E N C A N T A M E N T O
O movimento repetido das marés, no seu fluxo e refluxo, cavara um fosso no litoral e marcara a linha costeira que se ia modificando ao longo dos tempos.
O Navio regressava da longa viagem iniciada havia três vidas passadas e contadas.
A Tripulação não a reconheceu. Os mapas estavam desactualizados. Rumava a Nascente segundo a Tradição que a orientava. Nesse rumar dera incontáveis voltas ao Mundo e nunca aportara a lado nenhum.
Aves giravam voando em círculos sobre as velas rotas e gastas. Lançavam gritos estridentes que aterrorizavam a Tripulação habituada ao fragor das ondas e do vento mas vazio dos sons da Vida.
Montanhas verdejantes erguiam-se altaneiras no horizonte. Nas suas bases, praias rochosas não convidavam a uma aproximação.
Um desânimo crescente foi-se instalando nos membros da Tripulação, um a um.
As tarefas a realizar e já rotineiras, tornaram-se mais e mais enfadonhas e rapidamente, insuportáveis.
Nada a motivava.
A Tripulação estava cansada do Navio, do Mar, do Vento...
No Grande Livro da Tradição havia o Capítulo XI onde, em estrofes elegantes, os Antigos cantaram sobre Montanhas verdejantes com praias de areia branca a seus pés.
O Capitão do Navio, incitado pela sua Tripulação descontente, voltou a consultar o Grande Livro tentando perceber o porquê dessa diferença.
Nada encontrou.
Recolheram-se as velas esfarrapadas e lançou-se âncora. O Navio, cansado e doente, quedou-se na linha da rebentação, baloiçando.
A tarde chegou e com ela a noite.
Nuvens escuras formaram-se para lá das Montanhas e, com o escuro da noite, aproximaram-se cobrindo o Navio. Raios cruzaram os céus e ribombaram trovões. A Tripulação conhecia-as nascidas nos Mares e nunca nascidas nas Montanhas e encolheu-se amedrontada.
A noite foi insone para a Tripulação.
Uma claridade rósea apareceu para lá das Montanhas anunciando o dia.
Na quietude da madrugada, ergueu-se das águas uma voz melodiosa e cristalina, cantando uma melodia que logo foi secundada por um coro de vozes semelhantes.
A Tripulação, enfeitiçada com tal beleza, ergueu-se das rodilhas que eram o seu leito e foi até à amurada tentando vislumbrar na penumbra quem cantava.
E viu entre as ondas da rebentação, mulheres de longos cabelos e de braços erguidos que cantavam e rodopiavam ao som dessa melodia.
Uma alegria estonteante tomou posse da Tripulação.
Esquecendo toda a prudência, um a um foi saltando do Navio para as ondas, seguindo a melodia de encantar.
Os braços erguidos chamavam com movimentos e acenos.
Afoita, a Tripulação aproximou-se delas que tomando as suas mãos nas mãos imediatamente mergulharam levando-a para os Abismos profundos.
O Capitão, estupefacto, viu a Tripulação desaparecer nas águas revoltas e reconheceu então e tarde de mais, uma incursão das Sereias ao Reino dos Humanos...
O Navio nunca mais navegou.
Beijinhos,
O movimento repetido das marés, no seu fluxo e refluxo, cavara um fosso no litoral e marcara a linha costeira que se ia modificando ao longo dos tempos.
O Navio regressava da longa viagem iniciada havia três vidas passadas e contadas.
A Tripulação não a reconheceu. Os mapas estavam desactualizados. Rumava a Nascente segundo a Tradição que a orientava. Nesse rumar dera incontáveis voltas ao Mundo e nunca aportara a lado nenhum.
Aves giravam voando em círculos sobre as velas rotas e gastas. Lançavam gritos estridentes que aterrorizavam a Tripulação habituada ao fragor das ondas e do vento mas vazio dos sons da Vida.
Montanhas verdejantes erguiam-se altaneiras no horizonte. Nas suas bases, praias rochosas não convidavam a uma aproximação.
Um desânimo crescente foi-se instalando nos membros da Tripulação, um a um.
As tarefas a realizar e já rotineiras, tornaram-se mais e mais enfadonhas e rapidamente, insuportáveis.
Nada a motivava.
A Tripulação estava cansada do Navio, do Mar, do Vento...
No Grande Livro da Tradição havia o Capítulo XI onde, em estrofes elegantes, os Antigos cantaram sobre Montanhas verdejantes com praias de areia branca a seus pés.
O Capitão do Navio, incitado pela sua Tripulação descontente, voltou a consultar o Grande Livro tentando perceber o porquê dessa diferença.
Nada encontrou.
Recolheram-se as velas esfarrapadas e lançou-se âncora. O Navio, cansado e doente, quedou-se na linha da rebentação, baloiçando.
A tarde chegou e com ela a noite.
Nuvens escuras formaram-se para lá das Montanhas e, com o escuro da noite, aproximaram-se cobrindo o Navio. Raios cruzaram os céus e ribombaram trovões. A Tripulação conhecia-as nascidas nos Mares e nunca nascidas nas Montanhas e encolheu-se amedrontada.
A noite foi insone para a Tripulação.
Uma claridade rósea apareceu para lá das Montanhas anunciando o dia.
Na quietude da madrugada, ergueu-se das águas uma voz melodiosa e cristalina, cantando uma melodia que logo foi secundada por um coro de vozes semelhantes.
A Tripulação, enfeitiçada com tal beleza, ergueu-se das rodilhas que eram o seu leito e foi até à amurada tentando vislumbrar na penumbra quem cantava.
E viu entre as ondas da rebentação, mulheres de longos cabelos e de braços erguidos que cantavam e rodopiavam ao som dessa melodia.
Uma alegria estonteante tomou posse da Tripulação.
Esquecendo toda a prudência, um a um foi saltando do Navio para as ondas, seguindo a melodia de encantar.
Os braços erguidos chamavam com movimentos e acenos.
Afoita, a Tripulação aproximou-se delas que tomando as suas mãos nas mãos imediatamente mergulharam levando-a para os Abismos profundos.
O Capitão, estupefacto, viu a Tripulação desaparecer nas águas revoltas e reconheceu então e tarde de mais, uma incursão das Sereias ao Reino dos Humanos...
O Navio nunca mais navegou.
Beijinhos,