Lunna

Já são dez da noite, uma bela noite por sinal. Céu estrelado e uma linda lua cheia exposta de maneira única sobre minha janela. Um copo de vinho em minhas mãos adoçando o meu momento, acalmando os meus anseios e os meus pensamentos. Vou até a janela no objetivo de abri-la por completo, quase que um convite para que a lua entre, podendo assim, me fazer companhia e fazer do momento ainda mais perfeito. Olhando para o céu, algo chama minha atenção, vejo uma luz pousar em meio ao bosque que existe ao redor da minha casa, uma luz que eu jamais vira antes, um brilho mesclando luzes azuis, brancas e verdes. Olhei fixo naquele mesmo ponto por alguns minutos na esperança de vê-la novamente, mas isso não aconteceu. Intrigado, peguei minha lanterna, minha câmera fotográfica e fui até o ponto onde eu a vi cair. Caminhei lentamente sobre o bosque, tentando não fazer ruído algum e quanto mais eu caminhava, mais apareciam coisas estranhas. Em um certo ponto do caminho, a minha volta, percebi que haviam milhares de borboletas azuis e verdes florescentes, que pareciam dançar sobre o brilho da lua, que iluminava boa parte do bosque... Confesso que nunca vira algo tão bonito até então. Logo a frente existia um lago, onde eu podia ouvir ruídos, como se algo ou alguém estivesse tocando a água, então, me aproximei o máximo que pude, e eis então que tive uma enorme surpresa. Em meio ao lago, havia uma forte luz branca, que se movia de maneira graciosa, me aproximei e deparei-me com uma linda mulher, aparentemente com teu corpo seminu, coberto por uma espécie de véu branco, mantendo suas pernas e costas nuas. Cabelos louros, com algumas mechas em dourado que se destacavam sobre o brilho da lua. Ela dançava enquanto se banhava, parecia estar se exibindo para lua, numa dança sensual onde os teus pecados se desenhavam através daquele véu branco. Ela era linda e acho que até a lua se encantou com tal beleza, pois teu reflexo contornava todo o teu corpo, beijava cada traço, como se a estivesse observando e a apreciando. Algo mais em especial me chamou atenção, ela tinha em suas costas, uma espécie de tatuagem, traços feitos com algo parecido com tinta preta, que em contato com a luz da lua, brilhava como estrelas, como se eu pudesse ver o espaço em sua pele clara. De fato eu estava hipnotizado, fascinado com aquilo que eu presenciava. A maneira como a lua tocava o teu corpo, como as borboletas dançavam a tua volta... De fato eu estava encantado com tudo aquilo.

Sem perceber eu estava exposto a ela, tudo era tão convidativo que inconscientemente, fui me aproximando mais e mais, foi então que os nossos olhares se encontraram. Eu fiquei mudo e imóvel, o único som ali presente, era o do pulsar do meu coração, eu não queria assustá-la, menos ainda que ela fosse embora. Mantivemos os olhares por um bom tempo e para minha surpresa, ela com uma de suas mãos, num leve gesto, me convida para ainda mais perto. Eu estava fascinado, aquele olhar por sobre o véu, tão penetrante parecendo desvendar os meus segredos e beijar a minha alma, foi me conduzindo até ela e sem perceber eu estava com os meus pés sob a água e já entregue a ela. Eu não conseguia respirar e num gesto delicado, segurou as minhas mãos, deixando o véu cair sobre a água e deixando os teus pecados expostos a minha frente. Eu não conseguia mover um músculo do meu corpo, meu coração estava pulsante, eu não queria ter nenhuma atitude que a fizesse ir embora, estávamos rendidos sobre nossos olhares e sem que eu pudesse perceber, estávamos submersos e mesmo após me dar conta disso, eu não me senti ameaçado. O véu que a cobria foi ao teu encontro, ela nadava ao meu redor, sem desviar teu olhar do meu, numa dança suave, sedutora, encantadora... Eu podia sentir o véu tocar o meu rosto. Eu já estava tonto por falta de oxigênio e mesmo assim eu me mantive calmo, não conseguia desviar o olhar ou ter qualquer reação... Será que estou morrendo?

(Continua)

(Sujeito a mudanças)