A História do Mundo

O universo era vazio na época. Quem sabe inabitado fosse o termo correto para ser usado, mas os criadores diziam que era simplesmente vazio. As noções de habitado ou inabitado surgiriam somente depois. De qualquer forma, com o passar das eras a coisa toda foi ganhando cor. Um ponto aqui, outro acolá.

Num canto deixaram uma bolinha azul que girava em torno de outra bola grande e brilhante. Quando um dos arquitetos de tudo aquilo desceu até a bola azul – era a única opção, a bola maior era quente demais – caiu na água. Resolveu criar os continentes e preencheu tudo de uma forma bem criativa. Agora faltava o toque final, o empurrão para que o planetinha começasse o longo caminho da evolução.

- Faz favor, Francisco, desce aqui e traz a máquina de escrever – disse o Criador no seu comunicador pessoal. Vale citar que ele já havia criado uma forma elegante de comunicação em substituição dos esquisitos métodos telepáticos.

Demorou um tempo até o assistente do Criador encontrar todo o material e chegar até ele, mas quando avistou o lugar de longe ficou impressionado com as modificações.

- Sensacional, patrão! – bradou em aprovação e também para fazer uma média. Abriu a cadeira debaixo da sombra de uma grande nuvem, colocou a máquina de escrever no colo e esperou.

- Coloca aí, Francisco, o seguinte: árvores verdinhas e com alguma outra variação na cor, mas em geral, verdes; na água, que já está pronta, peixes; na terra, que também já está pronta, animais, que no caso são dotados com aquela nossa nova invenção chamada vida. Coloca vida nas árvores e nos peixes também – o Criador começou a ditar o que queria colocar naquele lugar todo e seguiu por muitas e muitas páginas.

Francisco batia com extrema velocidade nos botões. Conforme escrevia, tudo acontecia. Árvores e animais surgiam. Peixes pulavam na superfície brilhante dos mares e caíam em júbilo. O ar brincava de mexer nas árvores, e mais tarde, pássaros surgiram em sua companhia. Tempos antes, quando a vida ainda estava em experiência, tiveram de testá-la em pelo menos uma centena de lugares. Agora ela estava redondinha, de modo que tudo crescia e evoluía perfeitamente.

- Agora, meu caro Francisco, vamos colocar aquela variação da vida com a tal inteligência – continuou a ditar as alterações no planeta -, se bem que ela ainda não foi testada da forma ideal e continua apresentando uns resultados esquisitos – parou e coçou a cabeça, pensativo -. Sabe, talvez seja o que falta para dar o charme pra tudo isso aqui. Pode escrever aí: vida com inteligência.

E foi assim que tudo começou.