tanto admiro enchia o ar com pureza, e seus olhos ofuscavam a lua. Exatamente como eu gostaria que fosse. Não era um adeus, não para nós. Eu haveria de encontrá-la novamente, e quando acontecesse, eu diria tudo o que precisaria ser dito. Enquanto ela abaixava-se e apanhava a rosa, eu apenas iria esperar para dizer-lhe como toda a força de meu ser: Eu te amo.

Que aqueles que leiam isso possam ver o que o amor é capaz de fazer. Que aqueles que leiam essa mensagem sejam tocados, em suas almas e corações, e aprendam que o amor é eterno. Ele não se aprensenta como desejamos, mais sim quando mais precisamos. Peço que todos, em nome deste sentimento puro, sejam guiados à felicidade."

Draiken Vanhite
Enviado por Draiken Vanhite em 23/07/2010
Código do texto: T2395255
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.