A menina do guarda-chuva
Dizem os mais antigos sábios que a Lenda da Menina do guarda-chuva é tão real quanto aquilo que os olhos tem a certeza de estar enxergando...
Ela não era uma menina qualquer...era "A Menina do Guarda-chuva!"
Bonita e perfumada, ela caminhava e cantarolava, pois era o que mais gostava.
Andava e andava e voava, debaixo de seu guarda-chuva. Corria e saltava e dançava...tocando a chuva.
Toda a manhã ela saía de casa...levando o seu guarda-chuva preso na mala. Todas as tardes ela caminhava sob o Sol, e dizia a todos que o guarda-chuva era um guarda-sol.
A menina via dragões e príncipes a cavalo. Chamava os unicórnios num só estalo...sentia o cheiro gostoso das folhas dos chorões. Seu guarda-chuva estava sempre aberto e tudo isso ela via de perto.
Assim era a menina...com tantas coisas mais do seu jeito. Mas vamos começar a lenda e lhe direi algo mais a respeito...
Diz a lenda...que a Menina do guarda-chuva jamais o largava. Era como se ele fosse o seu melhor amigo, o melhor confidente, o melhor guarda-chuva que uma menina poderia ter. O motivo? Todos queriam entender.
Era uma bela menina com um belo par de botas marrons até o joelho. Estava sempre preparada para a chuva que viesse, para cada gota que caísse sob o céu que anoitece.
Entre sóis e chuvas, ela andava com seu guarda-chuva. E dizia percorrer as mais misteriosas florestas, os mais belos campos, as mais altas montanhas e voar sob o céu mais anil. Era capaz de falar a respeito de cada criatura criada pela Natureza e em tudo que falava havia beleza.
Um dia quando estava seguindo no caminho...encontrou um chão coberto de espinho. Não havia outra estrada a seguir, apenas voltar para onde nasceu o partir. Então ela seguiu...e jamais voltou para o lugar em que um dia saiu.
Um dia quando estava a andar...a floresta escura parecia se calar. Então uma música ela cantou e sua alma se alegrou. Quando o silêncio tristonho buscava entre as árvores morar, ela chamava os pássaros e juntos ficavam a cantarolar. E se a noite não trouxesse a beleza da lua...lá estava ela, debaixo de seu guarda-chuva.
Houve um dia também em que sumiu a alegria...e todas as criaturas a procuravam. Perdidas elas estavam, pois em nada mais havia magia.
Houveram dias em que o frio parecia ser a segunda pele do corpo...de tanto frio que fazia. E chovia. A menina não sabia como se esquentar e pensou em abrir seu guarda-chuva...para que naquela hora ele fosse um guarda-sol. Assim, iria embora o frio e a chuva. E então se fez Sol.
E por toda a sua caminhada...apareceram dragões e unicórnios voadores. Pena que o caminho não era só de esplendores. Contudo, a menina jamais temia o que via, pois estava com seu guarda-chuva. Seu fiel amigo...a quem tudo contava, a quem tudo dizia. A quem tudo entregava e a quem tudo pedia.
E seu guarda-chuva jamais lhe abandonara. Nem mesmo quando a chuva vinha forte e no céu trovejava.
A menina andava e andava...e voava. Mas não sabia para onde ia, apenas caminhava. Isso era o que fazia.
Ela não sabia porque caminhava. Mas sentia que seu coração entendia. Às vezes ela chorava, outras sorria.
Seus dias se tornaram longos...e a menina percebera que crescia. Para tudo ela olhava e se perguntava o que é que ali fazia.
E as noites foram clareando...e a escuridão se tornou dia. E finalmente, secando as lágrimas do choro que trouxera na longa caminhada, o porquê de tudo ela entendia.
Voltou-se para si e se olhou de cima em baixo. Assustada...ela se questionava: - É isso mesmo que estou vendo...é isso que acho?!
E então percebeu...que o guarda-chuva sempre estivera preso na mala e que as botas nos pés ela jamais trazia. O que cobria sua cabeça era apenas o céu...e seus pés estavam descalços. O céu era o seu véu. E seus pés descalços foram os seus únicos companheiros de caminhada...foram os seus passos.
Compreendeu que um simples guarda-chuva e um belo par de botas jamais seriam capazes de transpor todas as barreiras que no caminho encontrara. E ouviu Uma Voz e viu Uma Luz...bem audível aos seus ouvidos, bem vista aos seus olhos nus.
E ela soube porque caminhava, porque ali estava. E soube também...que em sua caminhada cheia de chuva, cheia de espinhos, não havia guarda-chuva, não haviam botas...
Havia A Voz, havia A Luz!