O vento traria os gritos (Prólogo) Parte 1
Por AbdiaSu
Essa história se passa numa vila assombrada, de tipografia enlameada e casas simples. Esta vila chama-se Pát’Aghônia.
Aqui Al’Manir seria gerado por Pát’aghoneses, que atacaram uma jovem de Villas’Serran, a plaga das contradições sociais. Villas’Serran, o paraíso para alguns e o inferno para todos.
A mulher pariu o feto, seis meses depois, denominando-o Al’Manir, mas ele ficaria conhecido como o lorde amaldiçoado e o famigerado exterminador de vidas humanas.
Al’Manir, o déspota esclarecido, estenderia seu reinado além de Villas’Serran, onde era quase um deus, adentrando os umbrais de Pát’Aghônia, a vila decadente do seu pai.
O tempo passa e Villas’Serran oprime Pát’Aghonia, que acreditava que Al’Donius, o deus das sombras, enviar-lhes-ia algum socorro. Suas preces são ouvidas, não Al’Donius, ele não se importaria, mas por uma força muito mais poderosa.
Num dia nublado, nos altos picos das montanhas, surgia um guerreiro escuro, de musculatura definida; sobressaindo o abdômen, com gomos arredondados e pescoço largo. Todo corpo esculpido e torneado por veias que pululavam incessantes. No momento que ele surge, um incauto pát’aghones se atreve a inquirir seu nome, ele responde qual trovejar de inverno: “Malditos, vocês chamar mim de... HEMILIAN’NUS!”.
Ao se apresentar, ele se dirige à vila, onde ganha roupas limpas, comida e uma esteira para dormir. E assim o faz, mesmo sob a mercê de pesadelos que molharam seu corpo com o suor frio. Ao amanhecer ele tem com o líder da vila, o ancião O’Tavius, que lhe narra os suplícios impostos por Al’Manir. Ao ouvir tal alcunha, seus olhos dilatam e ele diz furiosamente, puxando o velho:
__ Pra este cão mim trabalhou desde que roubado de casa. Mim escravo. Mim trabalhou em esgoto, mas mim fugiu. E agora velho você diz que ele é demônio que explora vocês? Oh! Até que enfim, Al’Donius escutou prece minha!
De repente, Hemilia’Nus levanta-se e abraça O’Tavius, partindo a seguir para Villas’Serran. O guerreiro quer vingar este povo miserável. Quer vingar este homem decrépito, mas acima de tudo ele quer vingança própria.
O guerreiro de ébano se encaminha para o interior de Villas’Serren. Caminha para os portões da mansão, onde grita o inimigo. Quando de súbito, uma silhueta aparece na sacada, com pequena toalha envolta na cintura. Após proferir ofensas, ele desce para a luta mortal. Al’Manir abre o portão e salta. Mas Hemilia’Nus é rápido e desfere-lhe poderoso soco. Al’Manir sangrando, cai atordoado. O gigante não cessa e chuta-o, arrancando-lhe quase todos os dentes. Indômito, salta com os cotovelos contra seu tórax, mas inesperadamente, o combate é interrompido:
Por entre o furor da batalha, quando a morte é presença certa, aparece por entre as folhas, um ser compacto de cabelo ondulado e muito bem vestido. Deslocando-se a frente, ele diz:
__ Hemilia’Nus, fera louca, demônio insaciável, tenha piedade do nosso irmão. Talvez ele não seja herói, todavia, não merece uma morte tão impiedosa.
Hemilia’Nus surpreso, fala furioso:
__ Se não tiver um motivo para interromper mim, você irá ter com Al’Manir, mas nas profundezas do inferno!
O pequeno engole seco e argumenta:
__ Gigante, outrora, eu fui próspero comerciante, mas Al”Manir descobriu-me e me pediu emprego. Não neguei, afinal, como empreendedor não desperdiço oportunidades. Porém, o maquiavélico levou-me a falência, deixando-me a função de lavar suas roupas e fazer sua comida. Fiquei deprimido, pensei em suicídio, mas, de súbito, fui tomado pelas garras da compreensão. O que me aconteceu, acontecia com todos que não despertaram para o seu papel neste universo. E este é levar a todos a boa nova do nosso criador. O senhor Abi’.
Hemilia’Nus, menos agressivo, interroga-o:
__ Criador? O que fala maldito, nosso criador não é o obscuro Al’Donius, o deus das sombras? Responde miserável!
Zurun’Gas disserta sobre o deus chamado Abi’Solutum Su Sama, o criador desta terra e de tudo que nela existe. O deus que é paz e harmonia. O deus bondoso e severo que coloca tudo no lugar. Nisso, Hemilia’Nus arrasta Al’Manir e se abraça a Zurun’Gas, para chorar ininterrupto. Assim, nuvens se abrem e o sol reaparece ofuscando a todos que habitavam nas sombras. Do solo brotavam flores e junto a um arco-íris, formavam um cenário magnífico, outrora, nunca sonhado. Do céu caia água perfumada, transformando aquele mundo numa promessa de uma nova era, donde tristezas seriam banidas e todos seriam direcionados aos vales da paz. E lá viveriam por pouco tempo, é verdade, pois tais acontecimentos tinham o rumo do efêmero, determinado pelas incertezas tenebrosas...
FIM