Menino assobiador

Da primeira vez que falou, alguém gritou: "Pára com esse berreiro, garoto!"

Da segunda vez disse alguma coisa, e ouviu gritarem: "Vai pra escola e aprende a falar, moleque!"

Depois, toda vez que falava, ouvia dos outros:

"Que tá falando menino? Cala a boca que é muito criança!"

Então trocou palavras por assobio:

Logo de madrugada na ponta do bico, o assobio despertava com ele.

"Pára, que não ouço o galo cantar!" - a mãe no quarto.

E o papagaio, ciumento cordial, imitava no bico, tentando o assobio.

"Pára, que vai confundir o coitado" - a mãe na cozinha.

Ela dizia o tempo todo: "menino, pára que vai chamar as galinhas"

Mas o garoto não queria parar. No assobio, o cantar e o falar.

Se perguntar, ele respondia com assobio.

Se cantarem, ele, assobiante, a acompanhar.

Se pensar, nem pensar!

Que o ressabio confundia o assobio. "Menino pára com esse ruído que não ouço o leite a ferver!"

Mas que biquinho magoado é esse na boca do constante assobiador?

"Mas o assobio não era um pequeno vento com música?" - pensava o menino.

Vento pequeno traz tempestade.

E a mãe gritava tempestade:

"Menino, pára com isso e fala!"

Para quê, se assobiando falava melhor?

"Que algazarra! Sai já daqui!"

Então pegou desgosto, pegou assobio que ninguém gosta, e foi-se embora!

Encontra e se esconde na floresta.

De repente diferente, fica mágica quando ele assobia.

E assim descobre o encanto de ser ouvido e dançado.

Todos em festa na floresta, os galhos a dançar, dos ramos as folhas a cair, roçam de pontinha o chão verde, dão passinhos para ouvir melhor o conserto do assobio concertando o silêncio.

Os passarinhos sem ciúme rodopiam trinando, acompanhando o novo amigo trinador.

"Onde, o assobiador, dona?"

"Cadê aquele menino?"

"Onde será que se meteu?"

"Não volta mais, dona?"

"Ih, a floresta comeu! Será?"

"A calada dentro da casa e o menino longe dela"

"Ai, como dói esse sossego!"