Contos do Eremita - Equilibre os opostos.

Suspiro. Como em algumas poucas ocasiões como essa, apenas suspiro. É interessante observar um pouco a humanidade. Ser algo a parte dela deve ter desvantagens, por mim já superadas e ignoradas. Com frio garoto? Uma fogueira e uma história poderão lhe aquecer o coração.

"- Olá filhote... o que te traz aqui?" perguntei, cordial como sempre em frente à minha fogueira, debaixo de meu capuz.

Ele não soube responder à pergunta. Na verdade, eles nunca sabem, ou sempre respondem a mesma coisa. Não é falta de criatividade, é uma espécie de visão padronizada. Por que não respondem "o destino" pelo menos? É de certa forma revoltante. Voltando a ele, como os outros...acabou balbuciando "é...eu tava andando, e por coincidência parei aqui."

"- Não existe coincidência ou acaso, caro filhote. Existe o destino, o inevitável, a força maior. Como você prefira chamar, existe isso." Respondi-lhe.

"-E o que és tu para achar que sabe disso?" ele perguntou. Engraçada foi sua face de revolta.

Apesar de não poder me mostrar feliz diante daquilo, acabei percebendo que era um bom filhote para ser ensinado sobre as estranhas coisas que nos rodeiam.

Impaciente, indaga novamente, e adiciona um palpite: "Alguma entidade, ou mago ou coisa do tipo?"

Ri. Ri do palpite interessante, e da criatividade relativamente comum da maioria deles.

- Um velho professor-aprendiz eu sou, agora chamado por muitos de eremita.

- E o que diabos você quer comigo?

-Não quero nada, mas tu que saistes andando sem rumo à procura de algo.

-Não lhe interessa isso... - foi o que ele disse se levantando para ir embora. E estranhamente, uma gota de chuva o parou. Uma pequenina gota de chuva teve a força de parar o todo poderoso... humano. Caiu em frente a ele. Outra, mais uma. Outras mais, e estava formada uma chuva fina. Deu pra perceber que o garoto teria algum potencial. Sentou-se novamente e pôs-se a observar a fogueira por alguns instantes.

- O que queres perguntar?

- Não entendi... a água está caindo sobre a fogueira, mas ela não diminui.

- Então a sua pergunta é "por que a fogueira não diminui"? Por que ela e a chuva estão em equilíbrio.

- Como assim em equilíbrio? São fogo e água. A água deveria apagar o fogo.

- Sim, são fogo e água. Todas as coisas tem seus opostos, e aí estão os opostos fogo e água. Porém, no equilíbrio certo os opostos não tendem a se destruir. Isso só acontece quando um dos elementos está lá em demasia. Se eu adicionar mais fogo, a água evaporará totalmente. Se eu adicionar mais água, ela apagará o fogo. Mantendo-se o equilíbrio têm-se um benefício para ambos os opostos. Todo aspecto, elemento e sentimento tem seu oposto, com o qual deve ser equilibrado. Se não existir o oposto para manter o equilíbrio, ação se converte em destruição.

Ele saiu correndo após minhas palavras, o que era o esperado desde o início. Humanos correm como loucos da chuva purificadora, límpida, e que traz o equilíbrio.