O Fotógrafo - (Imune a lente)
Tarde de inverno, uma parada para um drink no caminho de volta pra casa em um bar ali perto, uma imagem se mantém presente em minha mente após uma sessão de fotos nada inspiradora, um tanto frustrante eu diria. Ao fotografar uma mulher, sempre procuro nela, tuas qualidades individuais, algo que me inspire e faça a sessão fluir de maneira prazerosa, mas por algum motivo eu não consegui fazer um bom trabalho com ela, eu não conseguia entender o real motivo, em mãos uma imagem sua, na imagem o teu olhar, que oculto sobre o negro dos teus cabelos, que dançavam junto a cada gesto teu desvendando e ocultando o mistério que neles havia. Nos teus lábios atrevidos o sorriso capaz de moldar e adoçar o momento... Na imagem tanto a descobrir, tanto a pensar, tanto a sentir, porque eu não consegui boas fotos? Em meio a tantos pensares, ouço uma musica de fundo e sobre o palco do bar, lá estava ela, sobre uma barra em uma dança envolvente e sedutora, num olhar que convidava a todos ali presente. Surpresa ao me ver, ela mantém o teu olhar sobre o meu e se aproxima, teus movimentos que davam forma aos teus pecados, num ato provocativo e cada vez mais sedutor, eu podia sentir teus cabelos negros e macios tocarem minha pele e o teu perfume mesclar entre intenso e suave de acordo com cada gesto teu. De acordo com as regras, eu não podia tocá-la e aquilo parecia excitá-la, aquele mesmo sorriso, moldando-se a cada olhar que não diretamente para mim, mas como um ato desafiador, confiante e predador. Eu ali a sua frente, presenciando sua arte, sem poder tocá-la enquanto ela me envolvia, seduzia e enlouquecia... Não vou negar, aquilo me fascinava e apesar de desejar tanto poder tocá-la, de poder sentir tua pele macia e perfumada, nada era mais excitante que viver tal tentação. O desejo só aumentava, senti minhas mãos suarem frio e minhas pernas ficarem inquietas, meus olhares se desconcertavam a cada olhar seu. Quero tocá-la por saber que não posso e por ela me fazer acreditar que é aquilo o que ela quer, me provocando, me atiçando, me fazendo desejá-la, me fazendo fantasiar e quase me fazendo perder a cabeça. Logo o som de fundo se calou, teu olhar então mudou, teus lábios já não sorriam mais e o momento passou, a dança acabou e eu ainda estava em transe. Fora prazeroso pra ela, saber que fizera a cabeça de um homem que em algum moomento desacreditou de sua essência, entrou em minha mente e me fez querer beijar os teus pés. Fora prazeroso para mim também, não vou negar, poder presenciar a essência de uma mulher posta a prova, o pecado em sua forma real, intocável e no entanto, tão desejado. Confesso que enquanto ela dançava, eu ate desejei fotografá-la, fora um ato extremamente sensual, um momento tão perfeito, a forma como ela parecia gostar do que fazia, a forma como me manipulava com os teus gestos e olhares, me olhando profundamente e dançando diretamente a para minha alma. Uma imagem não seria capaz de dar vida aquela arte, a dança é livre e não deve parar, ela sabia e queria isso me mostrar.