Felicidade perdida
Anamaria era uma jovem que gostava de sorrir, estava sempre contente. Levava a vida a sonhar com a chegada do amor que preenchesse seus dias de ventura.
Esse amor chegou, e Anamaria passou a viver em função desse amor cheio de encantamento. Meses, anos se passaram e Anamaria não conseguiu realizar seu sonho encantado, unindo-se àquele alguém por quem seu coração ansiava.
Surgiram obstáculos intransponíveis que a deixaram muito triste e sem perspectiva de realizar o seu sonho de amor.
Mas o tempo sempre é remédio para tudo quando se procura lenitivo para mágoas do coraão.
Depois de algum tempo, Anamaria tentou remover a primeira pedra, para transpor a montanha que a separava da felicidade, abateu sobre ela uma avalanche, soterrando-a. Foi um abalo com tamanho impacto que a prostrou de tristeza. Quedou-se impotente, exangue.
Contemplava a montanha promissora, mas a lembrança dos obstáculos desvanecia-lhe o ânimo de lutar.
E o tempo foi passando. Muralhas se interpunham a escalada. Miragens se sucediam confundindo-lhe a visão da felicidade sonhada. Forças invisíveis tolhiam-lhe a decisão e cada vez mais crescia a montanha ante seus olhos nevoentos que vagueavam no além, vislumbrando uma seara festiva como prêmio do seu esforço.
Deixou-se arrastar pela correnteza sem saber para onde a levava. Uma sensação de desamparo tornava-a muito infeliz, parecendo-lhe impossível de ser conduzida pelas suas fracas forças.
Procurou recompor-se. Transformou-se em um barquinho náufrago que, a todo custo, juntava as partes quebradas, amainando as cicatrizes, para novamente flutuar em busca de novos horizontes. Porém, a correnteza levou-a a uma ravina, deixando-a ilhada. Não podia prosseguir. Os sonhos de felicidade foram postergados.
Desesperançada deixou-se atingir pelos espículos da indiferença. Ao seu redor, cresceram tentáculos, aprisionando-a às convenções.
Inesperadamente desaba uma parte da montanha. Os anseios despertaram.
Uma borboleta azul alça vôo num aceno de asas, convidando-a a segui-la no aclive promissor.
Uma janela no céu deixou-a entrever o mundo de venturas à sua espera. Inebriada pelo delicioso enlevo chegou a sorrir.
Surpreende-se pelo salto em direção à felicidade almejada. Agarrou-se ao tênue fio de esperança numa tentativa para libertar-se. Foram momentos de ansiedade no reencontro de algo perdido e sofregamente desejado.
Ouviu o arrulhar da pomba na demonstração inequívoca de amor ardoroso. Suas asas roçaram-lhe o rosto, acariciamdo-a e seus pezinhos firmavam-se em suas mãos com ternura.
Pousou os lábios em sua cabecinha, acariciou-lhe as penas macias.
Milagre de amor!!!...
Instantes de emoção e de carinho sentidos em plenitude.
A ânsia de felicidade se transmuda em fruir de gozo de amor e paz. Esse enlevo teve a duração de minutos. O emaranhado que a prende às situações pressionam, obrigando-a a constatar uma realidade dolorosa: existem muitos obstáculos difíceis de serem contornados.
Inquieta e amendrontada tange para longe a ave dourada que se aninhara em suas mãos. Soltando-a num gesto precipitado, assustou-a que voou para bem distante, lá no alto da montanha.
Seu coração entristeceu.
Nunca mais ouviu o arfar das suas asas nem o suave arrulho amoroso!!!
Nunca mais!!!...