Analogias de um príncipe bêbado.

O príncipe está em maus lençóis, anda bebendo, anda sentindo falta do ‘felizes para sempre’. Tem desabafado com qualquer pensamento, com qualquer memória, com qualquer argumento. Mais uma vez desce ao porão do castelo, aos barris de hidromel. Adianta-se de uma pena e tinta, arranja um pedaço de espaço, para descrever seus desencontros com o real motivo de seus desenganos. Arrepende-se das brigas, palavras que sufocam o amor; apressa-se entre um gole e outro e escreve mais ou menos assim:

Querida,

Eu posso ser o seu último amor para sempre, mas não posso ser o último a saber o que você quer fazer hoje à tarde, ou pior, eu me sinto um monstro cruel que te prende num castelo assombrado por mim mesmo, e escuro pela falta de virtudes que não praticamos mais.. Eu já não passo horas falando com você. Eu morro, e você nem sabe, você nem sobrevive, nem chora, nem lamenta, acha outro modo de viver a vida, com um pouco mais de calma, e se distrai, e eu continuo, no frio do meu castelo; eu era o Príncipe, ah, ah, agora tenho medo de qualquer sapo, e você não se importa comigo, nunca mais poliu minha armadura, que de brilhante já não tem quase nada, arranhada a minha imagem, nosso elo de admiração está rompido, e há, há, há tantas frases engasgadas na boca do monstro que eu não acharia mal se ele engolisse todas e morresse junto com a princesa displicente e infeliz. Se renascêssemos de amor para um novo dia..

Mas antes que pudesse concluir para o bem ou para o mal, foi tomado de impaciente sono. Deitou-se em si mesmo, e dormiu do jeito que estava. Se pudesse fazer sua cama dentro do barril, assim o faria. Mas sua embriaguez já bastava, já tomou-lhe a tarde inteira. Hoje ele não acorda mais. Melancólico; mel alcoólico.

A princesa está na casa da mãe, tomara que demore. Princesa não gosta disso. Mas tomara que encontrem o ‘felizes para sempre’, semana que vem ou nas festas de fim de ano.

Drachir
Enviado por Drachir em 14/06/2010
Reeditado em 15/01/2012
Código do texto: T2318487
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