A Princesa Mestiça - Capitulo 1

Capitulo I

Era insuportável a dor, mas ele estava ali com ela.

Era o fim.

Ela sabia que seria de mais querer levar uma vida longa ao lado dele. Quem ela era? Apenas uma humana patética e frágil?

Um peixe e uma águia nunca poderiam se apaixonar.

Eram inimigos naturais, predador e caça.

Nunca viveriam juntos, não havia espaço no mundo que pudessem os unir. E se por algum milagre eles tentassem, um sempre deixaria de existir tentando coexistir.

E como ela sempre havia esperado, ela deixaria.

Era a mais fraca.

Uma patética humana.

A sua cabeça parecia querer explodir e se dividir em milhares de pedaços, ela queria gritar, mas algo a impediu, como se uma força pesada e obscura tomasse conta de si, as suas costelas doíam na mesma intensidade e algo se apoderava do seu corpo, um formigamento surgia do centro do seu peito, era doloroso de mais, por que toda aquela tortura? Ela apenas queria deixar de existir, se não podia esta ao lado de Darién não havia mais o porquê de lutar, por que aquela dor não cessava? Por que ela tinha que agonizar tanto? Ela não conseguia mais respirar, sentia que seu peito ia explodir. Não queria mais sofrer.

- Anna... – O grito doloroso dele ecoou e vibrou pelo seu corpo, ela queria falar, mas não conseguia, era pior que um filme de terror, pior do que todos os seus mais terríveis pesadelos, ela estava morrendo e nem ao menos conseguia abrir os olhos para vê-lo mais uma única vez.

A dor aumentou se é que aquilo ainda era possível, o vazio que a flecha deixara em seu peito seguiria com ela, assim como o amor que tinha por Darién e a falta eterna que sentiria dele, ela o amava mais do que sua própria vida, um amor tão forte que seguiria com ela depois da morte.

O relógio da catedral ressoou e a dor mais intensa se alastrou parecendo querer conter o fluxo de toda a sua corrente sanguínea, morrer era doloroso. A última coisa que sentiu foi à mão dele em meu rosto e a mais profunda escuridão a engoliu nem mesmo a deixando em paz.

***

Anna...

Alguém a chamava, a voz aveludada a chamava com carinho que fazia o seu corpo se consumir em chamas, mas tudo estava escuro impedindo a sua visão.

- Diana...

Do outro lado a voz de Victor a chamava, era gentil, mas ela não queria ir até ele agora, queria encontrar o dono daquela voz que a enfeitiçava, ele a salvaria do seu destino, ele a tiraria daquela escuridão.

- Por favor, você não pode partir...

A voz aveludada era urgente, mas estava se afastando, aquilo lhe trouxe um arrepio e a encheu de desespero, não queria que ele fosse embora.

- Diana...

A voz de Victor estava mais forte, ele estava se aproximando...

- Acorde... - Pediu Victor.

- Não agora eu não vou permitir Anna...

A voz estava coberta pela dor e uma urgência desesperadora ela se afastava cada vez mais e já soava muito muito longe.

- Diana...

- Não, não vá. – Pediu Diana.

Mas ele já havia partido.

-Precisamos ir. – Avisou Victor.

Diana ficava desconcertada quando aquilo acontecia, por que ele tinha que sempre acordá-la e por que ela era a única que tinha a necessidade de dormir? Victor nunca dormia apenas ela tinha aquela fraqueza idiota, e isso a incomodava, todos a tratavam como se fosse quebrável e de estrema raridade, excessos de mais por toda a parte. Apenas conseguia ser ela mesma em seus sonhos e isso a perturbava. Gostava da voz do estranho, acalmava-a sentia-se protegida. Mas sempre que despertava aquela sensação se esvaia, acordava para um mundo real que não parecia lhe pertencer, mas a sua realidade também lhe dava muitos prazeres, como a cara de espanto da guarda de seu avô quando ela empunhava uma arma, ou quando acabava com todos eles na esgrima, a adrenalina a fazia sentir-se viva, poderosa. Era tão rápida em seus movimentos que eles eram quase imperceptíveis aos olhos super aguçados de um vampiro comum, o único que era capaz de lutar em igualdade com ela era Victor, ele lhe dava muito trabalho e não admitia uma derrota, era isso que ela gostava nele, sempre o desafio velado nos seus olhos.

