Os fantasmas do Parahyba Palace (Trecho de uma história em desenvolvimento)
Archidy Picado Filho & David Barbosa Jr.
Para a Morte, co-autora desta novela.
A festa tinha começado às vinte horas, mas ficara mais animada à meia noite, quando atrações principais subiram no palco montado em frente das ruínas do Parahyba Palace Hotel – construído há décadas na Praça do Ponto de Cem Réis, na cidade-capital da Paraíba.
Apesar de todo glamour de que outrora gozara, no Parahyba Palace dormiam agora apenas os fantasmas daqueles que, em diferentes momentos do tempo, quando a Vida lhes dera olhos a Suas luzes, tinham estado usufruindo o conforto de seus aposentos, entre outros fantasmas de outros que haviam vivido e morrido mesmo antes que o hotel fosse construído.
Lá fora, um facho de luz, lançado de um potente holofote, deslizava seu disco luminoso pelo chão da Praça, passeando ora sobre a multidão presente, ora sobre a desgastada fachada da imperiosa construção. E então, depois de ter de repente atravessado vidros quebrados, frestas de janelas e os muitos buracos onde antes existiam outras janelas do Parahyba Palace Hotel, a luz invadiu seus quartos e corredores fazendo desaparecerem de repente certas personas sombrias que por ali inadvertidamente transitavam naquela hora.
Lá fora, na Praça, munido de um potente microfone, alguém anunciou finalmente a presença do principal conjunto musical da noite, e aí, depois dos aplausos e dos gritos do público entusiasmado, também os ouvidos das paredes do Parahyba Palace Hotel começaram a captar o som eletronicamente amplificado do barulhento grupo musical que continuaria a animar o comício de um dos candidatos ao governo do Estado da Paraíba nas eleições próximas.
Com a vibração provocada pelo som dos baixos, da bateria, das guitarras e de modernos sintetizadores, as paredes do hotel perderam as últimas camadas de tinta que lhes restavam, e então o pó da madeira do teto, das portas, janelas e de velhos móveis carcomidos pelos cupins deles se desprenderam como uma neve seca, enquanto velhas enferrujadas dobradiças saltavam a fazerem se descolar delas pregos sem cabeça e parafusos remoídos.
A música, ou aquilo que agora se havia convencionado chamar o estrépito que provinha lá de fora, entrou pelos ouvidos espectrais dos fantasmas adormecidos sobre camas cobertas com lençóis empoeirados e logo faria movimentar outra vez os vapores que outrora animaram as personas de Anayde Beiriz, João Pessoa, João Dantas e Augusto dos Anjos, entre outros que, se ali realmente não haviam se hospedado em vida – sendo uns tantos considerados mais importantes ainda presentes em ditos “mundos espirituais”, lá conservados pela memória de historiadores e pela imaginação de artistas – mereceriam ter usufruído o glamour e o status que a fama do lugar obteve durante seu apogeu na cidadela paraibana.
Logo aquela música faria movimentar novamente certos vapores outrora a animar personas que, por muitas razões, se tornaram ilustres em vida e que, como a de Anayde Beiriz, João Pessoa, João Dantas e Augusto dos Anjos, pensavam estar ainda presentes na Vida, graças, como se disse aqui, a memória de historiadores e imaginação de artistas, sendo os tais personagens aqui citados um quarteto fantástico que daqui a pouco despertaria entre esquecimentos e futuras lembranças, embora ainda por muito tempo sem memória alguma de que estavam mortos ou quaisquer outras que lhes fizessem lembrar quem ou quando tinham sido.