O amor é como a vida : INESQUECÍVEL
Não sei como começar, mas aqui repetirei a fala de Brás Cubas ao dizer que é um defunto-autor, pois assim sou. Uma defunta-autora. Estranho, você pode estar aí pensando, mas é o que de fato é.
Morri aos 17 anos, vítima de uma doença que se não falha minha memória tenha sido um tumor sem cura em meu cérebro... Triste sina, que meus passos se perderam, minha vida aos poucos acabava... Mas não quero ficar lamentando as minhas desgraças, os meus sonhos perdidos, a minha vida sem futuro. Quero deixar aqui o amor que vivi, o amor jovem e colegial, mas que valeu a pena meus 17 anos.
Morei em uma cidade turística, chamada de Lagoa Santa... Bela cidade, bom lugar. Sempre ia à lagoa ( local de banho) nas tardes, meditar sobre a vida, sobre a morte... Sobre tudo. Andava despercebida quando de repente esbarrei em um rapaz que fez meus brilharem, pela primeira vez tive o brilho do amor, mesmo que eu desconhecesse.
- Oi moça, desculpe! - disse o estranho rapaz.
- Tem nada não. Eu quem estava distraída. - disse eu com os olhos baixo.
- Você tem medo?
- Medo?
- Sim. Medo de levantar os olhos e encarar-me de frente. - disse o moço, levando sua mão ao meu rosto.
- Sou tímida como quase todas as garotas deste interior.
- Ok. Já que tens medo, apenas me informe onde fica o colégio dessa geringonça aqui... - ele riu, e eu sorri tristemente. - Você é linda mas seus olhos são sombrios.
- Sim. Há apenas um colégio... Fica a 4 quadras daqui. Estudará lá?
- Mudei pra cá, semana passada. Acho que poderemos ser amigos.
- Se eu tivesse tempo, seríamos sim...
- Tempo? - ele perguntou, e eu saí quase correndo... Ainda tinha 16 anos, jovem, indecisa e condenada a morrer.
Segunda - feira encontrei-o no colégio. Eu tentava evitá-lo, ignorá-lo, fingir que ele nem mexia com os meus sentidos... Engano, vasto engano, amarga ventura.
Ele tentava se aproximar de mim, eu o evitava. Ele começou a me mandar cartas, e eu as desfazia. Eu não podia, mas eu queria.
Porém, certo dia ele encontrou-me novamente onde pela primeira vez nos trombamos.
- Luana, não fuja de mim. Não sei porquê, mas desde o primeiro instante que te vi, senti o que nunca havia sentido por ninguém. Seus olhos tristes, seu semblante sofredor, fez com que eu quisesse saber mais de você, fez com que eu me interessasse e dias depois eu me visse completamente apaixonado... Eu te amo. Não fuja de mim, apenas me diga qual o seu problema. O que faz você ser assim?
- Cristiano, eu ... eu nem posso te dizer. Em breve eu não estarei mais aqui.
- Eu espero por você... Aonde você for, eu estarei presente em seu pensamento, em sua vida, até que um dia a gente se encontre...
- Eu não estarei viva. - disse e saí correndo.
- Espera! - agarrou meus braços.
- É sério, sou uma adolescente condenada à morte. Não diga mais essas palavras bonitas. Elas machucam o coração de uma garota que não pode amar, que não pode ter sentimentos, pois não sei quanto tempo de vida ainda me resta... Estou marcada pelo desengano. Não me ame, pois não posso. - eu chorava, e ele segurava-me em seus braços, como que se quisesse me confortar.
- Vamos conversar sossegadamente em outro momento. Refresque sua cabeça, eu posso ficar contigo o tempo que você precisar, e o tempo que você tiver. Eu quero poder estar ao seu lado, poder viver contigo.
Dias depois conversamos, contei a ele tudo. De minha doença, de meus anseios, de minha vida, e de minha futura morte... que viria sem muito demorar. Cristiano era o anjo que veio para me amparar em meus momentos turbulentos, em meus dias finais, para que o amargo da morte não fosse tão triste e tão revoltante.
Com ele eu morri, morri feliz. Ele me mostrou felicidade quando eu já não podia sorrir, fez eu acreditar na vida quando a morte batia em minha porta. Fez eu amar, quando achava que esse sentimento já não fosse mais possível para mim... Em menos de um ano vivi um amor inesquecível, um amor que marcou minha existência, a minha curta sina, mas que valeu a pena ter nascido e vivido...
Oito anos após minha morte reencontro Cristiano. Eu o vejo, mas ele não pode me ver... Sentado, próximo ao local que nos trombamos pela primeira vez, ele canta nossa música ao som de um violão. Eu sei que ele pode me sentir, apesar de não me ver ...
- Amor, eu posso te sentir aqui.