Não era mais a mesma desde quando acordara naquele cemitério, seu corpo se modificava e se fortalecia a cada dia se recuperando do tempo que ficara presa e inconsciente naquele caixão.

Ela olhou para Victor ao lado da sua cama, ele estava recuperado também, depois que ela despertará havia-o encontrado muito machucado, ele era extremamente forte e quem quer que tenha feito aquilo a ele, estavam em pé de igualdade. Sabia que ele se vingaria, Victor nunca admitiria perder para alguém. Ela nunca o vira perdendo.

-Vamos para onde?

- Esqueceu de sua apresentação e coroação? – perguntou ele descrente.

Sim, e ainda havia aquela necessidade. Teria que pela primeira vez encarar o conselho e como se não bastasse todo o povo Dreiger.

Era necessário passar por aquilo por que a época de sua união com Victor se aproximava, e ainda haveria vários protocolos a se seguir até a cerimônia de união, essa só seria a primeira.

Seu avô era muito formal, não o via muito e para Diana ele ainda lhe parecia um perfeito estranho, mas sempre que estavam juntos ele se mostrava muito atencioso e parecia ser um ser formidável, gostaria de passar mais tempo ao seu lado, para tentar encontrar semelhanças com ele, mas enquanto Victor era ocupado com o treinamento dos guerreiros, seu avô se ocupava em manter o equilíbrio do poder da coroa Dreiger e a continuidade da espécie pelo sangue.

Ele pousou um beijo em seus lábios.

- Vamos?

- Tenho que me recompor, eu dormi de novo. – Odiava admitir aquela fraqueza, principalmente a ele.

- A freqüência esta diminuindo. – observou Victor capturando uma mecha do seu cabelo.

E aquilo era verdade. agora dormia apenas duas vezes por semana e notara tambem que o tempo que necessitava para descansar estava diminuindo também. Hoje mesmo só ficara duas horas dormindo.

- Creio que estou deixando de me esgotar facilmente.

- Esta ganhando força e isso é bom, ficou presa por muito tempo. – Ele a encarou por um momento. – Deixá-la-ei só.

Ele fechou a porta e Diana foi até o guarda roupa em busca de um traje para se apresentar diante do seu rei e avô e todo o seu povo.

Podia permanecer o dia escolhendo uma roupa, tantas eram as opções, a criada entrou:

- Senhora o que esta fazendo? - perguntou Anabeth curiosa.

- Escolhendo o traje. – Disse sem se virar para encarar a sua criada pessoal.

- Já esta ali, no manequim.

Diana viu o belo vestido preto, que deixaria parte da lateral do seu corpo e seu abdômen de fora cobrindo-o apenas com a delicada renda vermelha que compunha a parte de cima do vestido, se ajustaria perfeitamente a cor do seu cabelo que trazia consigo os mais variados tons de prata, era um cabelo incomum e nem por isso deixava de ser belo, cresceu a um ritmo assustador, em apenas dois meses, o tempo que foi necessário para se recuperar e fortalecer de seu sono profundo, agora ele se estendia em grossa madeixas ao longo das costas até a cintura.

Quando Anabeth terminou de vesti-la, Diana se olhou no espelho, contemplando a imagem da bela estranha a sua frente, sentia-se diferente, sentia-se como se uma nova criatura tivesse acordado de dentro de seu ser e reclamado a sua liberdade.

Adorava esta de volta depois de séculos dormindo e se recuperando do atentado que sofrera a séculos atrás. O que era estranho era não se lembrar de nada. Nada do que vivera antes, nem mesmos os motivos que a fizeram se retirar do mundo por tanto tempo.

Seu avô pouco lhe explicara. Victor nem mesmo entendia como ela fora capaz de sobreviver ao atentado, dizia apenas que a aguardava ansioso ao seu retorno para poder se unir a ela.

Uma batida soou novamente em sua porta, Diana calçou as sandalias e foi de encontro a seu prometido impaciente...

***

Penélope Silva
Enviado por Penélope Silva em 21/07/2010
Reeditado em 21/09/2010
Código do texto: T2391113