O BODE QUE APAVOROU UMA CIDADE
Era um pequeno cabrito nascido no sertão do nordeste brasileiro onde a comida e a água é muito escassa.
Desde pequeno acompanhava a mãe e outros membros do rebanho a grandes caminhadas a procura de alimentos, principalmente a água. Em uma dessas caminhadas surgiu um cachorro que atacou o rebanho. Todos correram do agressor indo cada um para um lado.
O pequeno cabrito se embrenhou na caatinga e quando parou de correr viu que estava sozinho e perdido. Ele berrou muito mais ninguém acudiu.
Continuou andando e sem saber, se distanciava cada vez mais de onde morava. Assim, depois de vários dias, chegou a um pequeno povoado onde ficou vagando sem, contudo, achar uma casa que lhe ofertasse abrigo. Abandonado e solitário viu uma mata com muito capim. O local ficava no fundo de um cemitério. Era uma grande área arborizada que pertencia ao próprio cemitério destinado há algum dia ser parte do mesmo.
Era toda murada, mas como o povo tinha medo do local ninguém ia lá e o mato cresceu em torno encobrindo o muro onde uma parte caiu deixando um buraco por onde o cabrito adentrou.
No meio do mato havia uma pequena capela abandonada. Tinha muitas goteiras mas, para uma cabrito, era uma bela casa e ele ali se instalou. Além do abrigo, tinha muito capim e uma pequena poça d’água. Era tudo o que ele precisava!
O tempo passou e o cabrito virou um senhor bode preto com um respeitado cavanhaque.
Num belo dia, o administrador do cemitério, mandou um funcionário roçar e limpar aquele capinzal deixando somente as árvores. Mesmo a contragosto, pois todo mundo tinha medo daquele local, o funcionário começou o roçado.
O dia estava escuro e ameaçando chuva. Havia muitos relâmpagos. O homem estava nos seus afazeres quando, de repente, apareceu no meio do capim a enorme cabeça preta do bode.
Quando o homem avistou-a deu um grito e correu muito. Chegando ao escritório pálido, tremendo e quase sem voz todos ficaram assustados.
Depois de um copo de água com açúcar e já refeito do susto conseguiu falar: - eu vi o “coisa ruim” no meio do capim! Ele só tinha cabeça, um grande par de chifres e uma barba enorme, os olhos eram vermelhos como fogo. Se eu não corro teria morrido!
O administrador retrucou dizendo: - voce bebeu?
-claro que não, o senhor sabe que eu não bebo. Só que lá não volto mais. Nunca mais!
A notícia espalhou-se pelo povoado. A população, que já temia o local, ficou mais apavorada ainda! Formou-se uma comissão de homens para ver do que se tratava.
Afinal,foi uma visão ou uma mentira?
Assim, no dia marcado, tendo o padre na frente, rumaram para o fundo do cemitério levando água benta com todos rezando, feito uma procissão.
Nesse dia, também o céu estava escuro ameaçando chuva.
Ao chegarem ao local foram amassando capim, deram alguns passos para dentro do mato e nesse instante um raio cortou o céu dando um estouro no exato momento em que a cabeça do bode surgiu no meio do capinzal. Foi um susto geral! Todos gritaram e correram inclusive o padre que levantou a batina e saiu em disparada dizendo – creio em Deus Pai!
Quase toda a população aguardava na entrada do cemitério para saber de fato o que havia acontecido no mato. Quando viram que todos, e até mesmo o padre, voltavam correndo ninguém quis perguntar nada. Foi uma debandada só!
O assunto no povoado era este: que o “coisa ruim” morava no fundo do cemitério e lá ninguém mais tinha coragem de por os pés!
Passaram-se alguns meses depois deste acontecido. Foi quando uma moradora local, muito pobre e com vários filhos pequenos, que tinha uma cabra que ajudava a alimentar as crianças, notou o desaparecimento do animal.
Desesperada começou a procura perguntando aqui e acolá sem obter resposta. Procurou por todo o povoado menos no matagal no fundo do cemitério. Mesmo com medo, ela encheu-se de coragem e adentrou a mata quando descobriu o buraco no muro. Escutou o berro da cabra! Seu primeiro pensamento foi que o “coisa ruim” tivesse atacado a pobrezinha. Porém, como o animal era sua fonte de sustento, mesmo apavorada e rezando ela foi até o local onde ouviu o berro. Qual foi a sua surpresa? Ali estava a sua cabra que acabara de dar a luz a um cabrito e o pai, um grande bode preto com uma enorme barbicha.
A mulher deu uma grande gargalhada e muito contente levou os três para casa onde o bode vive e até ganhou um nome: BOBÔ.
Nem tudo o que parece é!
DI ASSIS
14/05/2010